quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Um novo público



A atualidade das histórias em quadrinhos no Brasil
Waldomiro Vergueiro

É indiscutível que, nos últimos anos, as histórias em quadrinhos passaram por diversas transformações no mundo ocidental, visando sua adaptação a uma nova realidade. O móvel de muitas dessas transformações esteve relacionado, em grande parte dos casos, a um novo entendimento sobre o papel dos quadrinhos na sociedade e à derrubada de antigos preconceitos, que preconizavam os produtos da linguagem gráfica seqüencial como prioritariamente direcionados ao público infanto-juvenil. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação eletrônicas representou o ápice de um processo de concorrência entre os diversos meios de comunicação de massa que se iniciou com o advento da televisão, em meados do século 20, fazendo com que as histórias em quadrinhos passassem a enfrentar uma diversidade de meios de entretenimento como nunca antes haviam enfrentado, freqüentemente saindo perdedoras no objetivo de prender a atenção de seu público. Assim, a indústria produtora de histórias em quadrinhos teve que buscar alternativas para responder de forma eficiente à concorrência desses meios de comunicação e informação, diversificando as características dos produtos que disponibilizava e redirecionando seus esforços de disseminação para públicos que pudessem se mostrar mais receptivos a seus produtos.

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quadrinhos e foucault

A  tese de Doutorado de Gêisa Fernandes D´Oliveira, pesquisadora do Observatório de Histórias em Quadrinhos, já está disponível em formato eletrônico na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP.

Defendida em 14 de janeiro de 2010, no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, sob minha orientação, a tese intitula-se Saberes enquadrados: histórias em quadrinhos e (re)construções identitárias. Nela, a autora analisa o processo de construção e reconstrução de identidades por meio das histórias em quadrinhos e a consolidação da imagem que a linguagem reivindica para si. Utiliza os fundamentos do método arqueológico/genealógico, desenvolvido por Michel Foucault, como uma via de aproximação do processo de construção cultural na sociedade. A hipótese sustentada é a de que as linguagens, como um todo, estão sujeitas a um duplo movimento de incorporação de aspectos da sociedade disciplinar e construção de novas realidades identitárias. Os resultados da pesquisa reforçam a necessidade de se lançar um novo olhar em relação às histórias em quadrinhos no contexto social de esmaecimento das fronteiras identitárias. É possível se perceber, por meio da linguagem, os novos papéis reservados à representação e à interação entre imagens e coisas, arte e produto.

O endereço para obtenção gratuíta da versão eletrônica (PDF) da tese é http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-22062010-164918/pt-br.php.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

30 milhões para audiovisual

O Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual, lança 10 editais inéditos para profissionais e estudantes do setor e amplia seu escopo de atuação. Será destinado um investimento total de R$ 30 milhões à execução dessas ações. O novo leque de atuação da SAv está integrado ao Fundo ProCultura de Incentivo à Inovação Audiovisual (FPIIA).

Todos os programas serão realizados com a valorização do desenvolvimento de processos criativos, não apenas de produtos, por meio de programas de qualificação e aprimoramento profissional, pesquisas, oficinas e workshops. São eles: ProCultura VideoDança, ProCultura Autor Roteirista, Laboratório ProCultura Sonhar TV,  ProCultura Inter/Curtas,  ProCultura UniverTV, ProCultura VideoClipe, ProCultura LOC Brasil, ProCultura Telefilmes de Invenção no Gênero,  ProCultura Curatori e Procultura Coletivos Criativos.

Guiados pela ideia de economia criativa, que entende que o maior patrimônio são as pessoas e suas habilidades para criar, os programas foram constituídos para ampliar o mercado e atingir segmentos antes não contemplados pelas políticas audiovisuais – como videolocadoras, universidades e curadores – e promove a interação do audiovisual com outras artes – como literatura, música, dança, por exemplo -, conquistando  assim novos talentos e novos públicos para a atividade audiovisual.

Segundo o Secretário do Audiovisual, Newton Cannito, “cabe ao setor público criar mecanismos que estimulem uma reorganização do nosso setor que promova a reunião dos novos talentos – com direitos patrimoniais garantidos – e o desenvolvimento de projetos capazes de se sustentar fora do protecionismo estatal de isenção fiscal”.

A SAv acredita que os artistas e produtores brasileiros estão em uma posição estratégica dentro do cenário contemporâneo das indústrias criativas. Neste sentido, o audiovisual precisa de ações que potencializem a convergência tecnológica e de linguagens como o cinema, a televisão, a produção radiofônica, o vídeo, a fotografia, a dança entre outros. Para isso, será preciso renovar práticas, desenvolver novas percepções éticas e estéticas e atentar para os hábitos culturais da população para dar conta das demandas simbólicas deste novo tempo.

Fundo ProCultura de Incentivo à Inovação Audiovisual

Faz parte do conjunto de oito fundos que integram o Fundo Nacional da Cultura. Ao todo serão investidos, até o final de novembro, R$ 300 milhões nas atividades culturais e artísticas do Brasil, sendo destinados R$ 30 milhões para o setor audiovisual.

Dentre as principais diretrizes do FPIIA estão atuar em gargalos existentes no setor; estimular novos modelos de negócios e formatos; aperfeiçoar a competência artística, técnica, gerencial e financeira das empresas brasileiras; incentivar o aperfeiçoamento na formação e os processos de intercâmbio; promover o acesso da população aos bens e serviços e aprimorar a preservação e a restauração da memória audiovisual.

O Fundo de Incentivo a Inovação está norteado por cinco linhas de apoio, sendo elas, Fomento à Produção Audiovisual e ao Desenvolvimento de Projetos e Processos Criativos; Organização e Distribuição de Conteúdos Audiovisuais; Pesquisa, Educação e Criação; Promoção e Acesso a Conteúdos Audiovisuais; e Infra-estrutura audiovisual.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Tempo e Ficção


 
Marcelo Bolshaw Gomes 

Vivemos em uma sociedade semelhante à descrita no filme Matrix, aprisionados por tubos químicos e hipnotizados por sistemas audiovisuais, sonhamos viver outra vida enquanto somos dominados por máquinas - em que as drogas e os meios de comunicação de massa (e agora a Internet) são, mais que sonhos alienantes da realidade, novos modos de sujeição e controle. Os (anti)heróis agora são os hackers e que, vivendo entre o real e o virtual, utilizam-se das redes de forma a burlar o poder e o controle que a sociedade exerce sobre os indivíduos. 

Aliás, o gênero literário conhecido como 'ficção científica' tornou-se um campo privilegiado de reflexão sobre as idéias de utopia, tempo e máquina. Costuma-se dividir o gênero em momentos a partir dos diferentes arranjos destes elementos. O primeiro momento (Julio Verne e H. G. Wells da 'Máquina do Tempo') sonhavam com uma utopia tecnológica do futuro como uma sociedade igualitária e justa mas desprovida de sentimento. Já o segundo momento vai projetar uma sociedade dominada pelas máquinas, em que o homem é oprimido e escravizado (Aldous Huxley, George Orwell). Nessa concepção, a humanidade e a verdade estão perdidas no passado. É as máquinas dominam os homens através de sua falta de memória. 

No primeiro momento, o tempo é era histórico, linear e contínuo; e os viajantes do tempo se maravilhavam com uma sociedade sem trabalho manual nem luta de classes econômicas. No segundo momento, o tempo será sincrônico, instantâneo, as máquinas utilizam-se do tempo da simultaneidade para dominar os homens através do esquecimento serão um tema recorrente. As máquinas aqui são os vilões da história e os roteiristas abusam dos flash-backs.  

Chamamos o primeiro de Tempo Progressivo (do presente para o futuro) e o segundo de Tempo Regressivo (do presente para o passado).

Mas filmes de ficção científica com o tema de retorno do futuro para o presente (como no Exterminador do Futuro) e com cyborgs, principalmente Blader Runner, abrem uma terceira etapa do gênero: o paradigma do paradoxo temporal e da fusão homem/máquina. Nele, encontramos tanto a compreensão de que a tecnologia tanto pode ser utilizada para o bem-estar ou para o controle quanto a mesma idéia de que a simulação virtual do futuro está mudando nossa atualidade, de que vivemos agora em um tempo contínuo e sincrônico, simultaneamente. A chave para o futuro está no presente e no uso que fazemos da tecnologia. É um terceiro momento, um tempo, simultaneamente, progressivo e regressivo. É o paradigma do filme De volta para o futuro.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Renaissance

Paris, 2054. A cidade é tomada por hologramas e telas de projeção, que emitem flashes e fazem barulhos publicitários. Bislane é uma bela mulher de 27 anos vinda do Leste Europeu, que encontra sua irmã Ilona, uma brilhante geneticista, em um bar. Inicialmente Bislane desconfia que Ilona foi ao local para provocá-la, mas se surpreende ao vê-la com Dimitri, um matador e traficante de drogas com quem Bislane possui uma história. Mais tarde, naquela mesma noite, Ilona é sequestrada quando se dirige ao trabalho. Karas, um policial rude que possui um passado negro, é designado pela corporação Avalon para investigar o sequestro. Só que ele está ocupado tentando desvendar outro sequestro, que teve um intenso tiroteio e chamou bastante a atenção da população.
 
O filme tem uma estética 'noir' e uma técnica de animação que combina desenho e fotografia.
 
O Projeto ANIMA, que encerra sua atividades este ano e vai voltar em março do ano que vem, exibe Renaissance hoje, dia 17/11 no auditório do Departamento de Geografia do CCHLA/UFRN, às 19 horas.
 
  • título original:Renaissance
  • gênero:Animação
  • duração:01 hs 45 min
  • ano de lançamento:2006
  • estúdio:Onyx Films / Millimages / Timefirm Limited / France 2 Cinéma / Backup Films / Centre National de la Cinématographie
  • distribuidora:Miramax Films / Europa Filmes
  • direção: Christian Volckman
  • roteiro:Alexandre de La Patellière e Mathieu Delaporte, baseado em adaptação de Jean-Bernard Pouy e Patrick Raynal
  • produção:Roch Lener, Aton Soumache e Alexis Vonarb
  • música:Nicholas Dodd
  • direção de arte:Pascal Valdes
  • edição:Pascal Tosi

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O que vai ser derrubado com o Machadão

Reportagem na integra sobre a demolição do estádio de futebol João Cláudio de Vasconcelos Machado , o Machadão. Essa reportagem foi apresentada com trabalho de conclusão de curso do jornalista Beto Leite e obteve nota máxima.

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E veja também, na Revista Catorze, a Revista K-Ótica e outros trabalhos sobre jornalismo em quadrinhos dos mesmo autores AQUI

Anime

A perspectiva dos animes na comunicação pós-moderna/2009


Por Jomara Maria da Silva Cardoso

O presente trabalho procura demonstrar a relevância do anime na contemporaneidade vivenciada, também chamada pós-moderna. Com base nos mangás – histórias em quadrinhos japonesas – os animes têm ocupado espaço respeitável na televisão e na internet, influenciando a mídia televisiva e online. A abordagem da animação nipônica percorre diversos temas, tais como o romance, o terror, a aventura, a ficção científica, a pornografia, entre outros; apresentando influências da modernidade e pós-modernidade. Neste contexto, buscaram-se referências que compreendam o anime como um meio de comunicação e formador de novas possibilidades de reflexão e conhecimento visual. A metodologia utilizada nesta investigação foi a da Pesquisa Bibliográfica, de acordo com os critérios de Azevedo e Souza (1995).
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a EBAL em 1950

Histórias em quadrinhos sobre a História do Brasil em 1950: A narrativa dos artistas da EBAL e outras editoras /2006




Por Alexandre Valença Alves Barbosa

Este trabalho procura fazer levantamentos sobre histórias em quadrinhos que narram fatos históricos, com ênfase nas histórias produzidas no Brasil na década de 50, principalmente aqueles produzidas pela editora EBAL. Uma analogia com outros países que produziram quadrinhos similares no mesmo período é apresentada no intuito de comparar as narrativas em cada um deles e no Brasil.

As narrativas são analisadas de forma separada, ou seja, o texto e as imagens que compõem a história em quadrinhos são primeiramente classificados e depois um paralelo é traçado para que se possa verificar a forma como artistas e roteiristas trabalhavam este gênero.

O estudo mostra como os artistas trabalhavam a informação histórica e como faziam sua adaptação para histórias em quadrinhos. Mostra também como esta narrativa de fatos históricos produzida no Brasil, na década de 50, foi influenciada e no que influenciou posteriormente.

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História & História em Quadrinhos:

A utilização das HQs como fonte histórica político-social /2002


Por Joatan Preis Dutra

A presente monografia propõe-se a descobrir e analisar as informações que estão incluídas nas Histórias em Quadrinhos, utilizando-as como fonte de pesquisa histórica político-social contemporânea.

Como as Histórias em Quadrinhos fazem parte da cultura indústrial, o contexto histórico e social do momento de sua criação fica presente, mesmo de maneira subjetiva, em suas histórias.

O método de pesquisa utilizado consiste na seleção de passagens e momentos de histórias publicadas, nas quais é possível fazer a leitura crítica dos seus significados, sempre comparando com o momento político-social referente ao período de sua edição. A ênfase deste estudo é dada aos Super-Heróis das comics norte-americanas, tendo ainda um capítulo destinado à um grupo em especial de heróis: os X-Men, no qual a abordagem de assuntos como racismo e preconceito é analisado no decorrer da década de 1960 até a de 1990.

Como é demonstrado neste estudo, as Histórias em Quadrinhos são uma ferramenta poderosa de propagação de idéias e princípios, como também reflexo do contexto histórico e social que as cercam, tornando-se uma fonte inesgotável de pesquisa.

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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Animação vista como arte


Contribuições da história da arte para a análise de animações

Cristiano Figueira Canguçu
Universidade Federal da Bahia

As discussões teóricas sobre as animações e, mais especificamente, sobre os desenhos animados, consistem geralmente em considerações derivadas das teorias do cinema ou da semiótica e da análise do discurso. Falta construir uma abordagem mais aprofundada da dimensão plástica de tais produtos que considere a relação entre os diferentes estilos visuais nas animações e os efeitos perceptivos aos quais se destinam. Para suprir esta lacuna, propõe-se os conceitos de história da arte de Heinrich Wölfflin como bons operadores de análise destes produtos.

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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Animatrix

Animatrix é uma coleção de 9 contos de curta-metragem sobre o mundo de Matrix, em parte escrito pelos irmãos Wachowski, os mesmo roteiristas da trilogia de filmes. Os contos são uma fusão de computação gráfica com o tradicional anime japonês. A série trata das histórias que antecedem Matrix, dos dias finais das últimas cidades da humanidade, da guerra contra as máquinas e da queda da espécie humana.

O Projeto ANIMA exibirá Animatrix dia 10/11, às 19:00 no auditório principal do Centro de Ciencias Humanas Letras e Artes/UFRN - o CONSECÃO, no último andar do prédio do CCHLA.

Ficha técnica
Título Original: The Animatrix
Título em Portugal: Animatrix
Ano de Lançamento: 2003
Idioma Original: Inglês/Japonês
Distribuição: Village Roadshow Pictures / Warner Bros. Pictures
Duração: 102 minutos
Classificação Etária: 14 anos
Gênero: Animação / Ficção Científica
Roteiro: Andy e Larry Wachowski
Direção: Andy e Larry Wachowski / Andy Jones / Mahiro Maeda / Shinichiro Watanabe / Yoshiaki Kawajuri / Takeshi Koike / Koji Morimoto / Peter Chung.
Produção: Michael Arias / Hiroaki Takeuchi / Eiko Tanaka

domingo, 7 de novembro de 2010

COMICON 2010

As histórias em quadrinhos, manifestação típica da cultura de massas, atingiram, ao longo de um pouco mais de um século, milhões de pessoas em diferentes culturas, transformando outras linguagens e se afirmando como fator de identidade para muitos grupos sociais.

Das artes plásticas ao cinema e à televisão, passando pelas complexas redes de comunicação estabelecidas pelo advento da internet, as histórias em quadrinhos ajudam a construir uma identidade cultural para o país.

No início dos anos 1990, o Rio de Janeiro foi palco de dois grandes eventos internacionais do gênero. Hoje, passados quase 20 anos, a cidade volta a sediar um evento internacional de quadrinhos, o Rio Comicon, que acontecerá entre os dias 9 e 14 de novembro de 2010 no Ponto Cultural Barão de Mauá – Estação Central da Leopoldina, construção de grande porte inaugurada em 6 de novembro de 1926. Ainda que o festival tenha o seu enfoque principal nas histórias em quadrinhos, ele tentará dar voz ao movimento de muitos representantes da arte pop que, através da incorporação da publicidade, de imagens televisivas, cinema e arte urbana, recusam a separação arte/vida.

O Rio Comicon 2010 é um evento formado por exposições nacionais e internacionais, palestras, debates, oficinas, ciclo de animação, documentários sobre quadrinhos, lançamentos, shows, mega-livraria de HQ, stands de produtos pop e espaços para artistas independentes.
Entre as novidades, a relação dos artistas brasileiros confirmados para a convenção: Angeli, Laerte, Ota, Rafael Coutinho, os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Ba, Rafael Grampá, Orlando Pedroso, Kako, Fido Nesti, Marcelo Lelis, Eloar Guazzelli e Lourenço Mutarelli – que recebe homenagem especial. Completa a lista o coletivo Quarto Mundo. A Rio Comicon 2010 vai ocupar a estação da Leopoldina entre os dias 09 e 14 de novembro. O site apresenta ainda informações sobre os encontros, debates, exposições e oficinas, além da biografia dos convidados, localização e um blog exclusivo. Link para redes sociais, informações para imprensa, vídeos e fotos sobre o universo HQ são outros serviços oferecidos.

Além de toda a agenda de atividades, o evento vai contar também com estandes de livrarias e produtos diversos da cultura pop, lançamentos editoriais e shows. Haverá ainda espaço para cosplay e action figure. A produção é da editora Casa 21, que traz o know how do Festival Internacional dos Quadrinhos (FIQ!) que acontece em Belo Horizonte desde 1999, sempre de dois em dois anos. Roberto Ribeiro, sócio da empresa, participou, também, da criação da Bienal Internacional dos Quadrinhos (no Rio, em 1991 e 1993; e em 1997 na capital mineira). Segundo ele, apesar da associação mais imediata com a San Diego Comic Con, a maior do gênero no mundo, a Rio Comicon vai focar no trabalho de autor, nos moldes da Napoli Comicon e da Comica, de Londres. “O termo ‘comicon’ ajuda no contato com os autores estrangeiros e põe o Rio no mapa dos eventos internacionais”, esclarece Roberto.

Pela liga estrangeira, aliás, já haviam confirmado presença os italianos Milo Manara – mestre dos quadrinhos eróticos – e o editor Claudio Curcio; os ingleses Kevin O’Neill (de “A liga extraordinária”), Melinda Gebbie (“Lost girls”) e o também editor Paul Gravett. François Boucq, Etienne Davodeau e Patrice Killofer representam a França. Confirmada, ainda, a participação do americano dos quadrinhos alternativos Jeff Newelt. Os argentinos Lucas Nine e Patricia Breccia fecham a lista.

A seleção comprova a grandiosidade do evento, que vai contar com palestras, debates, oficinas, desfile de cosplay, lançamentos e shows, além de livraria de quadrinhos e stands de produtos pop, montados na Estação da Leopoldina. Assim, a primeira edição do Rio Comicon assume ares de San Diego Comic Con, a maior do gênero no mundo. “Mas ao mesmo tempo, e a julgar pelos nomes que selecionamos, vamos seguir um viés mais autoral, nos moldes da Napoli Comicon – da qual, inclusive, Claudio Curcio é organizador – e da Comica, de Londres, idealizada por Paul Gravett”, esclarece Roberto Ribeiro, sócio da Casa 21. Ele, inclusive, é também responsável pelo Festival Internacional dos Quadrinhos (FIQ!) que acontece em Belo Horizonte desde 1999, sempre de dois em dois anos. Roberto ainda participou da criação da Bienal Internacional dos Quadrinhos (no Rio, em 1991 e 1993; e em 1997 na capital mineira). O Rio Comicon 2010 será patrocinado pela Oi.

Liga internacional
A desenhista inglesa Melinda Gebbie é a terceira confirmação internacional para o evento. Gebbie, que é casada com o lendário Alan Moore – com quem inclusive assina alguns trabalhos –, é um dos poucos nomes femininos de destaque nos quadrinhos. Sua série mais famosa, “Lost girls”, narra as descobertas sexuais de Wendy (de “Peter Pan”), Dorothy (“O mágico de Oz”) e Alice (“Alice no país das maravilhas”). Seu conterrâneo Paul Gravett é o editor responsável pelo lançamento de artistas que hoje são celebridades das HQ, entre eles, Neil Gaiman, Dave McKean, Bryan Talbot, Eddie Campbell e o próprio Alan Moore. Gravett é ainda colunista de quadrinhos, autor de livros e de documentários sobre HQ, além de organizador do Comica, o grande festival do Reino Unido.

O convite a Gravett faz parte da estratégia da Rio Comicon de promover o intercâmbio com eventos semelhantes realizados em outros países. Nesse mesmo sentido se dará a participação de Claudio Curcio, o teórico italiano responsável pela Napoli Comicon. Criador do projeto “Futuro anteriore”, dedicado à valorização de jovens talentos em quadrinhos, Curcio também administra a FactaManent, produtora cultural especializada em eventos de HQ.

Como não se faz um evento internacional de quadrinhos sem uma boa representação francesa, a Casa 21, orgulhosamente, anuncia as participações de François Boucq, Etienne Davodeau e Killofer. Boucq, apesar de não muito conhecido no Brasil, participou do corpo editorial de todas as principais revistas francesas, como “Pilote”, “Fluide Glacial” e “A Suivre”. Seu personagem mais famoso é o vendedor de seguros Jerome Moucherot, enquanto sua série mais conhecida, em parceria com o cineasta Jodorowsky, é o western “Bouncer”. Davodeau, um integrante da geração anos 90 assim como Boucq, começou no universo dos fanzines alternativos e hoje publica pela “Dargaud”, destacando sua principal característica que é a inserção do mundo real em sua obra. Já Killofer é um quadrinista ligado à contracultura francesa, além de fundador e líder do coletivo de quadrinhos independentes “L’Association”, que reúne os nomes quentes entre os alternativos (foi ali, por exemplo, que se lançou a autora de “Persépolis”, Marjane Satrapi).

Do lado de cá do Atlântico, a presença dos EUA está garantida com a participação do editor de quadrinhos alternativos Jeff Newelt, também conhecido como JAHFURRY. Especialista em webcomics e redes sociais, ele é também DJ e astro da música jamaicana nos Estados Unidos; publicitário, relações públicas da Samsung e agitador cultural do universo indie de Nova Iorque. Criou o coletivo de quadrinhos ACT-I-VATE e é editor das revistas independentes SMITH e Heeb. Desde 1990, é editor e conselheiro do célebre roteirista Harvey Pekar. Organizou o Comics Legal Defense Fund, que presta assistência jurídica para quadrinhistas independentes. Também é representante de talentosos nomes como Al Jaffe, Rick Veitch, Bryan Talbot, David Lloyd e Paul Pope. Seu projeto mais recente é o lançamento de uma graphic novel sobre os efeitos do furacão Katrina sobre a cena cultural de Nova Orleans.

Representando a turma desse lado da linha do Equador estão os argentinos Lucas Nine e Patricia Breccia. Os nomes deles podem não ser os mais conhecidos, mas os sobrenomes, certamente, sim. Lucas Nine é filho do grande ilustrador e artista plástico Carlos Nine. É o nome mais representativo da nova geração de HQ do país vizinho, colaborando atualmente com os jornais Clarin e La Nación. Patricia Breccia, por sua vez, é ‘cria’ de Alberto Breccia e segue a carreira do pai, com muito sucesso, ao lado dos irmãos Henrique e Cristina.

Mestres dos magos
No início de setembro, o Rio Comicon 2010 já havia confirmado a presença de Milo Manara e Kevin O’Neill no evento. Mestre dos quadrinhos eróticos, o italiano Milo Manara é autor da série de álbuns “Clic”, sobre um controle remoto que provoca orgasmos nas mulheres. O artista ainda adaptou para os quadrinhos alguns textos literários de Boccaccio e Jonathan Swift, além do “Kama Sutra”. Manara também é reconhecido por suas parcerias com os cineastas Federico Fellini (em storyboards e no álbum “Viagem a Tulum”) e Alejandro Jodorowsky nos álbuns históricos sobre os Bórgias. Já Kevin O’Neill está presente na mais conceituada revista inglesa de quadrinhos da atualidade, a 2000 AD. Ele é o principal parceiro de Alan Moore, com quem criou a série “A liga extraordinária” – a obra foi adaptada em 2003 para os cinemas com Sean Connery no elenco. Outra série conhecida de O’Neill no Brasil é Marshal Law, sátira dos super-herois e do governo americano dos anos 80.

Outras informações entre em contato com Renato Hermsdorff renato@belemcom.com.br, Priscilla Gonçalves priscilla@belemcom.com.br, ou ligue para (21) 3826 2490.



sábado, 6 de novembro de 2010

Quadrinhos na Educação Superior

A importância das Histórias em Quadrinhos para a Educação/2007

Por Mauro César Bandeira de Oliveira

O presente estudo discute a importância das histórias em quadrinhos para a educação e propõe a discussão a respeito do desenvolvimento de uma disciplina de Criação em Arte Seqüencial (história em quadrinhos, tiras, charges, cartoons, vinhetas) no currículo dos Cursos de graduação em Artes Visuais, Design e Comunicação.

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Superpoderes, malandros e heróis:

O discurso da identidade nacional nos quadrinhos brasileiros/2003

Por Bruno Fernandes Alves

Esta dissertação tem como objetivo analisar o herói presente na cultura midiática brasileira como uma representação do nosso caráter nacional, com ênfase nos super-heróis brasileiros das histórias em quadrinhos.

Como forma de combater a presença do quadrinho norte-americano no mercado brasileiro, duas estratégias foram utilizadas pelos artistas nacionais: a criação de personagens que buscavam um discurso de semelhança com o modelo original ou a utilização da paródia como recurso narrativo.
Em meio a esse discurso surge um personagem que almeja tornar-se um herói brasileiro épico, civilizatório. A estrutura narrativa do super-herói Solar, criado pelo quadrinista mineiro Wellington Srbek, é usada neste trabalho como uma metáfora do caminho da nação brasileira rumo à uma modernidade emancipatória que renega a carnavalização como identidade.

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O quadrinho invade a rede

Um estudo sobre as relações entre webcomics e quadrinho tradicional/2008

Por Vinícius Fernandes Lima Lopes

Este estudo pretende, a partir da observação do quadrinho multimídia ou interativo (que possui inserção de recursos hipermidiáticos tais como animação, sons...) e da apresentação da comparação de suas características com os aspectos básicos identificativos do gênero quadrinho, demonstrar que esta modalidade artística denominada quadrinho interativo corrompe as características basilares do gênero quadrinho, desvirtuando-o, de modo que não possa sequer ser classificado como quadrinho.
Para subsidiar tais discussões, recorre-se a obras de diversos autores e a observação empírica de diversas histórias em quadrinho online, estudando o desenvolvimento do gênero história em quadrinhos na Internet, traçando as relações de semelhança e diferença entre o quadrinho analógico impresso no suporte papel e o quadrinho online inserido sob o suporte tela do computador (webcomics) em diversos patamares.

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Do Mito à Marca:

A Trajetória do Super-Herói através do Século XX/2009


Por Felipe Antonio Muniz

As histórias em quadrinhos são produções culturais amplamente difundidas em todo o mundo e lidas por pessoas de todas as idades e diferentes nacionalidades. Essa arte faz o uso de símbolos e arquétipos criados pelo homem desde a pré-história, perpetuando-os através de registros em todos os tipos de artes. Durante o século XX, as tecnologias para a reprodução da arte e produção de mercadorias com símbolos alcançaram a forma que modernamente chamamos de licenciamento. Os estudos sobre marca e suas aplicações comerciais, iniciados no último século apontam para a força dos símbolos nas construções das marcas.

Capítulo 2 especialmente interessante para fãs dos quadrinhos.

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Watchmen Revisitado

 - Como este romance gráfico influenciou a Indústria dos Quadrinhos, iniciando uma Nova Era e rompendo paradigmas/2008


Por Maycon Batestin, José Ricardo e Daniel Calegario

O termo revisitar sugere uma nova abordagem, uma nova leitura sobre o objeto escolhido. Assim, pretende-se com este estudo abordar sob uma nova ótica a obra Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons, através de um foco mercadológico, analisando os elementos que a compõem – estéticos, psicológicos, sociais – e a sua importância para a reformulação da Indústria dos Quadrinhos, instituindo uma nova Era e sagrando-se como o romance gráfico mais importante do último século

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Neurociencias e Quadrinhos

As histórias em quadrinhos como informação imagética integrada ao ensino universitário/2006

Por Gazy Andraus

As histórias em quadrinhos são objetos visuais expressivos de comunicação e informação imprescindíveis ontologicamente, pois acompanham o processo cultural humano desde seus primórdios, impulsionadas pelas tecnologias que possibilitaram a sua reprodução. A mudança de paradigma científico, do clássico e cartesiano para o quântico, tem modificado a visão da interação entre o homem e a realidade, de uma objetividade pragmática para uma intersubjetividade probabilística, alinear, complexa e sistêmica.
Além disso, os estudos cognitivos através da tomografia computadorizada ampliaram os conhecimentos do aparato cerebral, estipulando uma mente neuroplástica cujo funcionamento triádico: cérebro central, pragmático; esquerdo, racional e direito, intuitivo, requer uma melhor interação proporcional.
Graças à tomografia computadorizada, já se sabe que as imagens são lidas como informação imagética pelo hemisfério direito do cérebro, enquanto que os fonemas pelo esquerdo. O ensino tradicional, porém, se apóia na física clássica, linear e fragmentada, com base na informação escrita científica, estimulando, portanto, o hemisfério esquerdo, em detrimento ao direito, ignorando as informações intersubjetivas, como os desenhos.

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Jornalismo em Quadrinhos:

Uma análise do uso da nona arte como suporte para narrativa jornalística/2003

Por Fabiano Messias da Silva e Rafael Baldo Guimarães

O trabalho trata da análise do uso das histórias em quadrinhos como suporte midiático na produção de reportagens. A pesquisa é importante por mostrar novas perspectivas em se fazer jornalismo, com o objetivo de mostrar quais as principais características dessa nova linguagem que surgiu no início da década de 1990 nos Estados Unidos. As principais referências para a nossa pesquisa são os autores norte-americanos Will Eisner e Scott McCloud no campo das histórias em quadrinhos, e o jornalista e escritor Tom Wolfe, idealizador do movimento que ficou conhecido como o "new journalism". Embora o Jornalismo em Quadrinhos pareça algo fora de contexto, a pesquisa aponta que não só é possível escrever reportagens na forma de quadrinhos como esta é uma linguagem nova e cheia de possibilidades a serem desenvolvidas no futuro.

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bibliografia de arte sequencial

AGUIAR, Pedro. O Paradigma Disney: a estrutura narrativa do cinema de animação industrial dos anos 1990. Trabalho de conclusão da disciplina Língua Portuguesa II do Curso de Comunicação Social. Rio de Janeiro: ECO/UFRJ, dezembro de 2002.
BARTHES, Roland; GREIMAS, A. J.; ECO, Umberto; e outros. Análise Estrutural da Narrativa. Petrópolis: Vozes, 2008.
BARRETO, João. A Jornada do Herói na trilogia O Senhor dos Anéis. Salvador: PET-COM/UFBA, 2005.
CAMPBELL, Joseph. O Herói de Mil Faces. São Paulo: Pensamento, 1995.
COELHO, Raquel. A Arte da Animação. Belo Horizonte: Formato Editoral, 2000.
EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Sequencial. Rio de Janeiro: Martins Fontes, Donwload < http://www.4shared.com/file/fOqG0Sdh/Will_Eisner_-_Quadrinhos_e_Art.html  >
EISNER, Will. Narrativas Gráficas. Devir, . Donwload < http://www.4shared.com/file/Njnzp4X9/Will_Eisner_-_Narrativas_Grafi.html  >
FIELD, Syd. Manual de Roteiro. São Paulo: Objetiva, 2001. Donwload< > < http://www.calameo.com/read/000075107b007792e9312  >
FRANCO, Edgar. HQTRÔNICAS São Paulo: Annablume, 2002.
GUIMARÃES, Edgard. O que é História em Quadrinhos Brasileira. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2008.
GROENSTEEN, Thierry. Histórias em Quadrinhos: essa desconhecida arte popular. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2009.
HALAS, Jonh; MANVEL, Ravel. A técnica de animação cinematográfica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/Embrafilme, 1979.
HERNANDEZ, Gilbert. BIRDLAND – uma aventura dos sentidos. São Paulo: Arte Sequencial, 2010.
JONES, Gerard. Homens do Amanhã. São Paulo: Conrad Editora, 2004.
JUNIOR, Gonçalo. Biblioteca dos Quadrinhos São Paulo: Opera Graphica, 2009.
JUNIOR, Gonçalo. A Guerra dos Gibis. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.
MAGALHÃES, Henrique. A Mutação radical dos fanzines. João Pessoa: Marca de Fantasia
McCLOUD, Scott. Desvendando os Quadrinhos M.Books, 2004 Donwload < http://www.4shared.com/file/z15FTKtf/Scott_Mccloud_-_Desvendando_Qu.html  >
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MORENO, Antonio. A Experiência Brasileira no Cinema de Animação. Rio de Janeiro, Artenova / Embrafilme, 1978.
NICOLAU, Marcos. Falas e balões. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2009.
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RAHDE, Maria Beatriz Furtado. IMAGEM – estética moderna & pós-moderna. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.
VOGLER Christopher A Jornada do Escritor, São Paulo: Nova Fronteira 2006. donwload < http://www.scribd.com/doc/38513156/Christopher-Vogler-A-Jornada-Do-Escritor2 >

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Watchmen e o Discurso Distópico

Níncia Cecília Ribas Borges Teixeira
Universidade Estadual do Centro-Oeste-UNICENTRO
(Guarapuava – PR)


Wyllian Eduardo de Souza Correa
Universidade Estadual do Centro-Oeste-UNICENTRO
(Guarapuava – PR)


RESUMO: Considerada pela crítica como a obra prima do quadrinho autoral, Watchmen, do inglês Alan Moore, circula por questões interdisciplinares em uma versão alternativa dos anos 80. O presente trabalho foca na construção interdiscursiva do argumento do “bem maior”, que serve de justificativa para a utilização de medidas extremas com a sociedade. Tal discurso presente no desfecho da História em Quadrinhos se configura como um projeto distópico, que ultrapassa pontos subjetivos em prol de uma coletividade totalitária, plausível diante das condições de produção da paranóia nuclear da Guerra Fria.

LEIA AQUI.


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

De Profundis

 
Com muita magia e um inebriante clima onírico, De Profundis narra a saga de um pescador cujo barco afunda no oceano, matando toda a tripulação. Menos o nosso herói, que é salvo por uma sereia e passa a explorar o universo submarino ao lado dela. Durante a jornada, o roteiro do galego Miguelanxo Prado (também diretor do filme) leva o espectador a um verdadeiro sonho submarino, repleto de metáforas, viagens surreais e interpretações em aberto que certamente renderão ótimas discussões pós-filme. Para pequenos e grandes.

Sem nenhum diálogo, recheado de poesia, e com uma trilha sonora que ajuda a embalar a fantasia proposta pelo roteiro, De Profundis também passa longe da parafernália tecnológica das produções atuais: sua realização demandou dez mil desenhos pintados a mão, e posteriormente animados através de técnicas tradicionais.

Indicado ao Prêmio Goya (o Oscar Espanhol) de Melhor Animação, De Profundis propõe um viagem poética e diferenciada para corações de todas as idades. E prova que nem só de Disney e Pixar vivem os grandes desenhos animados em longa-metragem
.
 De Profundis será exibido dia 03 de novembro, às 19 horas, no auditório C do CCHLA, na UFRN, dentro do Projeto ANIMA.
FICHA TÉCNICA
Diretor: Miguelanxo Prado
Elenco: - Animação -
Produção: Pancho Casal
Roteiro: Miguelanxo Prado
Trilha Sonora: Nani García
Duração: 80 min.
Ano: 2007
País: Portugal/ Espanha
Gênero: Animação
Cor: Colorido
Distribuidora: Europa Filmes
Estúdio: Continental Producciones / Desembarco Produccións / Zeppelin Filmes
Classificação: Livre.
 

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

o mago de Northampton

Alan Moore e Lost Girls
Marcelo Bolshaw Gomes1
Resumo: O presente artigo resume o conjunto trabalho do roteirista Alan Moore e pretende caracterizar o discurso erótico feminino, através da análise interpretativa da história em quadrinhos Lost Girls (2007).
O mago de Northampton
Que me desculpem Neil Gaiman e Frank Miller; mas o melhor roteirista de histórias em quadrinhos de todos os tempos – tanto em quantidade como em qualidade e diversidade – é mesmo Alan Moore, o bruxo de Northampton. Na verdade, ele é o grande responsável pela reinvenção do gênero, que passou a se chamar Grafic Novels. A partir de Moore, a importância de quem escreve as histórias passou a ser maior do que a de quem faz os desenhos.
Profissionalmente, não é um exagero dizer que Moore inventou sua própria história, trabalhando nas duas grandes editoras - DC Comics e Marvel Comics - e brigando com ambas por um sistema mais justo de reconhecimento e de remuneração de direitos autorais. Moore escreveu estórias sofisticadas tanto para heróis tradicionais e criados por outros autores (Batman2, Superman3, Monstro do Pântano4, entre outros5) como também criando narrativas completamente novas com seus próprios personagens.
Aliás, como também criando suas próprias estórias com personagens de outras narrativas, oriundos da literatura, como é o caso da Liga de Cavaleiros Extraordinários. No final do século XIX a rainha Vitória nomeia, para combater um perigoso inimigo, um gênio do crime que deseja conquistar o planeta uma legião de grandes nomes da época: Allan Quatermain (As Minas do Rei Salomão, de H. Rider Haggard), Mina Harker (Drácula, de Brain Stoker), Henry Jekyll e Edward Hyde (Dr. Jekyll e Mr. Hyde, de Robert Louis Stevenson), Rodney Skinner (O Homem Invisível, de H.G. Wells), Capitão Nemo (20.000 Léguas Submarinas, de Julio Verne), Dorian Gray (O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde), Tom Sawyer (As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain) e professor James Moriarty (The Final Problem, de Arthur Conan Doyle).
Mas, a adaptação da estória para o cinema (direção: Stephen Norrington e roteiro: James Robinson) foi um fracasso de crítica e de público. Motivo: os detalhes de época, as citações de outras narrativas, a disposição gráfico-visual da narrativa como um todo se perderam no tempo contínuo e linear da sétima arte. O próprio Moore detesta, declaradamente, a idéia de adaptarem suas obras para o cinema e nunca se envolveu nenhuma das produções.
O mesmo aconteceu com a adaptação de From Hell (Do Inferno, 2005a) para o cinema pelos Irmãos Hughes, em 2001, com participações de Johnny Depp, Heather Graham e Ian Holm. From Hell é um romance gráfico escrito por Alan Moore e ilustrado por Eddie Campbell que especula sobre a identidade e as motivações de Jack o Estripador.
Apesar de ser confessadamente um trabalho ficcional, Moore faz uma rigorosa investigação sobre todas as fontes do caso, não só para garantir plausibilidade e verossimilhança da narrativa, mas como uma forma de pesquisa e revisão das interpretações anteriores. From Hell apresenta mais de 40 páginas de informações e referências, indicando quais partes são baseadas na imaginação de Moore e quais são tiradas de fontes específicas. As opiniões de Moore sobre as informações referenciais também são listadas. Além disso, a verdadeira aula sobre a história e a arquitetura de Londres – bem como sobre a época e os costumes em que o Estripador fez suas vítimas. A obra é densa, cheia de camadas e imensamente detalhada; a edição em coletânea tem aproximadamente 570 páginas - que foram severamente amputadas pela versão cinematográfica. E, mesmo assim, o filme ficou monótono e complexo, sendo elogiado pela crítica, ignorado pelo público e detestado por Moore.
Em 2005, foi a vez de Constantine. Constantine é uma adaptação do personagem das histórias em quadrinhos John Constantine6, protagonista da revista Hellblazer, para o cinema, dirigido por Francis Lawrence. Embora possa ser considerado um sucesso de bilheteria, é muito criticado pelos fãs dos quadrinhos pela falta de fidelidade ao original. No filme, John Constantine (Keanu Reeves) é um ocultista e exorcista, que ajuda Angela Dodson (Rachel Weisz), uma policial cética, a investigar o misterioso suicídio de sua irmã gêmea, Isabel. O filme é inspirado numa história antiga de Hellblazer, Hábitos perigosos, em que Constantine descobre que têm câncer de pulmão e já em estado terminal. O mago então tenta bolar um plano para escapar da morte, lidando com demônios legais e anjos malvados.
E para desespero de Moore (e dos que compreende a especialidade das narrativas gráfico-visuais), também houve adaptações para cinema de dois dos principais trabalhos: V de Vingança (2006a)7 e Watchmen (2005)8.
V de Vingança (versão em português para V for Vendetta) é uma série desenhada por David Lloyd em preto e branco em 1983 e relançada em cores em 1988. A história, que se passa em um distópico futuro de 1997 no Reino Unido, conta a história de Ivi, salva da morte por um vigilante mascarado, conhecido apenas por ‘V’. À medida que Ivi descobre a verdade sobre o misterioso V, ela descobre também algumas verdades sobre si própria e assim emerge uma inesperada aliada no plano para trazer liberdade e justiça a uma sociedade marcada pela crueldade e corrupção.
Lançada em 1985, Watchmen tornou-se um extraordinário sucesso e é considerado um marco na evolução dos quadrinhos, introduzindo temas e linguagens antes utilizadas apenas por quadrinhos alternativos. O sucesso crítico e de público que a série teve ajudou a popularizar o formato conhecido como Graphic Novel, até então pouco explorado pelo mercado.
Na trama de Watchmen, situada nos EUA de 1985, existem superheróis mascarados reais. O país estaria em vias de declarar uma guerra nuclear contra a União Soviética. A estória envolve os episódios vividos por um grupo de super-heróis no passado e no presente e o misterioso assassinato de um deles. Watchmen retrata os super-heróis como indivíduos verossímeis, que enfrentam problemas éticos e psicológicos, lutando contra neuroses e defeitos. E com vários problemas de relacionamento entre eles. Pode-se dizer que Moore entrou assim na 3ª geração de grupos de heróis: primeiro na Liga da Justiça, ele dá profundidade psicológica e narrativas sofisticadas aos superheróis tradicionais; com a Liga dos Cavaleiros Extraordinária, amplia ainda mais a façanha, elegendo sua própria legião de heróis literários; com Watchmen, no entanto, Moore desconstrue a própria noção de superherói e de grupo de superheróis.
Nos últimos anos, Moore está trabalhando em várias séries, retomando alguns projetos inacabados (A Liga de Cavalheiros Extraordinários II e III e Supremo9) bem como começando outros (As Aventuras de Tom Strong10 e Promethea11).
Mas certamente o projeto mais incomum deste novo período de Moore é a série Lost Girls(2007), ilustrada por sua esposa, Melinda Gebbie. O lançamento nos EUA foi alvo dos críticos mais radicais e moralistas por causa do conteúdo sexual da história envolvendo personagens de livros infantis e até mesmo alguns lojistas recusaram-se a revendê-la com medo de represálias contra as cenas fortes envolvendo pedofilia, fetichismo e sexo grupal.
Erotismo Feminino
A série conta o inusitado encontro de três conhecidas personagens femininasWendy, de Peter Pan; Alice, de Alice no País das Maravilhas; e Dorothy, de O Mágico de Oz - todas adultas, mas com idades diferentes, em hotel austríaco no início da 1ª Guerra Mundial. Lá, elas confessam entre si as suas preferências e vivências sexuais.
No primeiro volume da série, Meninas Crescidas, as protagonistas se conhecem no hotel: Lady Alice Fairchild, aristocrata inglesa, escritora, rica, lésbica e viciada em ópio; srta. Dorothy Gale, jovem norte-americana, criada em uma fazenda no interior do Kansas; e a sra Wendy Potter, dona de casa, acompanhada de seu marido, um enfadonho engenheiro naval. Após vários jogos de sedução, as protagonistas contam, para se excitar mutuamente, como foram suas primeiras experiências sexuais.
Nos outros dois volumes da série, as narrativas sobre o passado das protagonistas continuam e se alternam. Após ser molestada por um amigo de seu pai (o coelho), Alice vai para um orfanato feminino, onde forma um harém (O Jardim de Flores Vivas) e é escolhida para adoção pela Sra Redman (a rainha de copas), que a vicia em ópio e a prostitui de diferentes modos. Alice, cansada da rotina de orgias e drogas, rebela-se e é internada em uma clínica psiquiátrica.
Dorothy conta suas aventuras rurais com os empregados da fazenda do Kansas: o espantalho, com a qual aprende a usar os homens (capítulo XIV); o leão covarde (capítulo XVIII), a quem ensina a ter confiança com as mulheres; e o homem de lata (capítulo XXIV), que a acorrenta e a faz masturbar um jumento enquanto faz sexo anal. Dorothy confessa ainda que transava com o próprio pai biológico, tendo sido expulsa da fazenda pela madrasta.
Wendy narra sua experiência sexual (e dos seus dois irmãos) com Peter, um garoto de rua; os ciúmes e a conquista da incestuosa irmã, Annabel; o medo e o fascínio exercido pelo capitão gancho, um odioso voyeur que prostituía e estuprava as crianças pobres do parque. As lembranças confessadas das três formam narrativas paralelas que desempenham então o mesmo papel das estórias eróticas do livro branco: excitá-las (e excitar-nos também) em suas orgias, cada vez mais obscenas e transgressoras.
No discurso erótico feminino, tudo é simétrico e regular (cada volume tem dez capítulos e cada capítulo tem oito páginas). A regularidade formal, no entanto, apenas enquadra o transbordamento erótico, um crescimento gradativo da obscenidade, em que novos elementos pervertidos e depravados são inseridos progressivamente, sem pressa, obedecendo a um ritmo lento e fatal, a uma cadência calma e inevitável. Como no Bolero de Ravel, ou na Sagração da Primavera de Stravinsky, explicitamente homenageada no capítulo X.
Certa vez uma amiga, também escritora e professora da arte de escrever, me disse: “a escritura masculina é semelhante ao seu desempenho sexual: um eterno introduzir com finais abruptos”. E ainda atribuía essa idéia (de que o corpo dos homens mimetiza o paradigma de máquina do motor a explosão) ao pensador Jean Baudrilard. “Veja este texto: há uma introdução histórica, uma sociológica, outra psicológica e depois vem logo a conclusão”.
Em contraponto, pode-se dizer que a escritura feminina é menos linear, ela não se baseia na lógica do ‘acumula, acumula e gasta’, mas no fluxo interrupto e progressivo do consumo. Em outras palavras: não enfatiza nem começo nem fim da narrativa, é um discurso circular ou elíptico que se inicia onde encerra sua enunciação.
O discurso erótico feminino, além de circular, é também reflexivo, tem prazer em se observar.
Em Lost Girls, a narrativa como começa e termina com o espelho de Alice. Aliás, a moldura do espelho enquadra os Capítulos I e XXX, sugerindo que toda narrativa é contada indiretamente pelos reflexos do Espelho. E há diversas menções a essa dupla representação em vários momentos da narrativa. Na sexta página do primeiro capítulo, por exemplo, quando Monsieur Rougeur comenta a qualidade da literatura erótica atribuída à Lady Fairchild, sob o codinome de Hippolyte.
- “De fato, como perito em tal literatura, posso dizer que nas suas nobres mãos, a ficção o próprio espelho da realidade ... onde memoráveis personagens idealizadas refletem nossas verdadeiras personalidades.”
Humm, estou lisonjeada, Monsieur Rougeur” – responde Alice – “embora não aprove sua concepção de ficção. Eu prefiro a concepção de Platão ... o ideal é a questão; o mundo além do espelho da ficção, esse é o mundo real ... e somos apenas a mais tênue das reflexões que empalidece sob o vidro.”
O Espelho está presente também no final, no capítulo XXX (O espelho: reprise & crescendo ou quem sonhou isso?), quando as três protagonistas finalmente vão fugir do hotel antes da chegada dos soldados alemães e Alice decide deixar o seu espelho. Compara-se o espelho à imaginação, que aprisiona e liberta, que será destruída pela violência dos homens.
Minha querida, coisas bonitas e originais podem ser destruídas. A beleza e a imaginação, não. Elas florescem até em tempos de guerra. Quanto ao meu espelho ... Eu outrora pensava que parte de mim estava presa nele, mas agora nós a resgatamos. Hoje ele é apenas uma estimada antiguidade. Deixe-me dizer adeus. Depois vamos embora.” (e beija o espelho)
De fato, os soldados alemães invadem o hotel e destroem o espelho de Alice e a narrativa (a imaginação) continua por mais três páginas completas sem o enquadramento da moldura, dando a entender que os autores preferiram não terminar a estória com ato de violência, mas sim com sua crítica dentro do enredo principal. A violência destrói apenas a representação duplicada.
Também há tripla representação ou dupla representação interna à narrativa através da presença de um livro branco de contos eróticos escrito anonimamente por Monsieur Rougeur (e assinado por diferentes autores, cujo estilo pretende imitar) do qual há um exemplar em cada quarto – semelhante à Bíblia.
Aliás, essa é uma das características clássicas do discurso erótico, a presença de breves estórias eróticas no interior da narrativa principal com o objetivo de excitar seus personagens, e, consequentemente, excitar os leitores finais em uma dupla pedagogia sexual. Nas histórias em quadrinhos, cuja linguagem permite o desenvolvimento de duas ou mais narrativas em paralelo ao mesmo tempo, esse recurso é particularmente possível. E Moore o explora bastante. No Capítulo III, Sombras Ausentes, enquanto Sra. Wendy Potter lê um conto – Vênus e Tannahauser – em que os personagens se masturbam com velas, gerando desejos inconfessáveis e fantasias visíveis através das sombras. Ou ainda, no Capítulo XXII, em que Monsieur Rougeur lê um conto erótico em que uma família completa (pai, mãe, filho e filha) faz sexo entre si, embalando uma verdadeira orgia entre os hospedes devassos do hotel. Ele, inclusive, enfatiza de que o livro trata de incestos imaginários, cuja função é apenas os de excitar seus leitores.
Além do livro branco, que aparece em vários capítulos, outro recurso erótico narrativo é o do contraponto entre texto e imagem, entre a voz que seduz e a imaginação seduzida. No Capítulo IV, enquanto Alice seduz Dorothy e a inicia no ópio, Wendy e o marido escutam o acontecido no quarto vizinho. E no capítulo seguinte, descobrimos o que aconteceu na imaginação de Wendy no outro quarto. Outra característica bem feminina de Lost Girls é o estilo Art Nouveau da ilustradora, uma “tolice caprichosa”, definida pelo Sr Potter na própria narrativa, oposta ao figurativo da perspectiva realista, surge também de forma decorativa, nos detalhes ilustrativos e no acabamento caro.
Tudo é tão decorado que é como viver dentro de uma pintura ou de um conto infantil ilustrado. Um desses contos onde tudo gira em círculos” – protesta novamente Potter (no Cap. 11, p. 08).
Mas, se há características diferenciadas para os discursos masculino e feminino, também há erotismos bem diferentes segundo o gênero. O erotismo masculino (presente nos trabalhos de Quadrinhos de Guido Crepax e Milo Manara, para citar os clássicos) é misógino e sádico. Se ‘poder’ é “a capacidade de impor sua vontade aos outros”. Pode-se dizer que há o poder de coação, em que a vontade é imposta através da força; o poder de persuasão, em que há o convencimento racional (incluindo aí a chantagem e o aliciamento por dinheiro e drogas); e o poder da sedução, em que o desejo domina o outro, submetendo-o.
No erotismo patriarcal, há um forte apelo pela submissão pela força; no erotismo feminino, é a sedução que força os sujeitos desejantes a realizarem a vontade do dominador. Mesmo quando há violência e submissão, elas são alegóricas e teatrais. “Você gosta que eu o obrigue” – sussurra o Capitão Rolf Bauer (amante de Dorothy) para sr. Potter (marido de Wendy), enquanto força gentilmente a penetração anal, no capítulo XIII, em que eles bebem e transam, inspirados por um conto do livro branco sobre o caso de Dorian Gray com Lord Henry Wooton. E, no capítulo XXIII, em que as três protagonistas torturam Monsieur Rougeur para que ele confesse a autoria dos contos do livro branco; tal violência é apenas uma encenação delicada da verdadeira submissão sexual imposta contra vontade. A operação, em que o prazer torturante substitui a dor física, se repete para fazer Dorothy confessar que transava com o pai, no capítulo XXVIII, O homem atrás da cortina.
Assim, é ao poder da sedução feminina que o erotismo de Lost Girls rende sua homenagem. E o que observamos é a excitação através da corrupção da inocência, do sentimento de vergonha, da lenta decomposição das resistências morais. No Capítulo XII, Sacudindo e despertando, Alice não apenas seduz, mas também corrompe moralmente Wendy com suas jóias, fazendo-a viver os sete pecados capitais descritos no livro branco. Alice também prostitui e vicia seus amantes, principalmente através do ópio e do láudano, minando-lhes o amor próprio e a dignidade.
O papel excitante da inocência pode ser visto em vários momentos e níveis do texto: os personagens saírem de fábulas infantis, nos primeiras experiências sexuais contadas pelas protagonistas, na sedução dos parceiros, mas, principalmente de forma perversa com o sr. Potter e com o marido da rainha-madrasta nas memórias de Alice, que são sucessivamente traídos e enganados com grande prazer.
A propósito, reza um enunciado erótico que o homossexualismo sáfico, a relação entre mulheres não-masculinizadas, é uma relação a três, incluindo ainda, além das amantes principais, um ‘voyeur invisível’ – um homem a quem as mulheres querem ferir e/ou excitar. E, afinadas aos protestos femininos a essa polêmica tese, há duas passagens em que a narrativa repreende veementemente o voyeurismo não autorizado.
O primeiro, no capítulo VI, Rainhas Unidas, onde Wendy observa Alice e Dorothy fazendo sexo oral recíproco a céu aberto. E o outro, no capítulo XXVII, quando a própria Wendy vence o próprio medo da violência, engolindo o Capitão Gancho (um voyeur assustador que prostituía as crianças pobres do parque) pela vagina como se fosse um crocodilo, quando esse ia lhe estuprar:
Eu ... eu mostrei minha boceta despida e perguntei se não achava que ela era muito cabeluda e muito velha para ele? Se meios seios não eram demais para alguém que preferia peitinhos achatados e bocetinhas lisinhas? Alguém que tinha pavor de mulheres adultas, e que pensava que seria subjugado e engolido por elas? Eu remexi meus quadris, abrindo minha vagina peluda com meus dedos, urrando para ele. ‘Crianças não sabem que você inadequado. Você pode fingir que ainda é jovem, como elas, e que o relógio não está fazendo tic-tac. É por isso que você fode as crianças e tinge seu cabelo. Você tem medo de mulheres. E medo de envelhecer.’”
O espelho (como fronteira entre o simbólico e o imaginário), o crocodilo castrador, a relação ambígua com o outro-masculino, ora temido e diabolizado, ora humilhado e enganado com prazer – há vários elementos de diálogo de Moore com Lacan. Mas, enquanto para Lacan, “a mulher não existe”, em Lost Girls quem não existe simbolicamente são os homens.
Contudo, além dos esquemas de gênero e dos modelos de transgressão sexual, há, na narrativa de Moore, momentos de erotismo puro e inexplicável, como no capítulo VII, O tornardo, o primeiro orgasmo de Dorothy, durante um ciclone em sua fazenda em Kansas City. Ou ainda no capítulo XX, Zás-trás, em que uma orgia das protagonistas se entrelaça à viagem de ópio, combinando o êxtase poético do texto aos delírios visuais da narrativa.
Lost Girls é um trabalho filosófico, artístico, mas, sobretudo, erótico. E de um erotismo semelhante ao dos filmes de Píer Paolo Pasolini, feminino e crítico ao poder patriarcal. E o que nos permite definir e caracterizar o Discurso Erótico Feminino é a sintaxe circular, as estórias eróticas dentro da estória erótica, a excitação com a inocência e com a ingenuidade, os ornamentos e detalhes visuais, a crítica à violência masculina. O orgasmo no sentido lacaniano de êxtase para além da linguagem surge em vários momentos apoteóticos. REFERENCIAS GRÁFICAS
MOORE, Alan. Watchmen. (Watchmen,1995) Desenho de Dave Gibbons. Tradução de Jotapê Martins. 4 volumes. São Paulo: Via Lettera Editora, 2005.
______ Do inferno (From Hell, 1989/1999). Desenho de Eddie Campbell. Tradução de Jotapê Martins. 4 volumes. 3ª edição. São Paulo: Via Lettera Editora, 2005a.
______ Grandes clássicos DC n. 09 - Alan Moore. (coletânea de estórias, diversos desenhistas). São Paulo: Panini Comics, Outubro de 2006.
______ V de Vingança. Desenhos de David Lloyd. São Paulo: Panini Comics, 2006a.
______ A saga do monstro do Pântano (The saga of the swamp thing, 1984). Desenhos de Steve Bissete e John Totleben, tradução Heitor Pitombo. Rio de Janeiro: Pixel Media, 2007.

______ Lost Girls. Ilustrado por Melinda Gebbie. Três volumes: Meninas Crescidas, A terra do Nunca e O grande e terrível. Tradução Marquito Maia. São Paulo: Top Self Produtions & Devir Livraria, 2007a.

 

NOTAS

1 Jornalista, doutor em Ciências Sociais e professor de Comunicação da UFRN.

2 Batman foi criado por Bob Kane. Moore escreveu duas estórias importantes do homem morcego: Barro mortal, desenho John Byrne, originalmente publicado na Batman Annual 11, julho de 1987 (2006, 232); e a importantíssima A piada mortal, desenho de Brian Bolland, originalmente publicado como Batman: the killing Joke, julho/1998 (2006, 256).

3 Superman foi criado por Jerry Siegel e Joe Shuster. Moore escreveu: Para o homem que tem tudo, desenhos de Dave Gibbons, originalmente publicado na Superman annual 11, janeiro de 1985 (2006, 9); A Linha da Selva, com desenhos de Rick Veitch, originalmente publicado na DC Comics Presents, n. 85 Setembro de 1985 (2006, 128); e O que aconteceu com o homem de aço? desenhos Curt Swan & Murphy Anderson, originalmente publicado na Superman 423 e 583, em setembro de 1986 (2006, 164).

4 Monstro do Pântano foi criado por Len Wein e Berni Wrightson. Moore assumiu a série em 1984, na edição #20 e, em oito números, transformou-a em um retumbante sucesso (MOORE, 2007).

5 Para o personagem do Arqueiro Verde, Moore escreveu uma estória dupla: Olimpíadas Noturnas, desenhos de Klaus Janson, originalmente publicado na Detctive Comics, # 549/550, abril e maio de 1985 (2006, 51). Para o Lanterna Verde, as mais importantes são: Mogo não comparece às reuniões, desenhos de Dave Gibbons, originalmente publicado na Green Lantern #188, maio de 1985 (2006, 66); Tigres, desenhos Kevin O’Neill, originalmente publicado na Tales of the green Lantern corps, Annual 2, dezembro de 1986 (2006, 152); Na noite mais densa, desenhos Billy Willinghan, originalmente publicado na Tales of the green Lantern corps, Annual 3, maio de 1987 (2006, 226). Moore também escreveu várias histórias para o personagem Spawn de Todd McFarlane.

6 John Constantine foi criado por Alan Moore, como um mero figurante da revista Monstro do Pântano, mas se popularizou rapidamente.

7 Em 2006, com Natalie Portman e Hugo Weaving, V for Vendetta foi adaptado para cinema pelos Irmãos Wachowski (roteiristas da trilogia Matrix).

8 E em 2009, dirigida por Zack Snyder, Watchmen foi adaptado.

9 Uma releitura satírica dos 50 anos estórias de Superman, com várias homenagens críticas, citações e analogias aos seus principais desenhistas e roteiristas. Desenhado por Chris Sprouse, Rick Veitch e outros, publicado por Image Comics/Awesome Entertainment, em 2003. A Editora Devir lançou os quatro fascículos (A Era de Ouro, A Era de Prata, A Era de Cobre e A Era Moderna) em português.

10 No mesmo estilo de homenagem satírica de Supreme, Tom Strong conta as aventuras de um science hero, inspirados nas histórias em quadrinhos pulps das décadas de 1920/1930. Incluindo também as séries derivadas da saga principal, há pelo menos dez volumes, desenhados por Chris Sprouse, Steve Moore, Art Adams e outros; e publicados pela DC Comics/Wildstorm/ABC, entre 1999 e 2006. Em português, apenas os dois principais (Um Século de Aventuras e No final dos tempos) foram publicados pela Devir.

11A estudante Sophie Bangs, investigando o mito de Promethea, uma espécie de heroína mística que se manifestou em diversas mulheres, acaba por se tornar a nova encarnação dessa guerreira mitológica. Desenhado por J.H. Williams III e outros, 1999-2005, 5 volumes, pela DC Comics/Wildstorm/ABC. No Brasil, apenas um fascículo foi lançado pela Pixel.