quinta-feira, 30 de maio de 2019

identidade moderna



A identidade individual moderna tem uma contradição curiosa. Ela é individual mas não se basta socialmente. Todos têm um ‘desejo de união’ à identidade que lhes seja superior. O desejo de união existe em relação ao casamento, aos grupos, à família, à comunidade, mas toma sua forma mais absurda em relação às organizações sociais.

Esse desejo de união social é a obediência voluntária às instituições, um pacto silencioso e invisível anterior à individualidade. Esse também é o Paradoxo da Democracia (de Anthony Giddens), que afirma que a democracia precisa de indivíduos para funcionar (e não ser simplesmente um pluralismo de grupos), mas que sucumbe à dispersão predominante dos interesses individuais sobre os coletivos. 

E mais: quando alguém diz “vamos colocar de lado o pessoal em função de algo maior” geralmente significa que alguma sacanagem está em curso. As instituições não são apenas impessoais, elas são sobretudo cruéis, em sua tentativa parcial de domesticar os indivíduos, cuja selvageria parcialmente ela mesma produz.

 O que fazer com esse desejo de união com 'algo superior' a si? Negá-lo seria apenas encobri-lo e poder ser por ele capturado inconscientemente. Tentar colocá-lo a serviço de uma causa justa? Cada instituição tem uma causa justa para disciplinar a individualidade parcial da identidade moderna.

terça-feira, 21 de maio de 2019

A divisão da extrema direita


Há generais cultos e inteligentes. Geisel, por exemplo, elaborou uma diplomacia independente dos EUA e tinha um projeto desenvolvimentista baseado em estatais. O General Golbery do Couto e Silva escreveu livros teóricos sobre geopolítica, articulou o golpe de 64 e coordenou a abertura política dos anos 80. Outra coisa é Sérgio Fleury, major Curió, coronel Ustra, Newton Cruz (responsável pela bomba do Rio Centro) ... Esses eram torturadores de baixa patente, bandidos de farda, um lixo que o próprio regime queria esconder. Nosso presidente se identifica com eles e não com a inteligência militar brasileira.
O mesmo pode ser dito de intelectuais de direita, como José Guilherme Merquior, crítico literário, ensaísta, diplomata, sociólogo, cientista político, membro da Academia Brasileira de Letras, que colaborou com o SNI e com a ditadura e produziu textos teóricos contra a Escola de Frankfurt. Outra coisa é catolicismo de direita de Olavo de Carvalho, que não respeita o Papa Francisco ou o concílio vaticano segundo e nunca produziu textos significativos sobre nada (são apenas textos morais anticomunistas). Ele se fundamenta apenas no despeito intelectual, no ressentimento contra os privilégios perdidos, no rancor contra a modernidade.
Também acredito que existam evangélicos e conservadores sérios. Mas, não é desses que o nosso presidente se aproxima. Jesus mandavam abandonar tudo (os bens materiais) e segui-lo. Dizia que era mais fácil um camelo passar uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. E chicoteava sem pena os farsantes que pediam dinheiro em nome do divino. E nada disso é seguido pelo adeptos religiosos do presidente. São os atuais fariseus – “sepulcros caiados” como dizia o próprio Cristo, “bonitos por fora e podres por dentro”.
A união entre militares-milicianos, pseudo-intelectuais e pilantras neopentecostais se forjou através do discurso do ódio às classes populares. Mas, só tem isso em comum. Então, era só uma questão de tempo para que eles se estranhassem.
O único inimigo real (no sentido de um projeto político) é o neoliberalismo parcial representado por Paulo Guedes. Digo parcial porque o verdadeiro livre comércio é multilateral e o governo defende a submissão aos interesses comerciais dos EUA. Ele também é parcial em relação aos bancos nacionais, uma vez que ao invés de abrir novas carteiras de crédito (forçando a diminuição proporcional da dívida pública e dos juros), ele só pensa em acabar com a previdência social transformando-a em uma sistema de capitalização. Os cortes na educação são apenas uma cortina de fumaça ou um objetivo tático.
E a grande questão que se coloca é se o governo vai conseguir aprovar a reforma antes de se desfazer ou não.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

O IDIOTA INÚTIL


O presidente mentiu sobre ter voltado atrás nos cortes, depois fugiu para o Texas (sem ser convidado, levou a própria facha de boas vindas) e deixou o ministro da educação entregue aos deputados. De lá de bem longe, ele chamou hum milhão de manifestantes em mais de 200 cidades (estudantes, professores, pesquisadores) de "idiotas úteis".
Paralelamente, Flávio Bolsonaro já está colocando a culpa da lavagem de dinheiro em que está envolvido no Queiroz e no grupo de milicianos suspeitos do assassinato de Marielle. Enquanto for senador, tem imunidade e só pode ser investigado pelo supremo.
A renúncia do presidente (entregar a rainha como uma distração para não perder o jogo) e a posse de Morão são uma alternativa real, no meu entendimento, porque abrandaria parte da reação pública negativa ao comportamento absolutamente lamentável de Bolsonaro, inaceitável tanto do ponto de vista internacional como para seus próprios aliados.
Animada por a vitória parcial, a esquerda prepara agora outra manifestação, dia 14/6, desta vez contra a reforma da previdência.
Vamos esperar para ver pelo whatsup se o próximo lance do núcleo miliciano vai aumentar a divisão entre os grupos bolsonaristas ou se vai forjar um novo objeto de ódio para tentar unificá-los. 

A FÁBRICA DO SABER

A universidade produz esperança. Não apenas para cada um, como percurso de vida, mas também coletivamente. A universidade produz o futuro, elabora o sonho tornando-o destino, transformando ideias em projetos.
A universidade produz o passado, o presente e o futuro. É um espaço em que a sociedade se lembra da própria história e sua identidade. É um espaço em que se pensam as próprias práticas, em que se analisa o próprio comportamento. É um espaço em que os sonhos são planejados e organizados para se tornarem realidade.
As universidades produzem esperança. Sem elas, não passamos de uns desesperados, sem futuro, sem sonhos, sem identidade, cujos os únicos desejos são os de consumir a cultura alheia.

terça-feira, 14 de maio de 2019

Fim de farsa

Sérgio Moro autorizou e vazou uma escuta telefônica ilegal entre a presidenta Dilma e Lula. Também mandou prender o ex-presidente em conduta coercitiva sem notifica-lo e combinou com a Rede Globo para que a televisão transmitisse a prisão ao vivo em rede nacional.

Moro condenou o principal nome à disputa presidencial em um processo com provas materiais forjadas (o apartamento e o sítio) e com provas testemunhais, feitas pelos corruptores ativos contra os corrompidos passivos – o que equivale a condenar viciados através da delação dos traficantes. Muitos especialistas em direito, inclusive analistas internacionais, criticaram o processo e sua sentença. Moro nunca deu nenhuma resposta a essas críticas.

Com a prisão de Lula, Moro garantiu a eleição de Bolsonaro.

O juiz federal e o tribunal de segunda instância passaram por cima de todos prazos regimentais – uma condenação em ‘tempo recorde’. Mas nunca teve tempo para jugar os casos da Lava Jato do Paraná contra o PSDB, partido com que tinha relações familiares. Só teve tempo para inviabilizar o depoimento da principal testemunha do processo. Quando estava de férias em Portugal também conseguiu algum tempo, em domingo, para impedir a libertação de Lula por um juiz interino que estava de plantão.

Moro conversou sobre vir a ser ministro da justiça de Bolsonaro ainda durante a campanha de 2018, conforme a imprensa e o próprio presidente. Tal fato fere frontalmente o código penal brasileiro, no artigo 317: “Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.”

Agora, o presidente afirma (e o ministro nega) o compromisso de indicação para o Supremo Tribunal Federal – possivelmente em troca da utilização do Ministério da Justiça para abafar os crimes milicianos de seus filhos.

Sérgio Moro chegou a ser retratado como um herói na luta contra corrupção.

Em defesa da UFRN

Quantos partos faz por ano a maternidade Januário Cicco? E o Hospital Onofre Lopes, quantos atendimentos faz? Você sabia que há especialidades em que ele é o único a atender pelo SUS? Quantos museus são administrados pela UFRN? Quantas patentes a universidade registrou? Você sabia que a Educação a Distância forma e qualifica professores do interior? E a Escola Agrícola de Jundiaí, qual sua contribuição?
Haveria muitas outras perguntas a responder, sem falar que os cursos de graduação formam profissionais para sociedade (médicos, engenheiros, administradores) e que os programas de pós graduação pesquisam soluções para os problemas sociais.
A verdade é que existe uma dificuldade da UFRN para se comunicar diretamente com a população, não apenas valorizando sua já enorme contribuição ao RN, mas também abrindo novas interações, se aproximando mais da sociedade. A universidade vive em uma bolha espelhada para dentro e opaca por fora, com intermináveis conflitos/diálogos internos e uma péssima imagem pública, incapaz de responder aos ataques de que vem sendo vítima.
Não basta protestar contra o corte de verbas, é preciso valorizar a si mesmo, aos seus colegas e à produção/transmissão do conhecimento.
Escreva, manifeste-se, valorize-se. É seu futuro que está em jogo. Se você faz comunicação, está na hora de mostrar seu valor e fazer a diferença.

sábado, 4 de maio de 2019

O diabo Coxo


Diabo Coxo é um jornal humorístico ilustrado - o primeiro do gênero da cidade de São Paulo, fundado por Angelo Agostini e Luiz Gama em 1864. A publicação durou até o ano seguinte, e marcou o início da produção do caricaturista Agostini no Brasil. Em 2005 a Academia Paulista de História em parceria com a EDUSP (Editora da Universidade de São Paulo) publicaram, em fac-símile, a obra Diabo Coxo: São Paulo, 1864-1865: edição facsimilar, que reproduz o periódico.