O amado Bal Shem Tov estava à morte e mandou chamar seus
discípulos.
- Sempre fui o intermediário de vocês e agora, quando eu me
for, vocês terão de fazer isso sozinhos. Vocês conhecem o lugar da floresta
onde eu invoco a Deus? Fiquem parados naquele lugar e ajam do mesmo modo. Vocês
sabem tudo isso, e Deus virá.
Depois que o Bal Shem Tov morreu, a primeira geração
obedeceu exatamente às suas instruções, e Deus sempre veio. Na segunda geração,
porém, as pessoas já se haviam esquecido de como se acendia a fogueira do jeito
que o Bal Shem Tov lhes ensinara. Mesmo assim, elas ficavam paradas no local
especial da floresta, diziam a oração, e Deus vinha.
Na terceira geração, as pessoas já não se lembravam de como
acender a fogueira, nem do local na floresta. Mas diziam a oração assim mesmo,
e Deus ainda vinha.
Na quarta geração, ninguém se lembrava de como se acendia a
fogueira, ninguém sabia mais em que local exatamente da floresta deveriam ficar
e, finalmente, não conseguiam se recordar nem da própria oração. Mas uma pessoa
ainda se lembrava da história sobre tudo aquilo e a relatou em voz alta. E Deus
ainda veio.
ESTES, Clarissa Pinkola. O dom da história – uma
fábula sobre o que é suficiente. Tradução de Waldéa Barcellos. Rio de
Janeiro: Editora Rocco, 1998. Pág.s 08-09
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