Marcelo Bolshaw Gomes
Doze anos depois
Doze anos depois
O livro Decifra-me
ou te devorarei (edição original 2006) – minha tese de doutorado
em ciências sociais pela UFRN, orientada pelo prof. Antonio Spinelli – aplica a
metodologia hermenêutica tríplice de Thompson à Imagem Pública de Luís Inácio
Lula da Silva nos programas de horário eleitoral nas eleições de 1989, 2004,
2008 e 2002. Para cada momento eleitoral: foi projetado um Cenário de Representação
da Política (CR/P) a título de análise contextual; os horários eleitorais de
todos os candidatos foram descritos e tiveram seu conteúdo analisado; e as
pesquisas de opinião quantitativas reconstituídas e os principais artigos
teóricos foram revistos – como forma de analisar a recepção dos programas.
Ressaltamos
ainda que as três primeiras três derrotas foram fundamentais para o candidato
alcançar visibilidade nacional, modificando sua Imagem através de técnicas de
marketing de acordo com as preferências do público, ganhar a quarta eleição.
A tese
foi defendida e o livro foi publicado no ano da vitória de 2006, o que levou
várias analistas a considerarem uma ‘contaminação’ com o objeto. O slogan
publicitário ‘a cara do Brasil’ se confunde com as hipóteses de que a eleição
de Lula significaria um novo patamar de identidade social com o fim do complexo
de inferioridade cultural em relação ao exterior. Tal contaminação é possível
em trabalhos descritivos, como também é preciso levar em consideração a
possível contaminação dos críticos pela sua própria decepção com a história. Para
se ter uma ideia de como o ‘escândalo do mensalão’ se tornou uma decepção
gigantesca para toda uma geração, basta se observar os mapas eleitorais. Os 30%
de eleitores cativos (de maior nível de instrução e renda) nas quatro primeiras
eleições de Lula, votaram contra sua reeleição, conquistada graças aos votos
populares, resultantes diretos de sua política de redistribuição de renda e de
erradicação da fome.
Outra
crítica é que a metodologia adotada ‘fatiou’ os acontecimentos históricos
‘orgânicos’ em momentos eleitorais, desconsiderando vários elementos
estruturais importantes, tais como o presidencialismo de coalizão, a corrupção
sistêmica, a falta de um projeto claro de desenvolvimento social.
Independente
dos acontecimentos e de suas interpretações, o livro/tese teorizou sobre o
papel da visibilidade midiática nos processos eleitorais, extraindo conceitos
preciosos para pesquisa na área. ‘Imagem Pública’ (ou imagem de marca) é o
conceito utilizado para definir uma representação social comum aos seus agentes
e à sua audiência. Diferencia-se tanto da ‘imagem semiótica’ (uma foto, por
exemplo) quanto da ‘imagem cognitiva’ (a imaginação simbólica), embora guarde
uma proximidade estreita com ambas. Ela tem um lado conceitual, proposto pelos
agentes; um lado simbólico gestado em sua recepção; e ainda um lado midiático,
produtor de visibilidade. É produto da interação entre Ator, Diretor e Público.
A
popularidade, o carisma e o personalismo sempre existiram; porém no regime de
hipervisibilidade promovido pelas mídias esses elementos assumem um caráter
decisivo na vida social. A noção de Imagem Pública reúne, sintetiza e globaliza
várias categorias analógicas (reputação, prestigio, honra, status) que antes
existiam de forma fragmentada em diferentes graus, variando segundo a cultura
de cada sociedade. E com as redes digitais, essas imagens técnicas pessoais se
miniaturizaram e se multiplicaram em escala infinitesimal. [1]
Aliás, a Imagem
Pública de Lula merece um estudo aparte no que diz respeito à habilidade do
agente, tanto em reverter propaganda negativa dos inimigos eleitorais, quanto a
se manter ‘blindada’ em função dos escândalos, como o do ‘mensalão’, durante
seus dois mandatos. Talvez porque a Imagem Pública da Lula, vista como uma
mediação de intimidade não recíproca à distância, seja um pouco mais íntima e
um pouco menos não recíproca do que a maioria, dialogando publicamente com seus
aspectos negativos, falando com diferentes públicos segundo seus modos
particulares.
- Os anos seguintes
Graças ao
Bolsa-família e ao crescismento econômico, a expectativa em 2006 era que Lula
ganhasse no primeiro turno – apesar da cobertura negativa da imprensa sobre o
‘mensalão’ e a mediocridade gerencial do governo petista: não fez uma reforma
política (ao contrário, se envolveu com o esquema de compra de votos do governo
anterior); não fez a reforma fiscal (passando a tributação da produção para o
consumo, como a maior parte dos países do mundo); fez uma reforma
previdenciária injusta e insuficiente; investiu em um modelo de crescimento industrial
ultrapassado. O povo, no entanto, não parecia se incomodar com o que dizia a
imprensa.
Em sua reeleição, Lula
recebeu os votos dos eleitores que, nas eleições passadas, votaram nos
‘fermandos’, as pessoas de menor renda e instrução; enquanto seus eleitores
tradicionais (as classes médias das universidaddes) votaram em seus novos
adversários de esquerda:
Cristovam Buarque (PDT) e Heloísa Helena (PSOL). O PSDB escalou
Geraldo Alckmin sem acreditar que ele tivesse chance de vencer, que recebeu menos votos no segundo turno em relação ao primeiro. Lula não
participou dos debates (tal qual Collor e FHC quando tinham vantagem), sendo
representado por uma cadeira vazia.
Aliás, a eleição de
2006 só foi para o 2º turno graças a um factoide elaborado pela revista IstoÉ e
massificado insistentemente pela Rede Globo de Televisão em plantões especiais
durante toda programação, às vesperas da votação: o dossie Serra, um suposto escândalo
envolvendo PT e PSDB.
Em 2010,
a internet passa a desempenha um papel decisivo nas eleições. Vários temas
começam a ser agendados a partir das redes para a propaganda eleitoral: a
comparação entre os governos Lula e FHC, descriminalização do aborto no Brasil,
etc. A manipulação de informações pelas campanhas de ambos, especialmente na
Internet, tornou difícil para os eleitores julgarem o que seriam os fatos
verdadeiros e os boatos falsos associados a essas questões polêmicas.
Nessa
altura, as elites brasileiras não escondiam mais sua insatisfação com a nova
realidade social do país, com o acesso das camadas populares às universidades,
aeroportos e outros espaços antes só frequentados pelas classes mais abastadas.
No final do
segundo governo Lula, éramos a oitava economia do mundo. Houve uma recessão
mundial, que fez apenas uma ‘marolinhas’ por aqui. O Brasil descobriu que tinha
um mercado interno e que podia crescer com autonomia em relação à economia
internacional. A distribuição de renda, via o bolsa-família, teve um efeito
macroeconômico inegável, com crescimento econômico e baixa inflação.
O que foi
que Dilma fez em cinco anos que deixou o país quebrado? Em quanto a Copa do
Mundo e as Olimpíadas oneraram a dívida pública? Qual o peso percentual das
pedaladas fiscais no endividamento? Quanto custou a transposição do São
Francisco? É bom lembrar que a corrupção na Petrobrás não entra na conta porque
é uma empresa estatal.
Economistas
de direita explicam que o bolsa-família – o financiamento do consumo das massas
pobres - criou uma bolha financeira e citam outros casos internacionais
semelhantes. Economistas de esquerda afirmam que o que houve foi uma
distribuição de renda (e não o financiamento do consumo) e que o alto
crescimento sustentado promovido por si só, paga várias vezes o que foi
investido para custear a renda da população pobre. E não apenas em impostos
recolhidos (o que não justificaria o endividamento público), mas, sobretudo,
socialmente, com o aumento generalizado das atividades produtivas e dos
serviços, com a divisão multiplicada da riqueza.
E como então passamos de uma
situação em que a dívida pública podia ter sido quitada para a atual, em que a
hiperinflação pode voltar em virtude do descontrole das contas públicas?
As Jornadas de 2013
Em junho de 2013, o Brasil passou, durante vários dias, por uma
sequência de manifestações populares nas principais cidades do país. Quase dois
milhões de brasileiros participaram de manifestações em 438 cidades.
Inicialmente, os protestos eram contra o aumento das tarifas de transporte
público, mas, devido à repressão violenta e desproporcional promovida pelas
polícias militares estaduais contra as passeatas, ganhou forte apoio popular e
se tornou a maior manifestação política de toda história do Brasil, passando a
abranger uma grande variedade de temas, como a PEC 37 (que retirava do poder de
investigação do Ministério Público), a “cura gay” (tratamento proposto por um
deputado evangélico para homossexuais), os gastos públicos com as copas das
Confederações e do Mundo, a má qualidade dos serviços públicos em todos os
níveis e a indignação com a corrupção política em geral.
O papel desempenhado pelos meios de comunicação também foi determinante
no sentido do fortalecimento do movimento por dois motivos: a mídia tradicional
tentou esconder e justificar a violência policial, dando visibilidade a algumas
depredações colaterais de um movimento eminentemente pacífico; e a internet e
as redes sociais foram utilizadas para organizar o movimento de forma
descentralizada e espontânea em várias cidades, ao mesmo tempo. Como os
protestos geraram grande repercussão nacional e internacional, a mídia
tradicional e as autoridades públicas mudaram sua atitude, considerando as
manifestações populares legítimas em expressar sua insatisfação.
Foi um movimento popular que dirigiu a si próprio, organizado
autonomamente pela internet por ativistas sem militância, sem direção única ou
coordenação centralizada, sem o controle de organizações políticas ou entidades
civis, nem o apoio dos meios de comunicação tradicionais. Um movimento
pluralista e heterogêneo, com motivações, bandeiras e palavras de ordem as mais
variadas e até contraditórias.
Não havia no cenário nacional nada que apontasse para a irrupção de um
movimento com a dimensão que tomou. E o que realmente interessa: o caráter
espontâneo, pluralista, apartidário e heterogêneo da manifestação deixou velhos
analistas em estado de perplexidade, não entendendo o que realmente se passou[2]. Porém, o sentido mais
geral da manifestação de insatisfação generalizada colocou em xeque a própria
estrutura do sistema de representação política brasileira. O movimento teve
caráter político, mas não foi apenas apartidário; também teve um viés
claramente contrário aos partidos políticos, com seus militantes sendo
hostilizados durante as manifestações: “O povo unido não precisa de partido!”
Por outro lado, em nenhum momento se tratou de derrubar o governo ou o
parlamento. Tratava-se apenas de expressar a insatisfação com o sistema
político brasileiro, com a qualidade dos serviços públicos e de sonhar com uma democracia
além da mera representação parlamentar.
Por que o governo petista gastou uma fortuna na construção de estádios e
obras de mobilidade; em detrimento de escolas, de hospitais e das polícias? Por
que os principais beneficiários das obras, aliados na reeleição de Dilma, foram
os principais defensores do impeachment?
Ao tentar apresentar uma resposta à população, Dilma se viu bloqueada
pelos partidos que sustentavam a base aliada do governo no Congresso. O próprio
PT desqualificou o movimento, por não ser organizado por partidos e entidades
sindicais. Dilma e o PT não entenderam. E, não levando os protestos em conta,
partiram para disputar a reeleição presidencial através das mesmas práticas
políticas partidárias parlamentares de sempre: procurando alianças com partidos
grandes para garantir a maioria no parlamento e se apresentando como a garantia
política da distribuição de renda e dos direitos sociais contra a direita
neoliberal.
Nas eleições presidenciais brasileiras de 2014 três candidatos
principais dividiram a preferência do eleitorado no primeiro turno: Aécio
Neves, candidato pela direita, que apesar de prometer manter os programas
sociais, enfatizava a necessidade de cortes nos gastos públicos e a diminuição
da carga tributária; a presidente em exercício, Dilma Rousset, candidata de
esquerda, defendo a continuidade de seu governo e de seus programas sociais,
abalados com vários escândalos políticos (ampliados pela cobertura negativa da
mídia); e Marina Silva, candidata originalmente do campo da esquerda ecológica,
que em virtude da morte do deputado Eduardo Campos, lançou-se pelo Partido
Socialista Brasileiro, com um programa híbrido de forças fragmentadas.
Em determinado momento, Marina ameaçou passar para o segundo turno.
Depois, em virtude das campanhas de propaganda negativa dos outros dois
candidatos e de suas próprias contradições internas, caiu vertiginosamente nas
pesquisas. E, no segundo turno, Marina perdeu ainda mais sua
representatividade, apoiando a candidatura de Aécio – mesmo contra a vontade
declarada da maioria de seus eleitores e aliados estratégicos. Não interessa
aqui saber da qualidade da candidata ou dos erros políticos e ideológicos dos
envolvidos nesse processo, mas sim ressaltar que no momento em que Marina
esteve à frente das pesquisas acendeu-se uma esperança de que o País pudesse
ser governado por pessoas orientadas para a utilização de tecnologia em função
da preservação do meio ambiente e de um desenvolvimento social, não apenas mais
justo e igualitário, mas também mais pluralista e complexo; de que o Brasil
poderia entrar na Era da Informação e sair do modelo de crescimento econômico
do tipo industrial – já abandonado faz tempo no primeiro mundo e ainda
apaixonadamente defendido pela direita e pelas esquerdas brasileiras.
No entanto, é interessante observar que, do ponto de vista estrutural,
realmente há três campos diferentes de ideias políticas no cenário eleitoral de
praticamente todos os países: o campo da direita, fiel defensor dos interesses
de mercado e do estado mínimo; o campo da esquerda, partidário de programas
sociais e de restrições comerciais; e o campo derivado da Contracultura,
pulverizado e preso a questões específicas do cotidiano, incapaz de abstrair um
projeto político que combine ecologia e tecnologia da informação. E,
principalmente, sem um programa político que integre os interesses de todas as
minorias que formam o campo em um único programa.
A rápida ascensão e queda de Marina Silva nos alerta para o peso das
lutas cotidianas (e das agendas feminista, ecológica, multicultural, LGTB, etc)
na vida política e para possibilidade de promover mudanças mesmo que parciais.
Alerta para emergência deste terceiro campo político, que ainda não conseguiu
formar líderes capazes e elaborar propostas realistas. E tudo indica que a
reconfiguração da Contracultura como uma ‘terceira força’ no campo do debate
político contemporâneo está apenas no início.
- O presidencialismo de coalizão
A Constituinte de 88 foi feita para o parlamentarismo
de Sarney e do PMDB, mas o plesbicito de 92 reafirmou a vontade popular de um
regime presidencialista. Aliás, as elites brasileiras são parlamentaristas e o
povo é presidencialista desde os tempos da monarquia parlamentar e do poder
moderador.
De modo que o
resultado do plesbicito nunca foi regulamentado, dando lugar a um sistema misto:
o presidencialismo de coalizão. E nenhum presidente governou sem o Congresso.
Collor foi deposto; Itamar Franco foi para o PMDB e nomeou ministros para ter
maioria; FHC, refém da reeleição, governou para o Congresso; e o governo Lula
foi pego pagando deputados por votos no primeiro mandato. Vivemos um meio termo
entre parlamentarismo e presidencialismo. Todos os presidentes tiveram que
governar atendendo aos desejos do parlamento.
Na busca da
governabilidade política (ampliando bastante o poder do parlamento na
administração), Dilma perdeu o poder gerencial, promovendo a privatização
política do serviço público pelo Congresso Nacional. Hoje, há a total
dependência do executivo do Congresso Nacional e uma visível ineficiência da
administração dos serviços públicos decorrentes de sua politização indevida. A
própria ideia de PEC (Proposta de Emenda Constitucional) coloca o poder
legislativo acima dos demais. O congresso nacional tem poderes constitucionais
permanentes. Isto é uma quebra do princípio de equilíbrio constitucional entre
os três poderes.
O primeiro passo
para a desprivatização dos serviços públicos seria a realização de concursos
públicos para administração federal (ao contrário do que prevê a PEC, que proíbe
concursos durante os próximos vinte anos). Concurso público não apenas para
reposição ou ampliação dos serviços atuais, mas para todos para cargos de
segundo e terceiro escalão. Imagine um INCRA administrado por técnicos (e não
por ruralistas ou 'sem-terra'); um IBAMA com seus escritórios estaduais sem
ingerência política; a Caixa Econômica, o Banco do Brasil, a Receita Federal
gerenciados por funcionários de carreira. Até as empresas estatais, como a
Petrobrás, e as universidades federais merecem ser chefiadas por especialistas
concursados. Não por políticos derrotados indicados por parlamentares eleitos.
Os tribunais de contas e até o poder judiciário também funcionariam melhor
houvessem concurso e não nomeações.
Hoje não se
consegue mais diminuir o número de ministérios e convidar técnicos
especialistas. A opinião dos parlamentares sobre os projetos que votam não
deveria ter, necessariamente, nada a ver com a escolha dos cargos executivos do
governo. No entanto, no presidencialismo de coalizão, essa equivalência entre
maioria parlamentar e participação no executivo se tornou uma prática política
muito difícil de acabar. Muitos, inclusive, confundem essa prática (em que
todos esquecem do interesse público para defender interesses particulares de
grupos e regiões, quando não os próprios interesses) com a ideia de democracia
política.
Sérgio Buarque de Holanda no livro Raízes do Brasil dá
grande ênfase à crise social e institucional provocada pela queda da
(progressista e popular) monarquia constitucional brasileira e sua substituição
por uma república presidencialista conservadora, defensora dos interesses das
elites rurais. Dentre os efeitos desta ruptura, os negros não foram integrados
à vida econômica nacional após à escravidão; e o povo brasileiro passou a se
sentir órfão do poder moderador do imperador, nutrindo um desejo inconsciente
de autoridade, de um ‘grande pai’ dos pobres.
Será que Vargas e Lula ocuparam este lugar simbólico
deixado por Don Pedro II?
A comparação entre os contextos a proclamação da
república (descrito por Holanda) e do impeachment de Dilma nos mostra várias
semelhanças estruturais, no sentido de ‘modernização conservadora’ para
preservar o interesse das elites em detrimento do interesse da maioria da
população defendido por um poder central. O presidencialismo de coalizão
fortalece a cordialidade colonial e a capacidade do povo brasileiro entender
corretamente o significado da esfera pública. A cordialidade é uma valorização
exacerbada da personalidade, dos favores pessoais e políticos, do nepotismo e
do clientelismo, a fusão simbólica entre o Estado e a família patriarcal, em
que as ações são concebidas e realizadas na esfera do íntimo, do familiar, do
privado.
É claro que existem vários outros fatores a serem
considerados para analisar a situação atual: o novo ativismo de direita, o
papel do judiciário, o projeto do governo Temer (retirada de direitos e a
redução do Estado); e, principalmente, a relação da conjuntura política
brasileira com o cenário global. E, é claro também que concurso público em
todos os níveis e reforma administrativa do executivo só não bastam. Apenas
várias décadas de educação inclusiva podem ensinar a cidadania. Não há outro
caminho para desprivatizar o país e deixarmos de vez de ser um conjunto de tribos
e etnias dominado por colonizadores espertos, preguiçosos e cordiais.
[1] Atualmente, as
imagens públicas de massa estão implodindo em micro imagens pessoais de rede
com a segmentação do consumo e com a interatividade relativa da comunicação
digital. Com a segmentação, há uma pulverização dos fluxos sociais e o
surgimento de ‘micro imagens públicas’: celebridades setoriais, tribais,
transnacionais e até celebridades locais virtuais. Há uma democratização
relativa da visibilidade. A Imagem Pública pessoal das redes é uma miniatura da
Imagem Pública de massas. Há inclusive vários tipos de sobreposição entre as
duas: escândalos das grandes Imagens Públicas através das redes digitais,
celebridades virtuais que chegam à grande mídia, etc. E com a interatividade, a
intimidade à distância deixa de ser ‘não-recíproca’, aumenta a participação da
audiência na construção da Imagem Pública. A visibilidade tornou-se uma relação
pessoal de micro poder. Em tempos de hipervisibilidade das redes, todos têm uma
Imagem Pública, quer queiram ou não, para zelar como patrimônio pessoal.
[2] O sociólogo Manuel
Castells discute e compara as jornadas brasileiras com outros movimentos
sociais contemporâneos semelhantes, organizados a partir da internet, no livro Redes de indignação e esperança (2016).
Fiz um resumo do trabalho e do pensamento de Castells, acessível em:
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