quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Lenin, um olhar anarquista

 O QUE NÃO FAZER

Lenin é um pensador político subestimado. Ele, no entanto, criou toda uma forma de fazer e pensar sobre comunicação e política (no Que Fazer, principalmente) que até hoje é utilizada.

Como fazer uma análise de conjuntura, por exemplo. Primeiro, é preciso fazer uma análise da estrutura (da formação histórica e econômica das classes), onde se determinam as estratégias; para depois fazer uma análise de conjuntura (do conjunto das instituições naquele determinado momento, da superestrutura social), onde se escolhem as táticas. 

E a conjugação das táticas com a estratégia é a dialética da ação política. Lenin demonstra que a tática da frente ampla pela democracia, por exemplo, se conjuga com a estratégia socialista de um governo dos trabalhadores. A democracia é uma tática para ditadura do proletariado estratégico - defende o arquiteto da revolução no livro As duas táticas da Social-democracia.

Para cada estratégia, várias táticas são possíveis. Reforma agrária é estratégia, as táticas. agricultura familiar, a formação de sindicatos rurais, a aliança com agro negócios, etc. 

As estratégias devem ser visualizadas (escritas em cartazes e faixas); as táticas devem se tornar sonoras, 'palavras de ordem' para serem gritadas nas manifestações de rua, elas são comandos de ação coletiva. 

A ideia de partido extraparlamentar, que organiza os movimentos sociais e atua por dentro das organizações, também é de Lenin e até hoje é praticada pelo PT, PC do B e PSOL. Essa prática aparelhista (do partido se apropriar de uma organização) hoje é chamada de 'leninismo'. 

Em seu livro mais importante, O Estado e a Revolução, escrito antes de tomar o poder, Lenin nos deixa seu legado mais significativo. Na primeira parte, ele cria a ortodoxia marxista-leninista, argumentando simultaneamente contra a direita pragmática (a social-democracia menchevique, cuja a estratégia se resumia a chegar a um governo democrático de forças progressistas) e a extrema-esquerda idealista (o anarquismo cuja estratégia era chegar imediatamente a uma sociedade sem estado). Para ele, os mencheviques não tinha uma proposta histórica estrutural, só tinham tática imediata; e os anarquista, ao inverso, não tinham uma política realista apenas um objetivo final. 

Porém, apesar de combater os anarquistas, na segunda parte do livro, Lenin sonha com uma república em que os trabalhadores se organizem livremente, em que a polícia e o exército seriam substituídos pelo povo armado e que os sovietes seriam as organizações dos trabalhadores que substituiriam os três poderes burgueses. Uma verdadeira utopia anarquista. 

No entanto, nada foi escrito sobre como os bolcheviques se tornaram o único partido dentro dos sovietes. 

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