A mídia, na modernidade, sequestrou o 'lugar da fala' da autoridade pública e religiosa. Nas culturas pré-modernas, a informação era distribuída unicamente a partir dos estados e das igrejas. Ao se estabelecerem instituições de mediação com autonomia relativa, o 'monopólio da fala' foi terceirizado. Assim, a mídia é, ao mesmo tempo, um campo aberto para o diálogo direto entre os atores políticos e o público; e também mais um ator político com interesses próprios em um contexto social mais amplo. Ela é simultaneamente um campo para os agentes políticos e um agente social invisível que seleciona, hierarquiza e dá visibilidade aos acontecimentos.
Thompson prescreve uma metodologia hermenêutica não como uma alternativa aos outros métodos de análise já existentes, mas sim como um referencial metodológico geral, dentro do qual alguns desses métodos e técnicas específicas podem ser correlacionadas entre si.
Por entender que os processos de compreensão e de interpretação devem ser vistos não como uma dimensão metodológica que exclua radicalmente uma análise subjetiva, mas antes como uma dimensão que está no início e no final do conhecimento ao mesmo tempo, Thompson: a) parte da compreensão imediata que se tem de uma determinada forma simbólica na vida cotidiana, b) analisa objetivamente esta interpretação preliminar (consorciando vários métodos), e c) reinterpreta o significado da forma simbólica. A esta metodologia geral de interpretação dos discursos dos meios de comunicação, chama-se “enfoque tríplice” (THOMPSON, 1995: 355).
|
Emissor |
Mensagem |
Receptor |
OBJETO |
Análise sócio-histórica da produção e transmissão |
Análise Formal ou Discursiva |
Análise sócio-histórica da apropriação |
METODOS |
Situações espaço-temporais Campos de interação Instituições Sociais Estrutura Social Meios técnicos de transmissão |
Análise semiótica Análise de conversação Análise sintática Análise narrativa Análise argumentativa |
Interpretação das Mensagens Mapa das diferentes interpretações Re-interpretação da interpretação |
RESULTADO |
Síntese Hermenêutica |
Inicialmente (1995, 366), o objetivo da análise sócio histórica é reconstruir as condições sociais e históricas de produção, circulação e difusão das formas simbólicas. As maneiras como essas condições influenciam podem variar de acordo com a situação e o objeto pesquisado. Thompson propõe alguns níveis de análise: as situações de tempo/espaço em que as formas simbólicas são produzidas; os campos de interação (face a face, interação mediada); as instituições sociais; a estrutura social (as classes sociais, as relações entre gêneros e outros fatores sociais permanentes) e os meios técnicos de transmissão de mensagens (a fixação material e a reprodução técnica dos sinais). Em um segundo momento (1995: 369), toma-se a forma simbólica como um texto, isto é, uma estrutura narrativa relativamente autônoma de sua produção e de seu consumo. Neste sentido, a análise simbólica implica em uma abstração metodológica das condições sócio históricas de produção e recepção das formas simbólicas. Thompson adota vários métodos de análise discursiva: semiótica, sintática, narrativa, argumentativa, etc.
Finalmente (1995: 375), na última fase de sua hermenêutica, Thompson leva em conta a interpretação criativa do significado das formas simbólicas em diferentes contextos de recepção, inclusive no próprio contexto do analista/enunciador da interpretação. A análise dos diferentes contextos de recepção demonstra que por mais rigorosos que sejam os métodos e técnicas, eles não podem abolir a liberdade de interpretação dos públicos e das situações em que se encontram inseridos.
Aliás, temos, dentro da proposta do enfoque tríplice, uma síntese entre três tipos de estudos distintos da área de comunicação: a) A sociologia dos meios de comunicação (os estudos centrados no contexto de transmissão – seja na versão crítica que denuncia a indústria cultural ou na funcionalista que enaltece a comunicação de massa); b) a semiótica (e os vários tipos de estudos em torno da linguagem verbal e visual, retórica, filosofia analítica, analise discursiva e a própria hermenêutica); c) e, finalmente, os diferentes tipos de estudos de recepção (pesquisas de opinião quantitativas e qualitativas, pesquisas de agendamento e de análise bibliográfica especializada).
Thompson considera que em estudos midiáticos, ao contrário da hermenêutica literária tradicional, a “autonomia semântica das mensagens” é secundária diante dos contextos históricos de transmissão e recepção. E com essa ênfase sociológica nos contextos históricos dos interlocutores, Thompson não está apenas ampliando o alcance teórico da hermenêutica para além do discursivo, mas também adaptando a teoria da interpretação para o âmbito da sociologia da comunicação.
|
LINGUAGEM |
EMISSOR |
Práticas Sociais |
RECEPTOR |
Produção de Sentido |
Atualmente, chama-se de 'Práticas Sociais' aos estudos envolvendo a relação entre a estrutura e a mensagem; e de 'Produção de Sentido' para os que enfatizam a relação entre linguagem e recepção.
Bibliografia
THOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna – teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 1995.
Nenhum comentário:
Postar um comentário