sexta-feira, 19 de julho de 2019

Kokyang Wuhti

No início dos tempos, uma faísca de consciência se incendiou na grande noite do espaço infinito. Esta luz era o espírito do Sol. 

O Espírito Solar criou o Primeiro Mundo: uma enorme caverna povoada apenas por insetos e governada pela Avó Aranha – a tecelã dos destinos, velha como o tempo e jovem como a eternidade, mãe de tudo na terra com quem se ela se funde e se confunde. 

Observando como se viviam os insetos, o espírito achou sua criação pouco inteligente, incapaz de Lhe compreender e dar louvor. 

Então a Avó Aranha disse aos insetos:

- O espírito do Sol que nos criou, está descontente com vocês, porque não vocês não entendem o sentido da vida. Assim, me foi ordenado que os mandem ao Segundo Mundo, que está acima do teto da caverna.

Os insetos então começaram a escalar as paredes da caverna em direção ao Segundo Mundo. A subida era tão alta e tão penosa que, antes de chegarem ao Segundo Mundo, muitos dos insetos já haviam se transformado em animais serpentes, lagartos e dragões.

O Espírito do Sol, então, os contemplou e disse:

- Esses répteis são tão estúpidos quanto os insetos. Também não são capazes de compreender o sentido da vida.

Novamente pediu a Avó Aranha para que os conduzisse para o Terceiro Mundo – em um nível acima na caverna. E no transcurso desta nova viagem, alguns animais se transformaram em homens. 

No Terceiro Mundo, a Avó Aranha ensinou aos homens a tecerem e as mulheres a fazerem potes. Ela também instruiu a todos a louvar ao sol e na cabeça dos homens e mulheres começou a despontar o sentido da vida. 

Entretanto, bruxos malvados, extinguiram a luz e cegaram os humanos. As crianças choravam, os homens guerreavam e se lastimavam, haviam perdido o sentido da vida.

A Avó Aranha voltou e lhes disse:

- O espírito do Sol, está muito triste com vocês, porque perderam a centelha de luz que havia brotado em suas cabeças. Agora, vão ter que subir ao Quarto Mundo. Mas desta vez, deverão encontrar o caminho sozinhos.

Os homens, perplexos, se perguntavam como poderiam subir sozinhos para o Quarto Mundo. Enfim, um ancião tomou a palavra:

- Vamos enviar nosso amigo Sapo como mensageiro para explorar o Quarto Superior e nos contar o que há por lá.

O Sapo pulou até o alto da caverna e encontrou no centro de um grande deserto, uma mulher vestida de preto. Era a Morte.

- Venho da parte dos homens que habitam o mundo debaixo deste – disse o Sapo. - Eles desejam compartilhar contigo este país. Isso é possível?

A Morte refletiu por alguns momentos.

- Se os homens querem vir, que venham! Mas, como comigo tudo é passageiro, eles só durante algum tempo. Depois, só os que se desenvolverem, vão poder voltar ao Terceiro Mundo, os demais serão dados como alimento aos lagartos do plano debaixo e voltarão a ser insetos.

O Sapo voltou ao Terceiro Mundo e contou aos homens o que ouvido.

- A Morte aceita compartilhar com vocês o Quarto Mundo, comunicou, mas depois de um tempo apenas os que se desenvolverem a luz interior poderão voltar para casa. Os que não conseguirem, voltarão aos mundos inferiores.

Então os homens escalaram a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, que havia no centro do Terceiro Mundo. Nada levavam consigo, estavam nus, alegres como crianças, tão desprovidos como nos primeiros dias de vida.

- Sejam prudentes e corajosos para voltarem quando chegar o dia! E não se esqueçam de que sou sua Mãe e que o Espírito do Sol, é seu pai!

Entretanto os homens já não mais a escutavam, pois já tinham alcançado às alturas. Ao chegarem ao Quarto Mundo, construíram povoados, plantaram mandioca, milho, melões, fizeram jardins e hortas. 

E desta vez, para dar sentido às suas vidas, se lembrarem de quem eles eram, de onde vieram e para onde estão indo – os homens inventaram as lendas e estórias sagradas, em homenagem a grande tecelã dos destinos.

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