domingo, 21 de março de 2021

Jurupari



Ceuci era uma índia virgem que engravidou misteriosamente. Como não sabia o nome do pai de seu filho, foi forçada a tê-lo muito longe da aldeia, em terras estranhas. A índia deu ao menino o nome de Jurupari, mandado pelo sol para reformar os costumes da terra e também encontrar nela uma mulher perfeita com quem o sol pudesse casar. Já ao sair do ventre de sua mãe, falou-lhe: "Não tenha receio mãe: eu venho de Tupã, que é meu pai, com a missão de reformar os costumes dos homens. Venho trazer a lei e o segredo, que ainda não existe nas tabas: por isso foi adequado o nome que me deste, Jurupari, o Boca fechada!".
Quando o Jurupari chegou a terra, as mulheres é que mandavam. De imediato, retirou-lhes o poder, transferindo-os para os homens, sob o argumento que o poder feminino contrariava as leis do Sol, a divindade máxima que era masculina. Jurupari também estabeleceu uma nova e rigorosa distribuição de trabalho: os homens deveriam ir à guerra, à caça e pesca e às derrubadas da mata. As mulheres deveriam dedica-se à cerâmica, tecelagem, transporte de carga, trato dos filhos e agricultura. Além disso, Jurupari obrigou as jovens da tribo a manterem a virgindade até a primeira menstruação; condenou o homossexualismo; o incesto e o adultério que eram punidos com a morte. E para que os homens aprendessem a viver sem mulheres, Jurupari instituiu grandes festas que só eles podiam tomar parte.
Inconformada com as leis e saudosa do filho, Ceuci resolveu, certa noite, dar uma espiada no cerimonial dos homens.
Furtivamente, então, entrou na "Casa dos Homens", mas logo foi descoberta e morta pelos guerreiros do próprio filho.
Jurupari foi chamado às pressas para ver a mãe, mas não pode fazer mais nada, porque não podia abrir precedentes em suas leis.
“Minha mãe morreu porque desobedeceu à lei de Tupã. A lei que eu vivo a ensinar. Não posso ressuscitá-la, mas posso recomendá-la a meu pai que vai recebê-la de braços abertos lá no céu”. E Ceuci subiu aos céus, em um arco-íris, transformou-se na estrela mais resplandecente da constelação das Sete Estrelas.
Jurupari veio a mando do Sol para reformar os costumes dos homens e também encontrar a mulher perfeita com quem o Sol pudesse casar. Não a encontrou e jamais encontrará.
Talvez porque nenhuma mulher aceitará plenamente suas leis, talvez por ter renegado a própria mãe em nome delas, o herói solar é prisioneiro de sua missão. Ou maldição, pois Jurupari só regressará ao céu no dia em que tiver encontrado seu amor novamente.

domingo, 7 de março de 2021

práticas sociais

 

O QUE É UMA PRÁTICA SOCIAL?

Prática é o oposto que teoria ou conhecimento abstrato. É o concreto. “Razão prática” para Aristóteles e Kant é um saber não orientado por normas explícitas. É o domínio da ética e da ação real, do não-discurso, do empírico.

Fala-se das práticas educativas ou das práticas médicas para significar as atividades e os comportamentos convencionais dos professores, dos médicos e enfermeiros, e não para referir os saberes pedagógicos e científicos que lhes estão associados. Neste sentido, as práticas educativas, as práticas médicas, as práticas religiosas, as práticas políticas ou as práticas económicas são realizadas por indivíduos (e não por classes sociais e/ou instituições) e estão ligadas a formas de fazer, a competências, etc. O termo 'práticas sociais' aqui é equivalente ao de 'atividades' regulares e semi convencionais das pessoas em determinada situação profissional ou ocupacional.

Marx pergunta: “são os homens que fazem a história ou a história que fazem os homens?” E ele mesmo responde que a práxis como dialética entre a ação social e a estrutura social. Segundo essa perspectiva, antes de Marx só havia Idealismo (os homens fazem a história) e mecanicismo (a história faz os homens).

A Ação social é o objeto conceitual da sociologia definido por Max Weber. Objeto ativo e reativo ao contexto, mas declaradamente idealista, em virtude do Método do tipo ideal - que abstrai várias realidades para construir modelos. Classificação de tipos de ações sociais: ações racionais com relação a valores (a ética da convicção); ações racionais com relação resultados (a ética da responsabilidade); ações irracionais afetivas; e ações irracionais tradicionais. Também definiu a noção de 'interação', ação mútua e recíproca.

Alfred Schütz se preocupou em analisar o problema da constituição intersubjetiva do significado da ação social. A inter-ação entre Eu e o Outro. A etnometodologia de Harold Garfinkel, Erving Goffmann e do interacionismo simbólico mantem o foco da ação social na microsociologia. Há também a teoria da escolha racional e a teoria dos jogos que partilham de base comum.

Antonio Gramisc traz de volta o foco para macro sociologia e para tema da práxis definido por Marx. O agir é a prática consciente individual, o fazer é a prática involuntária e coletiva. A práxis, a revolução, é a união do agir com o fazer, quando os homens agirem sob a história que fazem e que os fazem.

Habermas distingue entre as ações instrumentais (econômicas), as ações estratégicas (políticas) e as ações comunicativas (interações sociais).

Com a teoria de Pierre Bourdieu um novo conceito é introduzido na sociologia para refletir sobre a conduta humana: trata-se do conceito de prática social (termo retirado do conceito de práxis social de Karl Marx).

Para Bourdieu as práticas sociais tendem a se conformar a esquemas de percepção e ação que são incorporados pelos indivíduos em seu processo de socialização. Esses esquemas prévios de comportamento são chamados por ele de habitus. O habitus é incorporado pelos agentes, 'naturalizando' as práticas sociais.

As práticas sociais equivale a uma ação social recorrente e semi involuntária, tanto em relação aos indivíduos e ao micro espaço cotidiano quanto dos agentes coletivos em relação à sociedade como um todo. Mas, sempre com ênfase auto organização social. As práticas sociais surgem como a forma pela qual os homens interagem entre si e com o meio ambiente.

Trata-se, por exemplo, do estudo das práticas religiosas dos crentes e não do estudo das instituições religiosas; do estudo das práticas dos jurados no tribunal e não do sistema jurídico; do estudo das práticas de ensino e não das instituições de ensino.