sexta-feira, 23 de novembro de 2018

O matador de dragões


Conta-se que na floresta negra do antigo reino da Cracóvia havia um dragão. E, em virtude de uma maldição, todos os finais de ano, o dragão exigia que a cidade lhe desse uma jovem virgem para sua ceia de Natal. Caso a jovem não fosse entregue, o dragão prometia incendiar a cidade e todas as casas da redondeza.

Com o passar dos anos, organizou-se um sorteio anual para a escolha da vítima, fazendo assim que uma vida pagasse por muitas. Até o ano em que a sorteada foi a princesa Cristina, filha única e herdeira do rei da Cracóvia. O rei quis fazer outro sorteio, mas Cristina disse que era sua responsabilidade como princesa: aceitar o resultado e se sacrificar, como exemplo.

Inconformado, o rei ofereceu uma recompensa para o cavaleiro que vencesse o dragão: seu trono e a mão de sua filha em casamento. Vários cavaleiros vieram de diferentes partes do mundo e enfrentaram o dragão, mas todos foram derrotados. 

Foi, então, que um pobre camponês de origem judaica, Bolshevaw, teve uma ideia: cobriu um barril de pólvora com a pele de uma de suas ovelhas, colocou-a em campo aberto e se escondeu por trás das matas. Levou consigo seu arco, flechas com pontas de pano e uma lamparina cheia e acesa. Quando o dragão foi devorar a falsa ovelha, engolindo o barril de pólvora, Bolshevaw explodiu a cabeça da fera com suas flechas em chamas.

E o pastor judeu, então, salvou a princesa Cristina, casou-se com ela, herdando o trono da Cracóvia e depois se transformando em Bolshevaw I, o primeiro imperador da Polônia.

domingo, 11 de novembro de 2018

A origem do Tai Chi Chuan



Para dinamizar o treinamento de seus filhos, na arte marcial do Kung Fu, no estilo espiritual da família Tang, o velho mandarim admitiu o filho de um de seus servos nas aulas que ministrava para seus dois filhos. Com passar do tempo, o filho do servo se desenvolveu mais do que os alunos principais, sendo excluído dos treinos.
O jovem servo começou então a treinar sozinho, observando as aulas escondido nas matas, e acabou se desenvolvendo ainda mais.
Após perceber seu erro e reintegrá-lo às aulas, o velho mandarim decidiu entregar ao servo sua espada no leito de morte (entregando na verdade seu Kung Fu, patrimônio espiritual da dinastia Tang).
Foi então que seus dois melhores amigos, os filhos legítimos do mandarim falecido, tornaram-se seus piores inimigos. Após derrota-los em combates mortais, o jovem servo fugiu, sendo caçado e desafiado por todos os jovens nobres da antiga China, uma vez que ele era o único servo que lutava Kun Fu. As artes marciais eram um privilégio dos nobres.
Buscou abrigo em um templo taoísta, na encosta das montanhas Wudang. Lá, meditando com os monges, aprofundou o contato com a espiritualidade e passou a se chamar Chang San Feng. Certo dia, em um passeio casual, observou a luta entre uma cobra e um grou, elaborando um novo estilo de movimentos alternados yin e Yang. 
Decidiu, então, voltar às cidades apesar dos incontáveis inimigos que o desafiavam, inclusive a justiça pela morte dos herdeiros Tang. Porém, para evitar mais mortes, o servo passou a desenvolver um estilo defensivo e a treinar e dar aulas em praças públicas, logo formando um grande público entre os que não tinham acesso às artes marciais. E, assim, o Tai chi chuan representa uma democratização de um saber exclusivo das elites chineses, reelaborado para defesa pessoal. [1]




[1] A história é lendária, como todas as muitas histórias envolvendo o mítico mestre Chang San Feng (ou Zhang Sanfeng) e os muitos textos taoístas a ele atribuídos - que muitos acreditam ter conquistado a imortalidade.  Historicamente comprovado, o criador do tai chi chuan como prática foi Chen Wangting.

sábado, 10 de novembro de 2018

UM NOVO EQUILÍBRIO DOS PODERES?


Acabou a Nova República, período histórico que começou com a morte do presidente Tancredo Neves, foi estruturado pela Assembleia Constituinte de 1988 e caraterizado pelo predomínio fisiológico do PMDB, encoberto pela disputa ideológica entre o PT e o PSDB.

A principal característica da Nova República foi o predomínio do poder legislativo sobre o executivo e o judiciário – através do dispositivo que permite, por maioria de 2/3, o Congresso legislar matérias constitucional e o presidencialismo de coalização (na verdade, o parlamentarismo disfarçado), com a indicação não apenas de ministros e de todos os cargos da administração federal direta e indireta.

Três pontos econômicos são exemplos desta transição: a reforma tributária, o orçamento da união e a política de crédito.

Novos Tributos

As três propostas de reforma tributária que o governo estuda não se excluem e são resultado de investigações antigas, visando a diminuição do número dos impostos. É provável que sejam combinadas em uma única proposta.

A federalização do ICMS e sua mudança de incidência da produção para o consumo (o IVA) vai encontrar uma séria resistência de todos governadores.

Também, os bancos não gostam da ideia do imposto sobre cheque para substituir a bitributação dos produtos (como IPI).

Também é preciso avisar ao Paulo Guedes que a reforma tributária só entrará em vigor em 2020, mesmo que venha em um pacote econômico à moda antiga.

Obras Públicas

O orçamento da união é a espinha vertebral da corrupção política brasileira, em torno do qual tudo orbita. Os orçamentos estaduais e municipais refletem e reproduzem essa mesma prática fisiológica em torno do planejamento estratégicos das verbas das obras públicas.

No início de novembro, o senador Eunício Oliveira chamou o futuro ministro da economia Paulo Guedes para discutir o orçamento. Guedes disse que não o faria, preferia fazer o próprio orçamento no começo do ano.

Pela lei tributária, não se pode propor gastos ou receitas dentro do mesmo exercício. Tanto orçamento quanto novos impostos precisam ser votados no ano anterior.

O orçamento da união era feito pelo ministério do planejamento e enviado para o congresso no presidencialismo anterior à constituinte. No parlamentarismo e no Brasil pós constituinte passou a ser feito pelo próprio congresso e o governo pode apenas liberar ou não a verba orçamentada. Nos dois casos, sempre houve muita corrupção para aprovar emendas específicas, prover aumentos salariais (como esse do judiciário), programar projetos de interesses regionais, privados ou do próprio estado.

Realmente assusta o fato do Guedes não saber de nada disso.

Dinheiro e juros

A aprovação do cadastro positivo e da lei do distrato; e a revisão da lei de falências - são três propostas dos próprios bancos para baixar os juros. Se o Paulo Guedes seguir realmente o modelo da escola de Chicago deveria abrir novas carteiras bancárias (chamando outros bancos internacionais) para aumentar o volume de capital, diminuir a dívida pública e assim baixar os juros através da competição de crédito. Mas é claro que ele não vai fazer isso, porque entraria em guerra com o capital financeiro nacional.


domingo, 4 de novembro de 2018

libertários e neoconservadores

A esquerda é culpada pela xenofobia porque coloca o nordeste contra o resto do país, contra seu próprio desenvolvimento?
A esquerda é culpada pelo racismo porque coloca os negros contra os brancos, importando a discriminação?
A esquerda é culpada pelo machismo porque coloca as mulheres contra os homens, destruindo a família em nome da liberdade sexual?
Não, esses comportamentos de ódio e exclusão (a xenofobia, o racismo e o machismo) sempre caracterizaram a direita.
Qual a novidade?
Hoje, “os negros saíram da senzala; as mulheres, da cozinha; e os homossexuais, do armário”. E não vão voltar. E, por outro lado, o patriarcalismo também não vai aceitar. Então, o conflito político pode transbordar culturalmente. Não dá para colocar a culpa na esquerda pela mudança de comportamento das pessoas e não dá para convencer a direita de que a resistência moral das elites é reacionária. Os conservadores consideram legítimo reinterpretar os novos comportamentos com velhos valores.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Escola sem Democracia?

Sou um professor de comunicação, mestrado e doutorado em sociologia. Minha forma de ver o mundo é ancorado no pensamento de Anthony Giddens (social democrata, membro do partido trabalhista britânico e elaborador da política de terceira via) e Manuel Castells (anarquista catalão, autonomista, que defende a auto organização em redes). 

Para a ideologia da direita, faço parte do 'marxismo cultural' (um eco-esquerdista que enfatiza as bandeiras identitárias); para o pensamento de esquerda, sou uma nova direita disfarçada (que diz que os termos 'direita' e 'esquerda' estão ultrapassados). 

É impossível dar aula e não falar sobre 'Marx', 'fascismo' e outros temas políticos. O professor deve ensinar a pensar com a liberdade de espírito crítico. No Brasil atual, as igrejas têm partido, o exército tem partido, os juízes tomam partido, mas a direita quer que o professor e as escolas sejam neutras. O projeto 'Escola sem partido' reduz a liberdade de cátedra à doutrinação.  

Segundo Edgar Morin, a doutrina é um sistema de ideias fechado; e a teoria, um sistema de ideias aberto. Doutrinação existe nas igrejas e nos quartéis. Na escola, existe pesquisa e debate sobre a realidade, transmissão crítica de conhecimento e de experiência de vida. A democracia é um método de viver institucionalizado pela escola. 

Difícil mudar isso.