terça-feira, 21 de abril de 2020

armadilha


EU NÃO SOU A FAVOR DO BOLSONARO NEM CONTRA A DEMOCRACIA

Mas algumas verdades precisam ser ditas sobre a nomeação do IFRN

Sou a favor de concurso público para todos os cargos federais: superintendências estaduais da caixa e do BB, Ibama, Incra (entre tantas) e também das reitorias das universidades federais.

Para ser reitor, o candidato tinha que sair da sala de aula, ter projeto de pesquisa com artigos publicados em revistas científicas, além de experiência administrativa, de um plano de trabalho e de uma eleição – que teria um peso, mas não seria decisiva. Seria escolhido o melhor e não o mais popular ou comprometido com acordos internos.

Atualmente, a Lei nº 9.192, de 21 de dezembro de 1995, determina os reitores e vices são nomeados pelo presidente da República, a partir de uma lista tríplice. A decisão de organizar essa lista a partir de uma consulta e de chama-la de eleição tornou-se uma tradição adotada por várias instituições. As universidades federais não tem poder de decidir a forma pela qual se escolhem seus reitores. Seria necessária uma nova lei federal dando a cada instituição essa autonomia de escolha.

Também acho nocivo que os gestores públicos participem de partidos políticos, seja do PT ou PSL, e que a escolha seja feita por indicação, seja do executivo ou do legislativo. As instituições públicas não deveriam ser instrumentos dos grupos políticos. E as eleições como forma de escolha dos dirigentes das instituições, atendendo aos interesses internos (dos professores, alunos e funcionários) é contrária estruturalmente com o interesse público.

Na verdade, a democracia corporativa interna é incompatível com o interesse público. E isso não é uma opinião, mas uma constatação sociológica. A democracia interna do Congresso faz com que ele legisle em causa própria, a democracia interna do judiciário faz com ele se proteja corporativamente. A democratização interna das instituições acaba com a perspectiva de servir à sociedade. E as universidades não são uma exceção.

Dito isso é preciso dizer também que, apesar das limitações intelectuais do atual ministro da educação, o governo foi inteligente o suficiente para antecipar todos os movimentos de reação dos professores vitoriosos no pleito, as manifestações políticas de apoio e a saída de deixar a decisão nas mãos de um juiz – que deverá repetir que a lei permite a nomeação.

Antes do meu lixamento público, gostaria de declarar ainda que sou contra arbitrariedades e que compreendo o autoritarismo e a violência da nomeação de um político bolsonarista para uma instituição pública de ensino superior. Mas, é preciso dizer também se trata de uma armadilha bem pensada para desgastar a militância de esquerda perante à população. E que essa não consegue perceber.

sábado, 18 de abril de 2020

Ministro sinistro


Na óptica capitalista, pessoas jovens valem mais que as velhas não apenas por trabalharem gerando riquezas, mas também porque não recebem aposentadoria e consomem mais recursos do sistema de saúde. Deixando os mais velhos morrerem por falta leitos nas UTI ganha-se mais e gasta-se menos. É uma dupla vantagem econômica.
Ocorre que talvez os mais jovens, sendo mais fortes, tenham mais condições de resistir e viver; enquanto os mais velhos, principalmente aqueles mais pobres, sejam os mais vulneráveis. Ou ainda que os aposentados pagaram pelo serviço de saúde que precisam e os que ainda trabalham ainda não contribuíram o suficiente para terem mais direito do que os inativos. Ou quaisquer outros argumentos humanos ou políticos. Não importa para o governo federal.
E o novo ministro já mostrou a que veio. Ele prefere a óptica necropolítica do mercado. Graças a Deus, a escolha de quem vive e de quem morre não lhe compete.