terça-feira, 21 de maio de 2019

A divisão da extrema direita


Há generais cultos e inteligentes. Geisel, por exemplo, elaborou uma diplomacia independente dos EUA e tinha um projeto desenvolvimentista baseado em estatais. O General Golbery do Couto e Silva escreveu livros teóricos sobre geopolítica, articulou o golpe de 64 e coordenou a abertura política dos anos 80. Outra coisa é Sérgio Fleury, major Curió, coronel Ustra, Newton Cruz (responsável pela bomba do Rio Centro) ... Esses eram torturadores de baixa patente, bandidos de farda, um lixo que o próprio regime queria esconder. Nosso presidente se identifica com eles e não com a inteligência militar brasileira.
O mesmo pode ser dito de intelectuais de direita, como José Guilherme Merquior, crítico literário, ensaísta, diplomata, sociólogo, cientista político, membro da Academia Brasileira de Letras, que colaborou com o SNI e com a ditadura e produziu textos teóricos contra a Escola de Frankfurt. Outra coisa é catolicismo de direita de Olavo de Carvalho, que não respeita o Papa Francisco ou o concílio vaticano segundo e nunca produziu textos significativos sobre nada (são apenas textos morais anticomunistas). Ele se fundamenta apenas no despeito intelectual, no ressentimento contra os privilégios perdidos, no rancor contra a modernidade.
Também acredito que existam evangélicos e conservadores sérios. Mas, não é desses que o nosso presidente se aproxima. Jesus mandavam abandonar tudo (os bens materiais) e segui-lo. Dizia que era mais fácil um camelo passar uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. E chicoteava sem pena os farsantes que pediam dinheiro em nome do divino. E nada disso é seguido pelo adeptos religiosos do presidente. São os atuais fariseus – “sepulcros caiados” como dizia o próprio Cristo, “bonitos por fora e podres por dentro”.
A união entre militares-milicianos, pseudo-intelectuais e pilantras neopentecostais se forjou através do discurso do ódio às classes populares. Mas, só tem isso em comum. Então, era só uma questão de tempo para que eles se estranhassem.
O único inimigo real (no sentido de um projeto político) é o neoliberalismo parcial representado por Paulo Guedes. Digo parcial porque o verdadeiro livre comércio é multilateral e o governo defende a submissão aos interesses comerciais dos EUA. Ele também é parcial em relação aos bancos nacionais, uma vez que ao invés de abrir novas carteiras de crédito (forçando a diminuição proporcional da dívida pública e dos juros), ele só pensa em acabar com a previdência social transformando-a em uma sistema de capitalização. Os cortes na educação são apenas uma cortina de fumaça ou um objetivo tático.
E a grande questão que se coloca é se o governo vai conseguir aprovar a reforma antes de se desfazer ou não.

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