Apesar
de meu passado kardecista e umbandista, minha experiência com a Jurema não teve
nada a ver com caboclos ou com espíritos desencarnados. Foi uma vivência
mística com mãe terra, com a expressão do sagrado feminino do sertão, a
Jurema-orixá, força da natureza, aspecto da grande deusa das águas nos lugares
mais secos e desérticos.
Aspecto
da grande mãe? A grande mãe é a floresta, a inteligência do reino vegetal ou,
em uma escala maior, a natureza.
Arqueólogos
encontraram resquícios de Canabis em urnas incensarias de mais de 5000 mil anos,
dedicados a deusa lunar Isis, no antigo Egito. Hoje, adeptos do Santo Daime e
do xamanismo brasileiro chamam a mesma planta de ‘Santa Maria’ para escândalo
dos cristãos católicos e protestantes.Para mentalidade da religiosidade pagã,
porém, todas as outras plantas são, de efeito psicoativo ou não, aspectos do
Sagrado Feminino.
É
claro que a introdução do símbolo de uma divindade feminina no cristianismo foi
uma farsa histórica, uma ‘concessão’ da igreja católica ao paganismo. A Virgem
Maria ‘subiu aos céus’ 300 anos depois do filho, graça a um concilio
eclesiástico que a considerou ‘Mãe de Deus’. No entanto, foi uma concessão
conquistada pelos povos bárbaros. O melhor seria dizer que foi uma ‘negociação’
entre os sistemas de crenças dos colonizadores e dos colonizados - como também
foram os sincretismos dos santos católicos com os orixás africanos no Brasil e
no Caribe.
Prefiro
pensar que a natureza (em seus aspectos mais femininos) se veste segundo a
ocasião. Ela é o espírito santo dos protestantes, o Elohim (o nome de Deus
feminino plural em hebraico) para os judeus, o anjo que inspira Maomé para os
mulçumanos.
Ela é
a Rainha Jurema.
O livro ‘Meleagro’ de Luís da Câmara Cascudo estuda o Catimbó
nordestino, uma modalidade de feitiçaria mesclada por diversos elementos
étnicos brancos, negros e indígenas, mas bastante diferente da Pajelança
amazônica, do Candomblé baiano e da Umbanda carioca.
Bastante comum no início do século, no Rio Grande do Norte e na Paraíba,
o Catimbó era dirigido pelos “Mestres da Jurema” através de cantos chamavam “as
linhas” (falanges de espíritos) e os “encantamentos” (trabalhos mágicos para
cura, para sorte e para o amor). Cascudo descreve os rituais, detalha as
plantas medicinais, as entidades e os diferentes elementos simbólicos de
composição nestes trabalhos espirituais, bem como relata a vida de alguns dos
mestres ainda existentes entre 1928 e 1945.
Entre os elementos essenciais do altar do Catimbó estão os maracás
(chocalhos com sementes para marcação do ritmo dos cantos), as cuias com cauim
(cachaça feita à base de macaxeira fermentada consumida pelos participantes),
uma bacia de louça com água (a “princesa”), bonecas de pano (simbolizando
pessoas ausentes para quem se deseja enviar um encantamento), um cachimbo de
tabaco feito de pau da jurema (a “marca-mestra” ou simplesmente “mestra” usados
em inúmeras operações mágicas) e, finalmente, uma chave grande de ferro.
Também era comum a presença de livros como os de São Cipriano ou do
grupo ocultista Círculo Esotérico Comunhão do Pensamento. Porém, era difícil
encontrar a Bíblia ou livros kardecistas – o que levou a sociedade da época a
chamar a prática do Catimbó de “baixo espiritismo”.
A chave é um elemento simbólico importante, não só para abrir e fechar
as sessões espirituais, mas principalmente no ritual do “Fechamento de Corpo”.
Além de Cascudo, há um relato detalhado deste ritual feito por Mario de
Andrade, que levado por Cascudo aos cabimbós de Mãe Luiza em Natal, teve seu
“corpo fechado” pelo famoso Mestre João Germano das Neves.
E esse é o ritual mágico resgatamos e atualizamos para uma nova era de
espiritualidade.
ORAÇÃO DA CHAVE DE SÃO PEDRO
Pelos
poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita no alto da
cabeça)
Feche
a Porta da minha cabeça às influências
ruins - Pelos poderes da chave de São Pedro (troca mãos, colocando a
direita embaixo)
Abra
a Porta de minha Coroa para Luz Divina
- Pelos poderes da chave de São Pedro (com uma mão em cada olho)
Feche
a Porta dos meus olhos a todas as
ilusões - Pelos poderes da chave de São Pedro (mãos cruzadas na testa com a
direita por baixo)
Abra
a Porta de meu terceiro olho - Pelos
poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita na garganta)
Feche
a Porta de minha fala às palavras falsas
e cruéis - Pelos poderes da chave de São Pedro (troca mãos, colocando a
direita embaixo)
Abra
a Porta de minha voz para Verdade -
Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita no centro
do peito)
Feche
a Porta do meu coração aos maus
sentimentos - Pelos poderes da chave de São Pedro (troca mãos, colocando a
direita embaixo)
Abra
a Porta do meu coração para Alegria
- Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita no alto
abdômen)
Feche
a Porta do meu plexo solar aos medos
- Pelos poderes da chave de São Pedro (troca mãos, colocando a direita embaixo)
Abra
a Porta do meu plexo solar para Fé -
Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita abaixo do
umbigo)
Feche
a Porta do meu corpo a todas as doenças
- Pelos poderes da chave de São Pedro (troca mãos, colocando a direita embaixo)
Abra
a Porta do meu corpo para Saúde -
Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita sobre a
pélvis)
Feche
a Porta do meu sexo aos desejos
inconvenientes e inadequados - Pelos poderes da chave de São Pedro (troca
mãos, colocando a direita embaixo)
Abra
a Porta do meu sexo para Satisfação e o
Contentamento - E fecho meus trabalhos com o poder de São João (batendo
sete palmas)
E
abro meus caminhos com o saber de
Salomão (batendo sete palmas)
A oração da Chave de São Pedro pode ser feita individualmente, em duplas
ou em grupos em roda. Nos três casos, após terminar a oração, deve-se bater
sete palmas, uma sobre cada um dos centros trabalhados e no apenas no final
proferir o fechamento: “E fecho meus trabalhos (...); E abro meus caminhos
(...).”
No caso de duplas, deve-se utilizar a segunda pessoa do singular (tu ou
você) ao invés da primeira pessoa (eu). Assim, diga: “... fechar a porta da tua
cabeça...” e não “da minha cabeça”. Em duplas, a Oração tanto pode ser
realizada simultaneamente, com os dois participantes recitando e recebendo a
imposição, ou com cada um desempenhando os papéis de emissor e receptor, separadamente,
cada um de uma vez. No primeiro caso, ela pode ainda ser recitada
simultaneamente pelos dois participantes ou através da repetição de cada
frase/gesto (o que é mais aconselhável tanto para iniciantes como para os
casais que tem maior nível de intimidade e concentração).
No segundo caso, em que os papéis de emissor e receptor não se alteram,
deve-se observar uma sincronia na respiração dos participantes, com uma
inspiração profunda e uma expiração demorada a cada um dos sete pontos
trabalhados. A oração também pode ser acompanhada com visualização de cores em
cada um dos pontos pelo emissor experiente. Na oração tradicional, utilizada no
ritual de fechamento de corpo do Catimbó, as pessoas que recebiam a imposição
de mão cruzavam as pernas em pé, colocando o pé direito sobre o esquerdo. No
entanto, este procedimento é aconselhável apenas quando apenas um dos
participantes recebe o passe enquanto o outro recita a oração e faz a imposição
de mãos.
Nos três casos citados acima (a oração individual, em duplas de modo
recíproco e em roda) é aconselhável permitir o livre fluxo de energia ao invés
de concentrá-la (isto é: manter as pernas paralelas, os joelhos levemente
dobrados e os pés descalços em contato com a terra).
Em roda, reza-se a oração por três vezes consecutivas: a primeira nas
costas da pessoa que estiver a nossa esquerda, a segunda nas costas de nosso
companheiro à direita e finalmente individualmente. Também nessa modalidade é
aconselhável utilizar-se da repetição, com uma única pessoa recitando as
palavras e executando os gestos e as demais repetindo. Neste caso, o fechamento
da oração (com as duas séries de sete palmas) só é feito ao final da terceira
vez.