quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Tempo e Ficção


 
Marcelo Bolshaw Gomes 

Vivemos em uma sociedade semelhante à descrita no filme Matrix, aprisionados por tubos químicos e hipnotizados por sistemas audiovisuais, sonhamos viver outra vida enquanto somos dominados por máquinas - em que as drogas e os meios de comunicação de massa (e agora a Internet) são, mais que sonhos alienantes da realidade, novos modos de sujeição e controle. Os (anti)heróis agora são os hackers e que, vivendo entre o real e o virtual, utilizam-se das redes de forma a burlar o poder e o controle que a sociedade exerce sobre os indivíduos. 

Aliás, o gênero literário conhecido como 'ficção científica' tornou-se um campo privilegiado de reflexão sobre as idéias de utopia, tempo e máquina. Costuma-se dividir o gênero em momentos a partir dos diferentes arranjos destes elementos. O primeiro momento (Julio Verne e H. G. Wells da 'Máquina do Tempo') sonhavam com uma utopia tecnológica do futuro como uma sociedade igualitária e justa mas desprovida de sentimento. Já o segundo momento vai projetar uma sociedade dominada pelas máquinas, em que o homem é oprimido e escravizado (Aldous Huxley, George Orwell). Nessa concepção, a humanidade e a verdade estão perdidas no passado. É as máquinas dominam os homens através de sua falta de memória. 

No primeiro momento, o tempo é era histórico, linear e contínuo; e os viajantes do tempo se maravilhavam com uma sociedade sem trabalho manual nem luta de classes econômicas. No segundo momento, o tempo será sincrônico, instantâneo, as máquinas utilizam-se do tempo da simultaneidade para dominar os homens através do esquecimento serão um tema recorrente. As máquinas aqui são os vilões da história e os roteiristas abusam dos flash-backs.  

Chamamos o primeiro de Tempo Progressivo (do presente para o futuro) e o segundo de Tempo Regressivo (do presente para o passado).

Mas filmes de ficção científica com o tema de retorno do futuro para o presente (como no Exterminador do Futuro) e com cyborgs, principalmente Blader Runner, abrem uma terceira etapa do gênero: o paradigma do paradoxo temporal e da fusão homem/máquina. Nele, encontramos tanto a compreensão de que a tecnologia tanto pode ser utilizada para o bem-estar ou para o controle quanto a mesma idéia de que a simulação virtual do futuro está mudando nossa atualidade, de que vivemos agora em um tempo contínuo e sincrônico, simultaneamente. A chave para o futuro está no presente e no uso que fazemos da tecnologia. É um terceiro momento, um tempo, simultaneamente, progressivo e regressivo. É o paradigma do filme De volta para o futuro.

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