segunda-feira, 25 de maio de 2020

a águia dourada


A LENDA DO RATO SALTADOR
Era uma vez um ratinho. Ele e seus amigos gostavam de passar as noites ouvindo os velhos ratos contando suas histórias. E a história favorita do ratinho era, de longe, a história das terras distantes, para além das altas montanhas. Tanto é que ele gostava dessa história que todas as noites, sonhava em ir viver nas terras distantes. Um dia, o ratinho disse para si mesmo:
- Eu simplesmente preciso ver essas terras distantes!
Naquela mesma manhã, partiu em sua jornada. Ele viajou quase o dia inteiro, parando apenas para descansar e comer. Até que chegou a um grande rio, largo e profundo, impossível de ser cruzado pelo pequeno ratinho.
- Oh, como eu nunca atravessar este rio? - disse para si mesmo. De trás dele, ele ouviu uma voz grave.
- Você não sabe nadar?
Ele olhou e viu um sapo tomando sol deitado em uma folha. - Nadar? O que é isso? - perguntou o rato.
O sapo pulou na água e começou a bater as pernas.
- Isto é a natação, idiota - disse o sapo.
- Agora, me diz por que você quer para atravessar o rio afinal?
- Eu tenho o sonho de viver nas terras distantes por muitas noites. Eu simplesmente preciso ver isso! - explicou o rato.
- Meu nome é Kambô - disse o sapo - e eu vou ajudá-lo. Vou te dar dois dons mágicos. O primeiro te fará capaz de dividir seus sentidos com os outros e o segundo passará minha capacidade de pular para você. Se agache e pule o mais longe que puder.
O rato pulou e sentiu uma sensação estranha nas pernas. Elas pareciam muito mais fortes do que antes e percebeu que ele tinha saltado mais longe do que ele já tinha conseguido antes.
- Obrigado, amigo! Que bom esse remédio que você deu para mim.
- Você vai experimentar muitas dificuldades em sua viagem, mas se você mantiver a esperança viva dentro de você, você vai chegar às terras distantes - disse Kambô - e eu dar-lhe um novo nome. Você agora será chamado de rato saltador.
E acenou, pulando de volta para dentro das suas plantas. Enquanto o rato saltador pulou para o outro lado do rio e seguiu viagem. Em sua mente, ele ainda podia ouvir palavras mágicas de Kambô: "Manter viva a esperança dentro de você ..." O rato saltador continuou andando até o anoitecer, e, em seguida, cavou um buraco e foi dormir. No dia seguinte, o rato chegou a uma pradaria. Ele estava caminhando quando viu uma pedra enorme pela frente. Ao se aproximar, ele viu que não era uma pedra, mas um grande búfalo deitado no chão.
- Meu amigo - disse o rato - por que você está deitado ai como se estivesse morrendo?
- Estou morrendo - disse o búfalo - eu bebi de um poço com água envenenada e eu perdi minha visão, não posso encontrar as águas frias a beber ou a erva-doce para comer. Estou aqui deitado esperando o fim.
- Eu sou rato saltador. Meu amigo Kambô me deu alguns poderes da medicina. Eu não sou tão forte como ele, mas vou ajudá-lo. Eu te nomeio “Os olhos de um rato”, passando par a você minha visão.
Mal o rato disse isso quando o búfalo levantou, olhou em volta e piscou os olhos de espanto. Ele bufou com a felicidade. Rato saltador ouviu isso, mas não podia mais vê-lo, pois ele tinha dado a vista e ficado cego.
- Como posso agradecer a você, meu pequeno amigo? - disse ‘Olhos de um rato’ - Este é um dom maravilhoso que você me deu. Em retribuição, vou levá-lo à beira da pradaria.
E o rato saltador subiu no búfalo e, desta forma, chegou à beira da pradaria. Quando eles chegaram, ‘Olhos de um rato’ disse:
- Eu sou uma criatura das pradarias, então eu devo parar por aqui. Meu amigo, como você vai fazer sobre as montanhas, se você não pode ver?"
- Não sei, mas tenho uma esperança viva dentro de mim.
Rato saltador deu adeus ao amigo ‘Olhos de um rato’ e, mesmo sem enxergar, tomou o caminho para as montanhas. E quando a noite caiu, ele sentiu frio e cavou um buraco para dormir.
Acordou com o sol já alto e saiu tateando o longo caminho até as montanhas, cheirando e, ocasionalmente, mordiscando gramíneas de pequeno porte. Repente, ele bateu em algo. Sentiu pele sob as patas pequenas. Ele cheirou e percebeu que tinha tropeçado em um lobo.
- Olá! Estou o rato saltador. Quem é você?
- Eu sou apenas um lobo.
- Por que você está sentado lá no meio do caminho? - perguntou o rato.
- Eu era uma vez uma criatura muito orgulho, com muito bom senso do olfato - suspirou o lobo - Porque fui muito orgulhoso, tive esse dom tirado. Eu aprendi a ser humilde, mas agora não posso cheiro para encontrar comida para comer. Eu certamente vou morrer.
O rato ficou triste com a história do lobo.
- Meu amigo Kambô me deu alguns poderes da medicina. Eu não sou tão forte como ele, mas vou ajudá-lo. Eu te nomeio “Nariz de um rato”, passando par a você meu olfato. E o lobo farejou o ar da montanha e uivou de alegria, dançando em círculo.
- Eu posso cheirar as árvores e as flores de novo!
E o rato saltador ouviu alegria do lobo, mas, infelizmente, não podia mais cheirar as árvores e flores, tinha dado o seu sentido ao amigo.
- Este é verdadeiramente um dom maravilhoso que você me deu - disse o ‘Nariz de um rato’ - Deixe-me retribuir. Suba em mim e te levo para as montanhas perto das terras distantes.
E o lobo levou o rato em suas costas até as altas montanhas, perto das terras distantes. Quando chegaram, lobo ajoelhou-se com cuidado para que o amigo pudesse descer e disse:
- Pequeno amigo, eu sou uma criatura das montanhas, por isso não posso ir em frente. Mas você ... como você vai seguir até as terras distantes, não sendo capaz de cheirar ou ver?
- Não sei, mas a esperança está viva dentro de mim.
Os dois disseram adeus, e nariz de um rato trote de volta para as montanhas.
- Estou aqui nas terras distantes - disse o rato - ouço o som das folhas das árvores, o sol aquece meu corpo, também sinto o vento ... Mas eu nunca vou ser como eu era. O que devo fazer?
E começou a chorar.
- Rato Saltador - ouviu uma voz grave.
- Kambô, é ... é você?"
- Sim, meu amigo, sou eu Kambô, o sapo mágico. Você tem sofrido muito em sua longa jornada e experimentou muitas dificuldades. Mas foi o seu coração generoso, sua generosidade, que ajudou a trazê-lo aqui. Você não tem nada a temer, meu pequeno amigo.
Em seguida, Kambô levou o rato à beira de um precipício e gritou:
- Pule, rato saltador, pule!
E o rato saltador pulou e sentiu que seu corpo se transformava. Suas patas esticaram e se tornaram poderosas. E logo ele estava sentindo o vento fluindo sobre ele e sob ele. Ele olhou e podia ver as montanhas lá embaixo. Ele respirou e sentiu o cheiro dos pinheiros e da terra.
E, de lá de baixo, ele ouviu o sapo:
- Eu Kambô, o sapo mágico, te dou um novo nome, rato saltador. Você agora será chamado de Águia Dourada ... e você vai viver nas terras distantes, voando livre para sempre.
Lenda das tribos indígenas das pradarias norte-americanas, em especial os Sioux ou Dakota. Os quatro animais (o rato, o lobo, o búfalo e a águia – com algumas variações em algumas tribos) eram tidos como totens (eram protetores de indivíduos tinham suas qualidades) e também representavam os pontos cardeais, formando uma mandala (o sapo está no centro). A narrativa oral era contada em rodas em volta das fogueiras, com uma mimese corporal específica que aludia aos animais e aos pontos cardeais.
Há duas interpretações tradicionais para a história.
A primeira acredita que ela representa a trajetória de uma pessoa através da vida. O rato é a criança. Se torna adolescente ao se tornar o rato saltador. O búfalo representa a maturidade; o coyote, a velhice; e a águia, a morte. A história seria uma celebração da história de vida de todos da comunidade, que nos ensina a aceitar as perdas e seguir em frente.
Há também uma interpretação xamânica que interpreta a história como uma jornada iniciática. Nessa interpretação, o rato representa o corpo do neófito; o búfalo-e-a-visão representa a mente; e o coyote-e-o-olfato representa o coração. O iniciado precisa dominar a mente o coração para alcançar o espírito, representado pela águia. O sapo é o xamã, coordenador do processo. Essa interpretação sugere de que se trata de um ritual de superação de provas e desafios.




Todos estão a falar 
Com medo de procurar
Seu sonho realizar
Um dia eu vou me encontrar.
Nas terras distantes, nas terras distantes;
Nas terras distantes, nas terras distantes.
Um sapo me entregou
Dois dons de grande valor
Um é de ser saltador
O outro é de dar o que sou
Nas terras distantes, nas terras distantes;
Nas terras distantes, nas terras distantes.
Fiz amizade com boi
Meus olhos a ele entreguei
Em troca desse favor
No lombo dele, eu montei
Nas terras distantes, nas terras distantes;
Nas terras distantes, nas terras distantes.
Quando do boi desgarrei,
Um cheiro forte encontrei,
Era um lobo-guará
Meu olfato a ele entreguei.
Nas terras distantes, nas terras distantes;
Nas terras distantes, nas terras distantes.
Nas terras distantes cheguei,
Meu sonho realizei
As perdas eu superei,
Na Águia me transformei.
E vivo nas terras distantes, vivo de modo constante
Livre a todo instante, vivo nas terras distantes.




[1] Em parceria com Ruan Diego Ventura Firmino. Ouça aqui.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

falso herói



Sérgio Moro autorizou e vazou uma escuta telefônica ilegal entre a presidenta Dilma e Lula. Também mandou prender o ex-presidente em conduta coercitiva sem notifica-lo e combinou com a Rede Globo para que a televisão transmitisse a prisão ao vivo em rede nacional.

Moro condenou o principal nome à disputa presidencial em um processo com provas materiais forjadas (o apartamento e o sítio) e com provas testemunhais, feitas pelos corruptores ativos contra os corrompidos passivos – o que equivale a condenar viciados através da delação dos traficantes. Muitos especialistas em direito, inclusive analistas internacionais, criticaram o processo e sua sentença. Moro nunca deu nenhuma resposta a essas críticas.

Com a prisão de Lula, Moro garantiu a eleição de Bolsonaro.

O juiz federal e o tribunal de segunda instância passaram por cima de todos prazos regimentais – uma condenação em ‘tempo recorde’. Mas nunca teve tempo para jugar os casos da Lava Jato do Paraná contra o PSDB, partido com que tinha relações familiares. Só teve tempo para inviabilizar o depoimento da principal testemunha do processo. Quando estava de férias em Portugal também conseguiu algum tempo, em domingo, para impedir a libertação de Lula por um juiz interino que estava de plantão.

Moro conversou sobre vir a ser ministro da justiça de Bolsonaro ainda durante a campanha de 2018, conforme a imprensa e o próprio presidente. Tal fato fere frontalmente o código penal brasileiro, no artigo 317: “Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.”

Agora, o presidente afirma (e o ministro nega) o compromisso de indicação para o Supremo Tribunal Federal – possivelmente em troca da utilização do Ministério da Justiça para abafar os crimes milicianos de seus filhos.

Sérgio Moro chegou a ser retratado como um herói na luta contra corrupção.