quinta-feira, 29 de junho de 2023

A revolução dos gatos

O tédio reinava naquele prisão. Os dias passavam e os presos fumavam suas vidas, morrendo preguiçosamente. O egoísmo era uma questão de sobrevivência.

Foi então que, ninguém sabe dizer como nem porque, surgiu um gato.

Um gato e todos se encantaram ou 'engataram', oferecendo petiscos e carinhos, em um festival de afeto e estima. O desenvolvimento da empatia e do cuidado com um outro ser vivo tornaram os presos pessoas melhores, mais gentis e generosas. 

Os humanos, com suas possessividades, logo se enciumaram e houve disputas pelo pertencimento do felino. E as disputas se tornaram brigas. Os que não gostavam do gato o acusaram como sendo a causa e o objeto do conflito. 

A direção do prisão, então, decidiu adotar vários gatos para que todos os presos pudessem desfrutar dos benefícios de sua companhia. O comportamento de autonomia e independência, de grupo sem macho alfa nem bodes expiatórios, característico dos felinos acabava sendo adotado pelos presos. 

O presídio tornou-se um paraíso felino para felicidade de uma parte dos presos, que se tornaram seus devotos. Acreditam se tratar de seres superiores, anjos, deuses e até alienígenas. Porém, havia também os que não gostavam dos gatos. Esses passaram a ser vistos como psicopatas, pessoas sem empatia. "Não gostam de gatos e os gatos não gostam deles porque não são boas pessoas". Por outro lado, os gatos também passaram a imitar o comportamento violento dos seus donos, tornando-se mais agressivos, disputando fêmeas, território e até mesmo a posse de seus 'donos'.

“Esses gatos são demônios na forma de bicho” - gritou o pastor. “Agentes da indisciplina e da rebeldia indolente” - acusava o carcereiro sádico, que não conseguia mais ser obedecido.

E vários dos que não gostavam daquela democracia felina e de sua liberdade emocional que ignoravam ordens verticais e hierarquia impostas, se sentiram autorizados a matar os bichinhos.

A chacina foi barulhenta e durou apenas uma noite. Houve brigas e mortes humanas. Depois da morte do último gato, o silêncio gritou de dor. 

E o tédio retornou aquela prisão, com seus presos morrendo sozinhos, entregues às próprias dores.

domingo, 4 de junho de 2023

Florestan Fernandes: O Mestre


 Florestan Fernandes: O Mestre - Documentário de Roberto Stefanelli.