terça-feira, 22 de maio de 2018

A CHAVE DE SÃO PEDRO



Apesar de meu passado kardecista e umbandista, minha experiência com a Jurema não teve nada a ver com caboclos ou com espíritos desencarnados. Foi uma vivência mística com mãe terra, com a expressão do sagrado feminino do sertão, a Jurema-orixá, força da natureza, aspecto da grande deusa das águas nos lugares mais secos e desérticos.
Aspecto da grande mãe? A grande mãe é a floresta, a inteligência do reino vegetal ou, em uma escala maior, a natureza.
Arqueólogos encontraram resquícios de Canabis em urnas incensarias de mais de 5000 mil anos, dedicados a deusa lunar Isis, no antigo Egito. Hoje, adeptos do Santo Daime e do xamanismo brasileiro chamam a mesma planta de ‘Santa Maria’ para escândalo dos cristãos católicos e protestantes.Para mentalidade da religiosidade pagã, porém, todas as outras plantas são, de efeito psicoativo ou não, aspectos do Sagrado Feminino.
É claro que a introdução do símbolo de uma divindade feminina no cristianismo foi uma farsa histórica, uma ‘concessão’ da igreja católica ao paganismo. A Virgem Maria ‘subiu aos céus’ 300 anos depois do filho, graça a um concilio eclesiástico que a considerou ‘Mãe de Deus’. No entanto, foi uma concessão conquistada pelos povos bárbaros. O melhor seria dizer que foi uma ‘negociação’ entre os sistemas de crenças dos colonizadores e dos colonizados - como também foram os sincretismos dos santos católicos com os orixás africanos no Brasil e no Caribe.
Prefiro pensar que a natureza (em seus aspectos mais femininos) se veste segundo a ocasião. Ela é o espírito santo dos protestantes, o Elohim (o nome de Deus feminino plural em hebraico) para os judeus, o anjo que inspira Maomé para os mulçumanos.
Ela é a Rainha Jurema.
O livro ‘Meleagro’ de Luís da Câmara Cascudo estuda o Catimbó nordestino, uma modalidade de feitiçaria mesclada por diversos elementos étnicos brancos, negros e indígenas, mas bastante diferente da Pajelança amazônica, do Candomblé baiano e da Umbanda carioca.
Bastante comum no início do século, no Rio Grande do Norte e na Paraíba, o Catimbó era dirigido pelos “Mestres da Jurema” através de cantos chamavam “as linhas” (falanges de espíritos) e os “encantamentos” (trabalhos mágicos para cura, para sorte e para o amor). Cascudo descreve os rituais, detalha as plantas medicinais, as entidades e os diferentes elementos simbólicos de composição nestes trabalhos espirituais, bem como relata a vida de alguns dos mestres ainda existentes entre 1928 e 1945.
Entre os elementos essenciais do altar do Catimbó estão os maracás (chocalhos com sementes para marcação do ritmo dos cantos), as cuias com cauim (cachaça feita à base de macaxeira fermentada consumida pelos participantes), uma bacia de louça com água (a “princesa”), bonecas de pano (simbolizando pessoas ausentes para quem se deseja enviar um encantamento), um cachimbo de tabaco feito de pau da jurema (a “marca-mestra” ou simplesmente “mestra” usados em inúmeras operações mágicas) e, finalmente, uma chave grande de ferro.
Também era comum a presença de livros como os de São Cipriano ou do grupo ocultista Círculo Esotérico Comunhão do Pensamento. Porém, era difícil encontrar a Bíblia ou livros kardecistas – o que levou a sociedade da época a chamar a prática do Catimbó de “baixo espiritismo”.
A chave é um elemento simbólico importante, não só para abrir e fechar as sessões espirituais, mas principalmente no ritual do “Fechamento de Corpo”.
Além de Cascudo, há um relato detalhado deste ritual feito por Mario de Andrade, que levado por Cascudo aos cabimbós de Mãe Luiza em Natal, teve seu “corpo fechado” pelo famoso Mestre João Germano das Neves.
E esse é o ritual mágico resgatamos e atualizamos para uma nova era de espiritualidade.
ORAÇÃO DA CHAVE DE SÃO PEDRO
Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita no alto da cabeça)
Feche a Porta da minha cabeça às influências ruins - Pelos poderes da chave de São Pedro (troca mãos, colocando a direita embaixo)
Abra a Porta de minha Coroa para Luz Divina - Pelos poderes da chave de São Pedro (com uma mão em cada olho)
Feche a Porta dos meus olhos a todas as ilusões - Pelos poderes da chave de São Pedro (mãos cruzadas na testa com a direita por baixo)
Abra a Porta de meu terceiro olho - Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita na garganta)
Feche a Porta de minha fala às palavras falsas e cruéis - Pelos poderes da chave de São Pedro (troca mãos, colocando a direita embaixo)
Abra a Porta de minha voz para Verdade - Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita no centro do peito)
Feche a Porta do meu coração aos maus sentimentos - Pelos poderes da chave de São Pedro (troca mãos, colocando a direita embaixo)
Abra a Porta do meu coração para Alegria - Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita no alto abdômen)
Feche a Porta do meu plexo solar aos medos - Pelos poderes da chave de São Pedro (troca mãos, colocando a direita embaixo)
Abra a Porta do meu plexo solar para - Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita abaixo do umbigo)
Feche a Porta do meu corpo a todas as doenças - Pelos poderes da chave de São Pedro (troca mãos, colocando a direita embaixo)
Abra a Porta do meu corpo para Saúde - Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita sobre a pélvis)
Feche a Porta do meu sexo aos desejos inconvenientes e inadequados - Pelos poderes da chave de São Pedro (troca mãos, colocando a direita embaixo)
Abra a Porta do meu sexo para Satisfação e o Contentamento - E fecho meus trabalhos com o poder de São João (batendo sete palmas)
E abro meus caminhos com o saber de Salomão (batendo sete palmas)

A oração da Chave de São Pedro pode ser feita individualmente, em duplas ou em grupos em roda. Nos três casos, após terminar a oração, deve-se bater sete palmas, uma sobre cada um dos centros trabalhados e no apenas no final proferir o fechamento: “E fecho meus trabalhos (...); E abro meus caminhos (...).”
No caso de duplas, deve-se utilizar a segunda pessoa do singular (tu ou você) ao invés da primeira pessoa (eu). Assim, diga: “... fechar a porta da tua cabeça...” e não “da minha cabeça”. Em duplas, a Oração tanto pode ser realizada simultaneamente, com os dois participantes recitando e recebendo a imposição, ou com cada um desempenhando os papéis de emissor e receptor, separadamente, cada um de uma vez. No primeiro caso, ela pode ainda ser recitada simultaneamente pelos dois participantes ou através da repetição de cada frase/gesto (o que é mais aconselhável tanto para iniciantes como para os casais que tem maior nível de intimidade e concentração).
No segundo caso, em que os papéis de emissor e receptor não se alteram, deve-se observar uma sincronia na respiração dos participantes, com uma inspiração profunda e uma expiração demorada a cada um dos sete pontos trabalhados. A oração também pode ser acompanhada com visualização de cores em cada um dos pontos pelo emissor experiente. Na oração tradicional, utilizada no ritual de fechamento de corpo do Catimbó, as pessoas que recebiam a imposição de mão cruzavam as pernas em pé, colocando o pé direito sobre o esquerdo. No entanto, este procedimento é aconselhável apenas quando apenas um dos participantes recebe o passe enquanto o outro recita a oração e faz a imposição de mãos.
Nos três casos citados acima (a oração individual, em duplas de modo recíproco e em roda) é aconselhável permitir o livre fluxo de energia ao invés de concentrá-la (isto é: manter as pernas paralelas, os joelhos levemente dobrados e os pés descalços em contato com a terra).
Em roda, reza-se a oração por três vezes consecutivas: a primeira nas costas da pessoa que estiver a nossa esquerda, a segunda nas costas de nosso companheiro à direita e finalmente individualmente. Também nessa modalidade é aconselhável utilizar-se da repetição, com uma única pessoa recitando as palavras e executando os gestos e as demais repetindo. Neste caso, o fechamento da oração (com as duas séries de sete palmas) só é feito ao final da terceira vez.

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