sexta-feira, 28 de julho de 2017

Entrevista Biográfica


OS HERMENEUTAS:


Hermenêutica e Comunicação


kambô

Fragmentos da Complexidade


O Espelho de Oxum


Interpretando Nélson Rodrigues

OS PERGAMINHOS DE AMPHIPOLIS

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Adão e Eva

Nos primórdios da história da terra, havia um casal de macacos, Adão e Eva, que viviam felizes, brincando inocentes, em uma floresta daqueles tempos: cheia de árvores frutíferas, plantas e seres encantados. A floresta era vizinha de um grande sertão, deserto e misterioso, semelhante a esse que hoje conhecemos.

No meio daquele sertão arcaico, havia um pé de jurema preta, aonde se escondia uma serpente, que se alimentava dos mamíferos comedores de insetos, que se aproximavam da árvore. E quando a seca chega, já viu, fica tudo seco e só a jurema tem água. Tudo gira em torno dela – para beneficio da cobra, que como guardiã da árvore, devorava todos que se aproximavam de sua sombra.

Na mesma jurema preta também morava uma coruja, que, para se proteger dos gaviões, fez seu ninho entre os galhos cheios de espinhos. A coruja se alimentava dos insetos que viviam na árvore e também era guardiã da árvore, mas do seu aspecto espiritual. Juntas, as duas guardiãs da árvore sagrada guardavam o segredo da consciência do bem e do mal – desconhecido então de todos os outros animais.

Certo dia, Adão e Eva saíram da floresta em busca de aventuras e chegaram ao centro do grande sertão, onde ficava a jurema preta e encontraram a serpente e a coruja.

- “Eu sou a guardiã da consciência do mal” – disse então a serpente – “se vocês descerem até aqui, vou lhes ensinar sobre o Tempo e sobre a Morte”.

- “Eu sou a guardiã da consciência do bem” – disse depois a coruja – “se vocês comerem desta árvore, lhes darei um mistério chamado Liberdade”.

Adão teve medo da morte e quis desistir, mas Eva, que era mais inteligente, ficou curiosa sobre a liberdade. Então, o desejo de saber venceu o medo de mudar e eles acabaram comendo da árvore, e se transformando em homem e mulher . Assim, eles não puderam voltar à floresta encantada e tiveram que viver no sertão para sempre, Adão com vergonha e Eva com culpa, lembrando do paraíso perdido.

A arte do conflito


A Arca de Noé

No sertão, os homens, filhos de Adão, apesar das terríveis doenças invocadas pelos animais, não se arrependeram de seus atos e seguiram em sua história de destruição da terra e de maldade consigo mesmo. Um dia, um homem, de nome Noé, dormiu e sonhou com a árvore do bem e do mal, a jurema preta no centro do grande sertão. No sonho, havia uma escada por dentro da árvore que subia para o céu e descia até o inferno, com dez andares diferentes em que viviam diferentes criaturas. Noé foi subindo, subindo pela árvore como se ela fosse uma escada. Os andares eram como se fossem galhos da árvore e salões de um grande palácio ao mesmo tempo. Primeiro, Noé encontrou os demônios dos quatro elementos: Belzebu da terra, Asmodeu do ar, Satã da água e Satanás do fogo. Depois encontrou os arcanjos cardeais: Ariel do norte, Rafael do oeste, Gabriel do sul e Miguel do leste. Até que no nono galho da árvore sagrada, na ante-sala do salão principal do palácio, Noé encontrou Enoch, sentado no trono que um dia foi do príncipe Lúcifer.

- Olá, Noé! – disse o Guardião do Limiar.

- Você me conhece?

- Sim, eu sou Enoch, seu primo, que subi aos céus interiores e estou sentado Nono Trono do Universo, à direita da Luz Eterna, a porta para o Nada Infinito. Quando cheguei aqui, o lugar estava vago e eu acabei ficando com medo de cruzar a última porta e desaparecer para sempre.

- E eu, o que estou fazendo aqui?

- Você está aqui porque vai haver um grande dilúvio e toda terra ficará inundada. E para que haja sobreviventes, você vai ter que construir uma grande arca de madeira com as juremas-pretas daqui, com dez compartimentos grandes, com essa árvore do sonho e coloque um casal de animais mágicos em cada um – disse Enoch, acrescentando - Mas, não deixe, em hipótese alguma, que os animais confinados se alimentem da madeira da arca porque ela se transformará em uma nave espacial e vocês poderão viajar sem retorno por muitos universos paralelos. Enoch, então, enumerou os animais mágicos que eram necessários e como fazer para chamá-los. E quando Noé acordou do sonho no meio do juremal, começou a providenciar a Arca e os animais para enfrentar o dilúvio.

Arqueologia Política


Moises

Durante o grande dilúvio, a arca de Nóe navegou a deriva durante 40 dias e 40 noites. Nela, os dez casais de animais mágicos eram alimentados por Noé e seus filhos. Todos os dias, ele lembrava da recomendação a todos de que ninguém poderia comer da madeira da arca, sob pena de não voltarem ao mundo após o dilúvio. E como tudo que é proibido, tem um sabor especial; alguém as alimentou da madeira e desencadeou uma viagem transdimencional da arca por vários mundos durante 40 anos. Alguns homens conseguiram se salvar. Algum tempo depois das águas baixarem, um garoto chamado Moises foi brincar perto do juremal do sertão habitado pelos seres humanos e encontrou uma pequena arca de madeira talhada. “Um navio de brinquedo” pensou. Noé finalmente tinha conseguido chegar, mas todos os viajantes da Arca haviam encolhido.

Moises resolveu levar a Arca consigo, “mas antes preciso limpa-la”. E como ela estivesse bem acabada, ele acabou com uma farta no dedo, fazendo com o espírito da Árvore do Bem e do Mal penetrasse em sua alma e ele entrasse em transe profundo. Moises fez então uma viagem semelhante ao sonho de Noé, subindo pelos dez estágios da árvore e conhecendo seus habitantes, os animais aprisionados na Arca. E, quando chegou à décima porta, Moises viu a Luz, sentiu seu silêncio e perguntou:

- Quem é você?

- Eu sou aquele que é – respondeu Jeovah - Eu sou eu e sou um grande vazio. Sou a Luz Eterna, única e universal, por isso, não tenha outros deuses senão Eu. Sou a Força sem Forma, por isso não faças imagens de mim, nem invoque meu nome em vão. 

- Sou a Bondade e a Disciplina, santifica o sétimo dia e honra teu pai e tua mãe. Eu sou o Amor e por mim não matarás. Eu sou a Beleza e por mim não trairás. Eu sou o Saber que não pode ser furtado. Eu sou a Vida, pela qual não darás falso testemunho contra o teu próximo. Eu sou o Poder para o qual não há cobiça - concluiu. 

Moises ouviu tudo aquilo e entendeu que a arca era a morada daquele espírito, que cada um de seus dez compartimentos representa uma lei para os que desejam subir através da Arvore do Conhecimento do Bem e do Mal. E quando acordou no sonho fantástico induzido pela jurema, Moises correu para mostrar aos outros, sua arca e suas dez leis.

Teoria dos Jogos a Contrapelo


Davi e Salomão


Certo dia, príncipe Salomão pediu ao seu pai, o rei Davi, um exemplo simples da inter-relação de todas as coisas. O rei sábio esperou o anoitecer e levou o príncipe a um salão térreo do grande Templo, cujas paredes, o teto e o chão estavam inteiramente cobertos por espelhos. Davi, então, acendeu uma vela no centro do aposento e a luz da chama se refletiu até o infinito. Depois mostrou a Salomão um diamante e perguntou o que ele via refletido em uma de suas faces.

- Cada mínima parcela da diversidade do universo é um reflexo particular da unidade que engloba todas as coisas - explicou o rei sábio.

- O Um no Todo, o Todo no Um: Um no um, Todo em todos - recitou o jovem, feliz por afinal ter entendido o significado da frase.

- Tenha calma, príncipe! Hoje você entendeu o que é o infinito. Para compreender a eternidade é necessário subir os nove pisos do Templo até onde está guardada a arca de nossos ancestrais - disse Davi, acrescentando - porque os reflexos fixos da luz da vela são incapazes de representar o movimento perpétuo e multidimensional do universo.

- E o diamante? Qual seu significado? – perguntou Salomão.

- Da mesma forma que, em cima há o céu, embaixo há a terra. Há o Templo e a Arca. Os mundos estão uns dentro dos outros, como as cascas de uma cebola – explicou o rei pastor, continuando - O homem se reencontra no universo olhando para dentro de si.

- Não entendi nada – reclamou Salomão – Não somos apenas um bicho mais inteligente entre outros bichos?

- Não, Salomão, nós somos as testemunhas através dos quais a Árvore da Vida adquire consciência de si – continuou o rei Davi - através de nossos olhos o universo se percebe a si mesmo. Somos seres percebedores. Ou fomos ...

- Não somos mais? – indagou o príncipe curioso.

- Na Arca está o livro com a história de nossos antepassados. Você conhece as estórias: como Adão e Eva perderam o acesso à Árvore da Vida por provar da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, como Noé se perdeu nos tempos e como Moisés redescobriu o caminho de retorno ao sagrado ...

- Mas, como iremos voltar à Árvore da Vida e à Floresta Encantada se ainda estamos prisioneiros da maldição da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal? – questionou Salomão, indignado - Porque veneramos a Arca da Aliança se estamos presos para sempre dentro dela?

- “Para sempre” não – corrigiu o rei Davi – até o fim dos tempos, quando a Arca se transformar em uma cidade celestial e quando o espírito da verdade que habita no Sol retornar ao trono de nossos corações.

- O “retorno do Messias” – zombou Salomão.

- Neste dia – concluiu o rei - o nosso corpo será nosso templo, puro como esse diamante. E poderemos voltar a viver na floresta a céu aberto.

terça-feira, 25 de julho de 2017

O QUE TRANSMITO DO QUE ME DISSERAM


Mentir para dizer a verdade


Lenda de Ogum


Conta uma lenda que ao chegar a cidade de Ifé, Ogum ficou furioso. Ele falava com as pessoas, mas ninguém o respondia. Isto aconteceu sucessivas vezes, e sempre que se dirigia a um morador da aldeia só tinha silêncio. Ele achou que as pessoas da aldeia estavam zombando dele e num ato de fúria usou seu poder e matou a todos que ele pensava estarem o humilhando.

Um dia ao passar por outra aldeia ele contou a um ancião o ocorrido e este lhe disse que na aldeia por onde Ogum passara as pessoas, naquela época do ano, faziam um voto de silêncio por alguns dias.

Ao saber de seu engano, Ogum ficou envergonhado e enfurecido. E empunhando sua espada contra si mesmo, como um guerreiro desonrado disposto a acabar com a própria vida, gritou; "Ogunhê!" Então, o chão se abriu o rei-guerreiro se tornou um Orixá do ferro, protetor dos mais fracos e todos aqueles que sofrem injustiças e perseguições.

A cultura como dupla mediação social


segunda-feira, 24 de julho de 2017

TALVEZ


Há um conto Taoísta sobre um velho fazendeiro que trabalhou em seu campo por muitos anos. Um dia seu cavalo fugiu. Ao saber da notícia, seus vizinhos vieram visitá-lo.
 
"Que má sorte!" eles disseram solidariamente.
 
"Talvez," o fazendeiro calmamente replicou. 

Na manhã seguinte o cavalo retornou, trazendo com ele três outros cavalos selvagens.
"Que maravilhoso!" os vizinhos exclamaram.
 
"Talvez," replicou o velho homem. 

No dia seguinte, seu filho tentou domar um dos cavalos, foi derrubado e quebrou a perna. Os vizinhos novamente vieram para oferecer sua simpatia pela má fortuna.
 
"Que pena," disseram.
 
"Talvez," respondeu o fazendeiro. 

No próximo dia, oficiais militares vieram à vila para convocar todos os jovens ao serviço obrigatório no exército, que iria entrar em guerra. Vendo que o filho do velho homem estava com a perna quebrada, eles o dispensaram. Os vizinhos congratularam o fazendeiro pela forma com que as coisas tinham se virado a seu favor.
 
O velho olhou-os, e com um leve sorriso disse suavemente:
 
"Talvez."

I CHING

domingo, 23 de julho de 2017

A porta aberta

Há ainda um conhecida anedota sufi sobre um jovem casal, que, chegando em sua casa nova, logo após o casamento, para passar a primeira noite da lua de mel, se esqueceu de fechar a porta de entrada. Quando já iam em beijos, a noiva lembrou:

- Meu amor, a porta está aberta.
- Pois é, meu bem, a porta está aberta.
- Vá fechar.
- Eu não. vá você.
- Eu não. vá você.
- Eu não. vá você.
- Eu não. vá você.

Combinaram, então, que o primeiro a se mexer teria que fechar a porta e ficaram parados, qual duas estátuas, imóveis no centro da sala de estar.

Acontece que passavam por ali alguns ladrões e vendo aquela casa nova, cheia de presentes, completamente aberta e com tudo acesso; decidiram levar algumas coisas.

Os vizinhos avisaram a polícia, que quando chegou só encontrou a casa vazia, ou melhor, com o jovem casal parado imóvel no centro da sala vazia. O policial, então, perguntou:
- O que houve aqui?

Como não obteve resposta, o oficial ia levar o noivo quando então a mulher falou:
- Por favor, seu policial, não leve meu noivo.

Foi então que esse disse com cara de vitorioso:
- Você falou primeiro, agora feche a porta!

Todos somos Hamlet!


Luta de Lobos


UMA NOITE, UM VELHO ÍNDIO CONTOU AO NETO DELE SOBRE UMA BATALHA QUE ACONTECE DENTRO DAS PESSOAS.

ELE DISSE:

- MEU QUERIDO, HÁ UMA BATALHA ENTRE DOIS LOBOS DENTRO DE TODOS NÓS:

UM É MAU: É A RAIVA, A INVEJA, O CIÚME, A TRISTEZA, O DESGOSTO, A COBIÇA, A ARROGÂNCIA, A PENA DE SI MESMO, A CULPA, O RESSENTIMENTO, A INFERIORIDADE, AS MENTIRAS, O ORGULHO FALSO, A SUPERIORIDADE E O EGO..

O OUTRO É BOM: É A ALEGRIA, A PAZ, A ESPERANÇA, A SERENIDADE, A HUMILDADE, A BONDADE, A BENEVOLÊNCIA, A EMPATIA, A GENEROSIDADE, A VERDADE, A COMPAIXÃO E A FÉ.

O NETO PENSOU NAQUILO POR ALGUNS MINUTOS E PERGUNTOU:

- QUAL O LOBO QUE VENCE?

E O VELHO ÍNDIO SIMPLESMENTE RESPONDEU:

- O QUE VOCÊ ALIMENTAR MAIS!

REDES POLÍTICAS DO AFETO


sábado, 22 de julho de 2017

o exú de Shiva

Kirtimukha

Shiva, o destruidor de mundos, passeava com sua esposa Parvarti, quando de repente surgiu um monstro e disse:

- Quero que sua esposa seja minha mulher!

Ultrajado com aquele insulto, o deus Shiva criou então um monstro dez vezes maior e mais ameaçador que o primeiro, forçando este a lhe pedir clemência.

Shiva, então, poupou a vida do primeiro monstro, que passou a ser seu devoto discípulo e disse ao segundo monstro:

- "Kirtimukha" ou seja: que o mal consuma a si mesmo!

E o monstro se auto devorou.

Hoje, a máscara do demônio Kirtimukha (imagem em anexo) serve como escudo de proteção nas casas e templos dedicados ao deus Shiva.

TEORIA NARRATIVA E ARTE SEQUENCIAL


quarta-feira, 12 de julho de 2017

A INVOCAÇÃO ESQUECIDA

O amado Bal Shem Tov estava à morte e mandou chamar seus discípulos.

- Sempre fui o intermediário de vocês e agora, quando eu me for, vocês terão de fazer isso sozinhos. Vocês conhecem o lugar da floresta onde eu invoco a Deus? Fiquem parados naquele lugar e ajam do mesmo modo. Vocês sabem tudo isso, e Deus virá.

Depois que o Bal Shem Tov morreu, a primeira geração obedeceu exatamente às suas instruções, e Deus sempre veio. Na segunda geração, porém, as pessoas já se haviam esquecido de como se acendia a fogueira do jeito que o Bal Shem Tov lhes ensinara. Mesmo assim, elas ficavam paradas no local especial da floresta, diziam a oração, e Deus vinha.

Na terceira geração, as pessoas já não se lembravam de como acender a fogueira, nem do local na floresta. Mas diziam a oração assim mesmo, e Deus ainda vinha.

Na quarta geração, ninguém se lembrava de como se acendia a fogueira, ninguém sabia mais em que local exatamente da floresta deveriam ficar e, finalmente, não conseguiam se recordar nem da própria oração. Mas uma pessoa ainda se lembrava da história sobre tudo aquilo e a relatou em voz alta. E Deus ainda veio.

ESTES, Clarissa Pinkola. O dom da história – uma fábula sobre o que é suficiente. Tradução de Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998. Pág.s 08-09

terça-feira, 11 de julho de 2017

Breve história da epistemologia


Stargate Atlantis


Star Trek


Battlestar Galactica


DANTE NO INFERNO


Compara-se aqui o texto da Divina Comédia, escrita por Dante Alighierie no século XIV, com o DVD de animação Dante's Inferno: um épico animado (2010), ressaltando a síntese mitológica realizada dentro da narrativa em um enquadramento ético cristão nos dois trabalhos e o acréscimo na narrativa digital de enredos psicológicos (as lembranças de Dante das Cruzadas) e de combates com criaturas infernais – que não existiam na narrativa original.

O MESTRE DOS SONHOS CONTRA AS TECELÃS DA INTRIGA


domingo, 9 de julho de 2017

A maldição da cocaína

Quando o Imperador Inca Huayna Capac pressentiu que chegava a hora de sua morte, chamou seus filhos, Atahualpa e Huascar, para se despedir, dividir seu reino entre eles e pedir que apoiassem um ao outro. Atahualpa ficaria com as terras do norte (hoje a cidade de Quito, no Equador); Huascar, com as ao sul e a capital Inca, Cuzco. Ambos deveriam reinar como os deuses gêmeos Inti (o Sol) e Kilya (a Lua). Na ocasião, Huayna Capac, para selar essa aliança, serviu aos seus filhos um cálice da bebida sagrada Ayahuasca e pediu que eles aguardassem as revelações que o grande espírito traria através dela.

Ao tomar a bebida, Atahualpa viu a serpente emplumada, Viracocha , saindo de dentro do Sol e do Mar. Para ele, era o retorno do deus criador no final dos tempos, o Pachacúti, o Apocalipse Inca. Huascar teve a visão de um navio estranho chegando ao poente, com um homem sanguinário vestindo uma armadura prateada com um pluma em seu capacete. Ao final do transe, cada um contou sua visão ao pai, que disse: “Vocês tiveram a mesma visão, mas cada um interpretou-a de um modo”.

Depois da morte de Huayna Capac, no entanto, os dois meio-irmãos se desentenderam e entraram em guerra. Huascar recorreu novamente à Ayahuasca e teve a mesma visão, acrescida de mais detalhes: o homem barbudo de roupa prateada e pena na cabeça chegava comandando um grande massacre e destruindo o Império Inca. Ainda em transe, Huascar perguntou à divindade a causa daquela desgraça. “O povo Inca ao invés de amar o Sol e a Lua, amava o ouro e prata.” Inconformado, o príncipe Inca clamou por misericórdia: “Nem todos amam a matéria”. Ao que o espírito da Ayahuasca respondeu: “Esconda o tesouro dos Incas no lago Titicaca e suba com a classe sacerdotal e todos que amam o espírito para Machu Picchu, no alto das montanhas, que se passarão várias gerações sem que os homens barbudos descubram os sobreviventes incas”.

Huascar agradeceu e prometeu seguir fielmente as instruções do grande Espírito da bebida sagrada, no entanto, em seu coração ele não aceitou o fim do seu mundo e antes de voltar ao estado de consciência normal ele pediu, ainda em transe, uma reparação contra aquela injustiça.

Porém, logo após esconder o tesouro inca e despachar os sacerdotes para as montanhas, Huascar foi preso pelas tropas de seu meio-irmão.

Voltando para Cuzco, para tomar posse do trono que conquistara, Atahualpa parou na cidade andina de Cajamarca, conduzindo um exército de cerca de 80.000 guerreiros, quando viu a chegada do conquistador espanhol Francisco Pizarro, lembrando-se na visão de que havia tido com a bebida sagrada.

Atahualpa recebeu Pizarro como um deus, sendo traído e aprisionado pelo espanhol, no dia 16 de novembro de 1532. E o poderoso Império Inca foi derrubado por menos de duzentos homens e vinte e sete cavalos.

Naquela mesma noite, em grande agonia, Huascar teve um sonho em sua cela na prisão, em que se encontra com o próprio Inti, o deus Sol.

- Oh, meu Pai, conceda-nos a vitória de meu povo e a expulsão dos invasores – suplicou o príncipe Inca.

- O que você me pede é impossível. O destino de Atahualpa e dos adoradores de metal está selado. Porém, gostaria de conceder-lhe uma graça.

Huascar pediu um conforto que os ajudasse a suportar a escravidão e a vida dura que os esperava. O deus Sol lhe mostrou a planta de coca e disse:

- Diga a seu povo para cultivar essa planta com carinho e colher suas folhas. Após secas, as folhas devem ser mascadas para que seu suco alivie seu sofrimento. Quando se sentirem exaustos de seu destino essa planta lhes dará nova vitalidade. Em suas jornadas através de terras altas, a coca irá aliviar sua fome e frio, tornando a viagem mais tolerável. Nas minas onde serão forçados a trabalhar, o terror e a escuridão dos túneis serão insuportáveis sem a ajuda desta planta.

- Porém, enquanto essa planta significará força, saúde e vida para seu povo, ela será maldição para os estrangeiros. Quando eles tentarem explorar suas virtudes, a coca irá destruí-los. O que para seu povo servirá de ‘alimento’, para os invasores será um perigo veneno. A coca é uma das defesas da Grande Floresta, que destroem todos aqueles que tentarem devastá-la. 

sexta-feira, 7 de julho de 2017

EU NÃO SOU XAMÃ, SQN



A história da antropologia pode ser subdividida em três grandes momentos: o período evolucionista e etnocêntrico, em que os antropólogos consideravam os outros povos primitivos; o período funcionalista-estruturalista, em que Franz Boas e Levi-Strauss, entre outros, se descobriram iguais aos selvagens que estudavam; e o período etnoantropológico, em que, invertendo a perspectiva inicial, o antropólogo se conhece cultural e psicologicamente através de tradição que estuda e torna-se um xamã. No decorrer de suas pesquisas, o antropólogo encontra o xamanismo e se apaixona. Passado algum tempo, percebe que conhece apenas uma adaptação das práticas do passado. Para curar-me parcialmente dessa ilusão e como prova de agradecimento sincero pela compreensão que me foi generosamente entregue, escrevo aqui uma comparação entre o neoxamanismo urbano e os xamanismos arcaicos. A conclusão é que, elencadas as diferenças positivas e negativas, há dois pontos importantes em comum: o meta sistema de crenças (ou o desencantamento reencantado) e a cura transferencial como prática.

GASTON BACHELARD e a Metapoética dos Quatro Elementos


DIVERSIDADES


quarta-feira, 5 de julho de 2017

O MÍSTICO E O FEITICEIRO


ONCE UPON A TIME


IMAGINÁRIO! 12


Já está disponível para leitura o número 12 da revista Imaginário!, provavelmente a mais importante publicação acadêmica sobre quadrinhos do Brasil. Essa edição traz como matéria de capa o estudo de Douglas Pigozzi sobre um dos clássicos dos quadrinhos latino-americanos – El Eternauta – a partir da abordagem semiótica de Peirce. Já Ednelson Júnior e Roberto Lima analisam a metaficção em filmes de horror nos anos 2000. O universo dos super-heróis é tratado em dois artigos, um de Marcelo Bolshaw e Dickon Tavares, sobre Trinity, o triângulo arquetípico da DC; e outro de Paulo de Oliveira, sobre os arquétipos mitológicos nos quadrinhos da Liga da Justiça. As publicações independentes também são abordadas no estudo de Omar Sánches, em atualização da concepção sobre zine.