terça-feira, 29 de setembro de 2020

DUALIDADE DOS MUNDOS

IGBÁKETÁ: O Senhor das três cabaças1


Olodumaré, deus demiurgo, deu ao seu filho Oxalá a missão de criar o mundo. Um saco com três cabaças. A primeira cabaça continha as cinzas de Ododua, a mãe terra. A segunda tinha o pó das estrelas de Obatalá, o céu. E a terceira estava vazia.

Oxalá partiu em sua jornada para cumprir sua missão de manhã, quando ainda era uma criança, Oxaguiã, e se esqueceu de agradecer a seu pai e de honrar a memória de todos os seres, com sacrífcios e oferendas. Ao cair da noite, quando se transforma no ancião Oxalufan e se apoia em seu cajado mágico, o Paxoró; Oxalá chegou a porta do Orum, o mundo espiritual. Lá encontrou seu irmão Exú – que descontente com a falta de consideração fraterna, havia planejado em pegar uma peça no mais velho.

Tudo começa com a dádiva” - disse Exu da Porta do Céu.

- O que você deseja, Exu? - perguntou o ancião.

- Na verdade desejo partilhar com vocês as oferendas que recebo – disse Exu, materializando um prato de pipocas apimentadas e uma cabaça de água ardente em uma toalha vermelha e preta aos pés de Oxalá.

Oxalá havia caminhado o dia inteiro e estava faminto. Aceitou e comeu a pipoca oferecida por Exú sem perceber que ela estava fortemente temperado com pimenta de dendê. Quando a ardência se manifestou, Oxalá pediu água para Exú, que lhe deu a água ardente destilada do vinho de palma. Bêbado, o orixá caiu inconsciente e dormiu.

Exú, então, foi até o saco e retirou as três cabaças do saco da criação. Em seguida, misturou os pós negativo e positivo na cabaça vazia; sacudiu bem e soprou pelos quatro cantos do mundo, criando o Ayè, o mundo material.

Por isso, se diz que Oxalá é o senhor de Orum, o mundo espiritual; e que Exu é o senhor de Ayè, o mundo material.


1 Livre adaptação do mito compilado por Pierre Verger.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

vivendo e aprendendo a jogar

 


APRENDIZADO POR INTERAÇÃO


  1. Introdução

O que é uma interação? Max Weber foi o primeiro a definir ‘Interação Social’ como sendo uma Ação Social mútua e recíproca entre dois (ou mais) atores ou sujeitos. A interação é dita social não apenas por produzir significado, mas também por ser uma prática social e se inscrever num contexto que influencia as ações.

Muitos pensadores de ciências sociais utilizaram o conceito de Interação Social de diferentes formas: Parsons usou a interação social como cimento do funcionalismo sistêmico, Habermas a interpretou como ação comunicativa em condicionamento estrutural econômico e político, Goffman a utilizou como estratégia cognitiva; mas para todos ela representa uma troca imediata, de curto prazo.

Em oposição a noção de Interação Social, o termo ‘Relação Social’ aponta para trocas sociais recorrentes de longo prazo. As ‘relações sociais’ são políticas, religiosas, culturais. Em sociologia, as ‘relações’ são com atores coletivos e em contextos que partem da sociedade como um todo para entender o detalhe; enquanto, a antropologia, a psicologia social e outros olhares fazem o sentido oposto, vendo a sociedade como um conjunto de interações recorrentes e de relações consolidadas.

George Herbert Mead (1934) é o principal membro do interacionismo simbólico crítica às ideias de Skinner e ao comportamentalismo pedagógico. Ele considera a escola como um espaço protegido para o desenvolvimento do Self, a partir das interações entre o Eu e o Outro. Quando estabelecemos uma relação interpessoal com alguém, temos roteiros prontos que devem ser seguidos durante o processo.

Vygotsky e seus seguidores (VYGOTSKY, LURIA & LEONTIEV,1988) também levam em conta o condicionamento do meio externo combinado ao aspecto cognitivo, através da mediação da escola e do professor e das interações dos alunos entre si.

Sendo assim, tanto para ótica do interacionismo simbólico como para pedagogia socioconstrutivista, o objetivo principal da educação é aprender a se colocar no lugar dos outros - tanto no desenvolvimento pessoal intersubjetivo como na perspectiva intercultural. Essas abordagens, no entanto, são ainda muito mais propensas ao aspecto cognitivo do aprendizado do que sua contextualização na dura realidade comportamental.

Daí a necessidade de sugerir dos acréscimos. O fator tecnológico é ressaltado na categoria de “Modo de Interação” - desenvolvida por Pierre Levy (1993), em conformidade com o pensamento de outros autores – como veremos a seguir. E, mais adiante, destaca-se a Semiótica das Interações de Landoski (2014) – que permite que se associe a perspectiva estrutural à ótica fenomenológica ressaltando os ajustes (políticos e psicológicos) e os riscos emocionais da relação entre o Eu e o Outro.

  1. Aprender & ensinar – modos de interação

O que significa ensinar? Transmitir informações, treinar comportamento, desenvolver competências, orientar o aprendizado? Cada uma dessa definições pressupõe uma teoria pedagógica. ‘Treinar comportamentos’ corresponde ao ponto de vista do behaviorismo (um adestramento corporal baseado em prêmios e castigos), mas também ao pensamento crítico de Foucault e Bourdieu – que entendem o ensino tradicional como disciplina e adestramento do corpo e da mente. ‘Transmitir informações’ representa o ensino moderno baseado na memorização. ‘Tornar-se uma pessoa melhor’ ou ‘desenvolver diversas competências, inclusive artísticas’ são objetivos das abordagens construtivistas. Esses três momentos pedagógicos do ensinar (o tradicional, o moderno e o contemporâneo) podem ser vistos como reflexos de três modos históricos de interação e aprendizado (antes, durante e pós-escrita).

TABELA 1 – Ensino x Aprendizado

ENSINO

Tradicional

Moderno

Contemporâneo

Modo de interação

um-um

Um-muitos

Muitos-muitos,

Estrutura

Diálogo

Panóptico

rizoma, redes

Linguagem

Oral

Escrita

Audiovisual - Musical

Dimensão

Identidade local

Sujeito universal

Globalização, presencial a distância

Conteúdo

Expressão

Memorização

Interpretação

Prática social

Indisciplina selvagem

Disciplina obrigatória, sem foco, mecânica

Auto disciplina e foco de atenção de longo prazo

Tempo

Aqui e agora

história

Presente em movimento

Ação cognitiva

Trabalho artesanal

Treinamento e especialização

Criatividade e Sintaxe Holística

APRENDIZADO

Corporal

Abstrato

Afetivo

FONTE: Elaborado pelo próprio autor

E o que significa aprender? É a capacidade de se adaptar criativamente às interações de um sistema. Se adaptar criativamente significa ser resiliente, aceitando sem conformação aos estímulos positivos e negativos a que se é submetido.

Aprender, assim, seria como lidamos com três tipos de interações: as interações corporais, imediatas e concretas que ‘entram’ no observador distraído (pelo lado direito do cérebro); as interações mentais e abstratas processadas com esforço e concentração (pelo hemisfério esquerdo); e as interações musicais, audiovisuais ou híbridas, capazes de combinar os dois aspectos anteriores.

Além da dupla neuro-cognição lógico-simbólica, esse terceiro regime de aprendizado nos remete à música e ao audiovisual interativo por dois motivos: a semelhança estrutural de seus elementos e a necessidade de inteligência coletiva em sua produção em conjunto.

  1. Semiótica das interações

A teoria sócio semiótica de Eric Landowski (2014) é formada por quatro regimes distintos de interações: a) a programação ou operação (a interação sempre constante e contínua, um algoritmo objetivo); b) a manipulação ou estratégia (a interação inconstante e contínua em que a intencionalidade se superpõe ao causal, o efeito do narrado sobre o vivido, por exemplo); c) a interação de ajuste (constante e descontínua); e o fator imprevisível das interações (o aspecto inconstante e descontínuo). Cada regime corresponde a uma lógica semiótica distinta. A programação corresponde à regularidade. A manipulação é regida pela intencionalidade. O ajustamento funciona por sensibilidade. E o acidente corresponde à aleatoriedade.

No texto As interações mediadas pela tecnologia - Notas para uma Semiótica do Aprendizado (GOMES, 2020) aplica-se a teoria dos regimes de interação ao processo de ensino-aprendizado.

Landowski considera que os dois regimes de programação e manipulação não existem de forma independente, que estão sempre intricados um no outro, mas os distingue metodologicamente como modos de interpretar, como a combinação de um modelo estrutural determinista como uma abordagem fenomenológica da intencionalidade; do condicionamento social do comportamento corporal com o desenvolvimento da autonomia subjetiva dos atores. Em termos de educação, há a oposição de abordagens entre Skinner e a Nova Escola.

Essa duplicidade complementar das perspectivas comportamentais e cognitivas pode ser observada de vários modos no campo educacional. De modo geral, pode-se dizer que a estrutura escolar, o projeto pedagógico, o programa de disciplinas, as ementas, os planos de aula e os professores automatizados foram o aspecto regular, algorítmico; enquanto a motivação e curiosidade dos alunos formam o aspecto fenomenológico do aprendizado nesse modelo.

Além disso essa duplicidade de abordagens produz conceitos gêmeos: há duas regularidades, dois tipos de motivação, duas sensibilidades e até dois tipos acaso.

Tabela2 - Tipologia ideal das interações de Landowski


ESTRUTURA

FENÔMENO

REGULARIDADE

Causal ou Algoritmia

(Tempo contínuo)

Reprodução sócio cultural

(Tempo narrativo)

MOTIVAÇÃO

Aprender a aprender

Responsabilidade

Autoprogramação

Entusiasmo criativo

SENSIBILIDADE

Homem x Máquina

Cinestesia reativa

Homem x homem

Empatia afetiva

ACASO

Acidente programado

O aleatório ou sorte/azar

Acidente motivado

O ruído ou risco

Fonte: elaborado pelo autor

Então, chegou-se a esses oito tipos de interações ideais presentes no processo de ensino-aprendizagem: a regularidade causal; a reprodução cultural; a disciplina automatizada pela responsabilidade; o entusiasmo da criatividade; a interação cinestesica; a interatividade pessoal; a capacidade de perceber e corrigir os próprios erros; e, finalmente, a habilidade de viver a vida como uma aventura empoderante, de se qualificar através de riscos e superações, de se tornar protagonista da sua história em comunidade e de conquistar autonomia integrada à inteligência coletiva.

  1. Aprendizado existencial

A teoria dos regimes de interação é interessante para pensar as relações sociais do lado de dentro. Aqui a proposta é utilizada para pensar o aprendizado existencial e a relação pedagógica através das interações. Como e o que aprendemos.

TABELA 2 – Interações Pessoais


INTERAÇÕES REGULARES

INTERAÇÕES INTENCIONAIS

REGIME DE PROGRAMAÇÃO

O INCONSCIENTE

O CAPITAL SIMBÓLICO

REGIME DE MANIPULAÇÃO

CULPA E VERGONHA

MEDO

REGIME DE AJUSTE

SUJEIÇÃO

RESISTÊNCIA

REGIME DE RISCOS

A PERDA

O LUTO

FONTE: Elaborado pelo próprio autor

Do ponto de vista dos regimes de programação, o aprendizado existencial tem duas situações objetivas estruturais, que se alternam, mas que sempre permanecessem presentes: a) a aquisição de capital cultural; e b) o adestramento corporal, a inibição dos instintos e sentimentos formando o inconsciente. A dádiva (a herança cultural) e a dívida (o recalcamento do corpo e seus afetos).

A dádiva é o conhecimento, a aquisição de linguagem e sua memorização em esquemas cada vez mais abstratos e abrangentes. O saber para diminuir as incertezas, para controlar o ambiente, para encantar aos pares. E a dívida é formada na repetição para automatizar e otimizar ações de curto prazo. A transmissão do capital cultural e o treinamento/recalcamento corporal têm uma mediação primária na família, uma mediação escolar e uma mediação midiática, através de um ambiente formado por vários suportes comunicacionais. O aprendizado interacional do Eu através do Outro tem três campos para comparação (a família, a escola e a cultura/mídia). E é aqui (na definição analógica dos ganhos e perdas) que começa o regime de manipulação. A regime de manipulação duplica o de programação. A culpa e a vergonha são utilizadas para que os indivíduos se sintam 'em dívida' com o social e/ou grupal; e o medo de exclusão é um instrumento de coesão do coletivo frente ao imprevisível.

O homem nasce puro e é corrompido pela sociedade” – disse Rousseau. A socialização, no entanto, que corrompe o homem não é o programa escolar, mas sim o recalque do corpo, a depreciação cognitiva, a manipulação da inconsciência e o sequestro da motivação. Se há algo errado com o ser humano (e há), trata-se da existência do regime de manipulação.

  1. Manipulação e estratégias de motivação

Pode parecer cinismo falar de manipulação em se tratando de interações pedagógicas. A educação deve ensinar a cada um a pensar com independência e não a incutir intepretações. Mas, a verdade é que ainda existem táticas de manipulação de reforço (elogios e gratificação) e de pressão (a intimidação e a chantagem emocional). Geralmente, a manipulação através de reforços positivos é mais eficaz que a antiga de castigos e punições. Porém, sem o medo (de reprovação ou de uma avaliação negativa) e sem a vergonha/culpa (de não retribuir ao tempo investido em si por todos) o aprendizado raramente acontece.

As pedagogias construtivistas acreditam em uma educação sem medo baseada na responsabilidade; e as psicopedagogias cognitivo-comportamentais (Bandura, por exemplo) ressaltam o lado positivo do medo e da culpa no aprendizado automotivado. A manipulação sempre se justifica pela necessidade de atividades desagradáveis ao corpo (ficar muitas horas sentado, permanecer concentrado continuamente, adestramento caligráfico, disciplina em relação aos horários e às rotinas).

Reparem que os primeiros cinco estágios da pirâmide são de aprendizado passivo e os três últimos, de aprendizado ativo. Uma definição simples de construtivismo é justamente começar pela prática, incentivando pesquisas e comportamentos investigativos; e só, em um segundo momento, apresentando a teoria mastigadas através de audiovisuais ou esquemas didáticos. Esse expediente simples, a prática antes da teoria, garante a liberdade de aprendizado e de interpretação do mundo. Vygotsky resolve a questão da manipulação dizendo que o aprendizado deve partir de 'pseudo conceitos' do senso comum para os 'conceitos científicos'. O aprendizado é (ou deveria ser) um processo crítico de construção da realidade, não cabendo nenhum tipo de manipulação, doutrinação política e religiosa.

Ao invés de tentar manipular a programação, o professor mediador deve propor estratégias de aprendizado (jogos, desafios, campanhas) voltadas para motivação. Porém, só há manipulação porque há exclusão do conhecimento comum. A raiz de todas as manipulações é a existência de informações privilegiadas. Hoje vivemos em regime em que as ideias são engavetadas, em salas fechadas, em prédios-caixotes, em cidades formigueiros. A informação está escondida e supervalorizada. Há um jogo de poder constante pela crença em informações inacessíveis. 

Enquanto o segundo regime de interação (as formas de manipulação) emerge da disputa de poder e de capital simbólico, a interação por ajuste se refere à inibição do Eu e à antecipação das ações do Outro. O ajuste é a “auto-eco-organização” do sujeito, a autopoesis, a capacidade de reestruturação sintática do aprendizado, ampliação da autonomia em relação ao ambiente.

  1. Regime de ajustes

O ajustamento não representa a contextualização social do enunciador e do destinatário dos discursos, nem pode simplesmente ser reduzida à adaptação recíproca entre o eu e o outro. Ele também não corresponde ao conceito de ‘ação comunicativa’ de Habermas (uma vez que as racionalidades instrumental e estratégica se assemelham aos dois primeiros regimes de interação). É “a capacidade de sentir reciprocamente” (LANDOWSKI, 2014, 50). A guerra e a dança, entre outras atividades exigem que o eu antecipa as reações do outro são exemplos de processos envolvendo os três regimes de interação, com ênfase no ajustamento e de na sensibilidade.

Os ajustes são o resultado (e a superação) do que Vygostki chamou de “dissonância cognitiva” entre o saber e o ser. Imagine que alguém disse que você machista sob algum aspecto ou mesmo que você leu uma informação sobre qualquer coisa. Você sabe de alguma coisa superficialmente e em breve irá esquecer. No entanto, para tornar uma informação incorporada ao seu comportamento, você terá que memorizá-la no corpo. As dissonâncias entre 'o que se fala' (ou 'se pensa') e 'o que se é' (ou 'o que se faz') são típicas da educação tradicional baseada na memorização e na hipocrisia cultural, não percebendo as próprias ambiguidades nem a dos outros. Aliás, 'ser educado' se confunde com não apontar as contradições alheias.

O ajuste e o risco funcionam como regimes em que a programação algoritmia e a motivação manipulada passam por adequações. O regime de interação por ajustamento é constante e descontinuo. Estamos sempre sentindo, mas em intensidade e durações variadas. O regime de interação por acaso é descontínuo e inconstante, é o oposto completo da regularidade. E da forma como é apresentado sugere que os dois produzem um ao outro.

  1. Interações de Risco

A noção de 'sociedade de risco' (BECK; LASH; GIDENS, 1997) estabelece que nossa cultura promove o máximo de autonomia dos indivíduos. Desafiamos a morte (a grande descontinuidade constante) para nos tornarmos pessoas melhores.

Se fosse pensar o aleatório relacionado aos dois primeiros regimes de interação, diria que há o risco objetivo de morte e das perdas (ou de fim da regularidade); e o risco de não ser amado (e/ou de não ser manipulado). No de nossa aplicação ao aprendizado, o risco é o perigo de colapso de vida, a perda da confiança em si, a evasão escolar, a naturalização do subdesenvolvimento.

O controle de danos e o 'politicamente correto' diminuem os riscos do aprendizado, mas também a possibilidade de sua superação. Na verdade, 'aprender a perder' é parte importante da formação ética universal e é ensinado através de jogos em diferentes culturas. Porém, é sempre importante estabelecer os limites e as salvaguardas para garantir a segurança.

Atualmente, o aprendizado está se 'gamificando', isto é, tornando-se lúdico e competitivo. As antigas disciplinas estão se tornando 'narrativas seriadas ', em que cada aula é um episódio (representando um conteúdo específico) e um capítulo de um arco narrativo maior (correspondendo a um estágio de um conjunto de conteúdos cumulativos). As atividades, mais do que avaliatórias, são desafios para que o aluno assimile o conteúdo específico e avance em relação ao conjunto de conhecimentos sequenciais. A gamificação representa a inserção do risco controlado no aprendizado e é uma tendência contemporânea mundial propiciada pelas redes de computadores.


Referências bibliográficas

BOURDIEU. Pierre. PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Petrópolis: Vozes, 2014a.

BOURDIEU. Pierre. PASSERON, Jean-Claude. Os herdeiros: os estudantes e a cultura. Florianópolis: Editora da UFSC, 2014b.

DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Editora 34, 1998.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 36ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009

GOMES, Marcelo B. Em conflito - conhecimento e confrontação. Revista FAMECOS (Online). v.20, n.03; p.618-633. 2013. <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/12198/10788>.

_____ Imagem, palavra e música: mimese e diegesis em narrativas audiovisuais. Revista Estética. v.01, n. 18, art., 5 p.55 – 67,: 2019. <http://paineira.usp.br/estetica/Artigos/Jan_Jun_2019/Artigo05_Jan-Jun-2019>

LANDOWSKI, Eric. Interações Arriscadas. Tradução de Luiza Helena Oliveira da Silva. – São Paulo: Estação das Letras e Cores: Centro de Pesquisa Sociossemióticas, 2014.

LEVY, P. Tecnologias da Inteligência – o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.

MEAD, George Herbert. Mind, Self, and Society. Ed: Charles W. Morris. University of Chicago Press: 1934

VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone Edusp, 1988.


terça-feira, 8 de setembro de 2020

Ou vai ou fica

Éramos todos um, mas veio a genética e nos separou. Ganhamos corpos diferentes, cada um com sua cor, tamanho e detalhes variados.

Então, a religião nos desligou. Nossa consciência se apartou da fonte espiritual. Ficamos cegos e precisamos ter fé em crenças para manter a confiança. E as crenças se enraizaram nos corpos e as diferenças, então, cristalizaram.

A política nos dividiu por interesses e o dinheiro nos classificou segundo as necessidades. Juntos e misturados, vivemos em conflito permanente de posses e poderes.

E assim acordamos no mundo. Sabendo que um dia fomos um e que agora somos muitos; que a unidade está perdida na diversidade; que há uma luz escondida na pluralidade manifesta em uma guerra contínua de identidades parciais.

Há os que desejam verticalizar, voltando ao Eu comum; como também existem os que desejam ficar e multiplicar ainda mais os horizontes democráticos de Ser.

Eis aqui o motivo da guerra atual: uns querem voltar; outros, ficar. No entanto, não há motivo para briga, pois o destino deixará, tanto a um como ao outro, voltar e ficar, segundo sua vontade e a capacidade de seu querer.

Meu drama é minha indecisão.

Ficar significa deformar-me ainda mais, reencarnar fragmentado em diferentes bichos selvagens e habitar as profundezas brutais da matéria dura. Continuar colonizando a vida através da violência e do sofrimento, continuar aprendendo a agonia do tempo.

Voltar significa perder-me no esquecimento, queimar a consciência como combustível da luz estelar que clareia o mundo. Volta sem volta, liberdade e morte do espírito. Retorno ao indiferenciado, ao nada eterno dentro de cada infinito.