terça-feira, 17 de outubro de 2023

Os três filtros*

 


A entropia reinava e o ruído era constante. 

Porém, saindo da polissemia geral, um informante agendou uma entrega de dados para fazer sentido, e, logo após o acesso remoto, foi declarando:

- Você não emula o que me relataram a respeito do outro terminal  ...

Nem chegou a completar a frase e o sistema entrou em modo de segurança:

- ALERTA: Essa entrega de dados passou pelos três filtros do Gatekeaper?

- Filtros? Gatekeaper? - Indagou o informante.

 - Gatekeaper é o guardião do portal da comunicação digital. O portal é formado por um protocolo de três filtros: Ethos, Pathos e Logos. O primeiro, Ethos, é o filtro da VERDADE: Você tem certeza de que esse fato é verdadeiro?

- Não. Não tenho, não. Como posso saber? Só sei que foi o que me transmitido. Sou um mero retransmissor.

- O segundo filtro, Pathos, é o da EMPATIA: Como as pessoas envolvidas vão se sentir sendo expostas? Você gostaria que os outros também transmitissem o mesmo a seu respeito?

- Não. Não pensei no retorno do efeito de sentido sobre o objeto, não medi o feedback - reconheceu o informante.

- Existe ainda o terceiro filtro, Logos, é o da NECESSIDADE: A informação é relevante?  Resolve alguma coisa? Ajuda a comunidade?

- Não, ela não acrescenta nada a ninguém - disse envergonhado.

- O primeiro filtro não diz respeito apenas a veracidade do acontecido, mas também as suas interpretações. O segundo filtro simula os vários efeitos de sentido da informação na audiência e não só no objeto-evento informado. A informação tem uma carga afetiva. O terceiro filtro se refere a utilidade e não apenas a necessidade. A quem interessa essa informação, se é uma manipulação de verdade agradável. 

- Então,  se não é VERDADEIRO, não é BOM e nem IMPORTANTE, não passa pelos três filtros, então VAMOS DELETAR E NÃO PASSAR ADIANTE.


* Adaptação da parábola das três peneiras atribuída a Sócrates.