Era uma
vez um ratinho. Ele e seus amigos gostavam de passar as noites ouvindo os
velhos ratos contando suas histórias. E a história favorita do ratinho era, de
longe, a história das terras distantes, para além das altas montanhas. Tanto é
que ele gostava dessa história que todas as noites, sonhava em ir viver nas
terras distantes. Um dia, o ratinho disse para si mesmo:
- Eu
simplesmente preciso ver essas terras distantes!
Naquela
mesma manhã, partiu em sua jornada. Ele viajou quase o dia inteiro, parando
apenas para descansar e comer. Até que chegou a um grande rio, largo e
profundo, impossível de ser cruzado pelo pequeno ratinho.
- Oh,
como eu nunca atravessar este rio? - disse para si mesmo. De trás dele, ele ouviu
uma voz grave.
- Você
não sabe nadar?
Ele
olhou e viu um sapo tomando sol deitado em uma folha. - Nadar? O que é isso? -
perguntou o rato.
O sapo
pulou na água e começou a bater as pernas.
- Isto
é a natação, idiota - disse o sapo.
-
Agora, me diz por que você quer para atravessar o rio afinal?
- Eu
tenho o sonho de viver nas terras distantes por muitas noites. Eu simplesmente
preciso ver isso! - explicou o rato.
- Meu
nome é Kambô - disse o sapo - e eu vou ajudá-lo. Vou te dar dois dons mágicos.
O primeiro te fará capaz de dividir seus sentidos com os outros e o segundo
passará minha capacidade de pular para você. Se agache e pule o mais longe que
puder.
O rato
pulou e sentiu uma sensação estranha nas pernas. Elas pareciam muito mais
fortes do que antes e percebeu que ele tinha saltado mais longe do que ele já
tinha conseguido antes.
-
Obrigado, amigo! Que bom esse remédio que você deu para mim.
- Você
vai experimentar muitas dificuldades em sua viagem, mas se você mantiver a
esperança viva dentro de você, você vai chegar às terras distantes - disse
Kambô - e eu dar-lhe um novo nome. Você agora será chamado de rato saltador.
E
acenou, pulando de volta para dentro das suas plantas. Enquanto o rato saltador
pulou para o outro lado do rio e seguiu viagem. Em sua mente, ele ainda podia
ouvir palavras mágicas de Kambô: "Manter viva a esperança dentro de você
..." O rato saltador continuou andando até o anoitecer, e, em seguida,
cavou um buraco e foi dormir. No dia seguinte, o rato chegou a uma pradaria.
Ele estava caminhando quando viu uma pedra enorme pela frente. Ao se aproximar,
ele viu que não era uma pedra, mas um grande búfalo deitado no chão.
- Meu
amigo - disse o rato - por que você está deitado ai como se estivesse morrendo?
- Estou
morrendo - disse o búfalo - eu bebi de um poço com água envenenada e eu perdi
minha visão, não posso encontrar as águas frias a beber ou a erva-doce para
comer. Estou aqui deitado esperando o fim.
- Eu
sou rato saltador. Meu amigo Kambô me deu alguns poderes da medicina. Eu não
sou tão forte como ele, mas vou ajudá-lo. Eu te nomeio “Os olhos de um rato”,
passando par a você minha visão.
Mal o
rato disse isso quando o búfalo levantou, olhou em volta e piscou os olhos de
espanto. Ele bufou com a felicidade. Rato saltador ouviu isso, mas não podia
mais vê-lo, pois ele tinha dado a vista e ficado cego.
- Como
posso agradecer a você, meu pequeno amigo? - disse ‘Olhos de um rato’ - Este é
um dom maravilhoso que você me deu. Em retribuição, vou levá-lo à beira da
pradaria.
E o
rato saltador subiu no búfalo e, desta forma, chegou à beira da pradaria.
Quando eles chegaram, ‘Olhos de um rato’ disse:
- Eu
sou uma criatura das pradarias, então eu devo parar por aqui. Meu amigo, como
você vai fazer sobre as montanhas, se você não pode ver?"
- Não
sei, mas tenho uma esperança viva dentro de mim.
Rato saltador deu adeus ao amigo ‘Olhos de um rato’ e, mesmo sem enxergar, tomou o caminho para as montanhas. E quando a noite caiu, ele sentiu frio e cavou um buraco para dormir.
Rato saltador deu adeus ao amigo ‘Olhos de um rato’ e, mesmo sem enxergar, tomou o caminho para as montanhas. E quando a noite caiu, ele sentiu frio e cavou um buraco para dormir.
Acordou
com o sol já alto e saiu tateando o longo caminho até as montanhas, cheirando
e, ocasionalmente, mordiscando gramíneas de pequeno porte. Repente, ele bateu
em algo. Sentiu pele sob as patas pequenas. Ele cheirou e percebeu que tinha
tropeçado em um lobo.
- Olá!
Estou o rato saltador. Quem é você?
- Eu
sou apenas um lobo.
- Por
que você está sentado lá no meio do caminho? - perguntou o rato.
- Eu
era uma vez uma criatura muito orgulho, com muito bom senso do olfato -
suspirou o lobo - Porque fui muito orgulhoso, tive esse dom tirado. Eu aprendi
a ser humilde, mas agora não posso cheiro para encontrar comida para comer. Eu
certamente vou morrer.
O rato
ficou triste com a história do lobo.
- Meu
amigo Kambô me deu alguns poderes da medicina. Eu não sou tão forte como ele,
mas vou ajudá-lo. Eu te nomeio “Nariz de um rato”, passando par a você meu
olfato. E o lobo farejou o ar da montanha e uivou de alegria, dançando em
círculo.
- Eu
posso cheirar as árvores e as flores de novo!
E o
rato saltador ouviu alegria do lobo, mas, infelizmente, não podia mais cheirar
as árvores e flores, tinha dado o seu sentido ao amigo.
- Este
é verdadeiramente um dom maravilhoso que você me deu - disse o ‘Nariz de um
rato’ - Deixe-me retribuir. Suba em mim e te levo para as montanhas perto das
terras distantes.
E o
lobo levou o rato em suas costas até as altas montanhas, perto das terras
distantes. Quando chegaram, lobo ajoelhou-se com cuidado para que o amigo
pudesse descer e disse:
-
Pequeno amigo, eu sou uma criatura das montanhas, por isso não posso ir em
frente. Mas você ... como você vai seguir até as terras distantes, não sendo
capaz de cheirar ou ver?
- Não
sei, mas a esperança está viva dentro de mim.
Os dois disseram adeus, e nariz de um rato trote de volta para as montanhas.
Os dois disseram adeus, e nariz de um rato trote de volta para as montanhas.
- Estou
aqui nas terras distantes - disse o rato - ouço o som das folhas das árvores, o
sol aquece meu corpo, também sinto o vento ... Mas eu nunca vou ser como eu
era. O que devo fazer?
E
começou a chorar.
- Rato
Saltador - ouviu uma voz grave.
-
Kambô, é ... é você?"
- Sim,
meu amigo, sou eu Kambô, o sapo mágico. Você tem sofrido muito em sua longa
jornada e experimentou muitas dificuldades. Mas foi o seu coração generoso, sua
generosidade, que ajudou a trazê-lo aqui. Você não tem nada a temer, meu
pequeno amigo.
Em
seguida, Kambô levou o rato à beira de um precipício e gritou:
- Pule,
rato saltador, pule!
E o
rato saltador pulou e sentiu que seu corpo se transformava. Suas patas
esticaram e se tornaram poderosas. E logo ele estava sentindo o vento fluindo
sobre ele e sob ele. Ele olhou e podia ver as montanhas lá embaixo. Ele
respirou e sentiu o cheiro dos pinheiros e da terra.
E, de
lá de baixo, ele ouviu o sapo:
- Eu
Kambô, o sapo mágico, te dou um novo nome, rato saltador. Você agora será
chamado de Águia Dourada ... e você vai viver nas terras distantes, voando
livre para sempre.
Lenda das tribos indígenas das pradarias norte-americanas, em especial os Sioux ou
Dakota. Os quatro animais (o rato, o lobo, o búfalo e a águia – com algumas
variações em algumas tribos) eram tidos como totens (eram protetores de
indivíduos tinham suas qualidades) e também representavam os pontos cardeais,
formando uma mandala (o sapo está no centro). A narrativa oral era contada em
rodas em volta das fogueiras, com uma mimese corporal específica que aludia aos
animais e aos pontos cardeais.
Há duas interpretações tradicionais para a
história.
A primeira acredita que ela representa a
trajetória de uma pessoa através da vida. O rato é a criança. Se torna
adolescente ao se tornar o rato saltador. O búfalo representa a maturidade; o
coyote, a velhice; e a águia, a morte. A história seria uma celebração da
história de vida de todos da comunidade, que nos ensina a aceitar as perdas e
seguir em frente.
Há também uma interpretação xamânica que
interpreta a história como uma jornada iniciática. Nessa interpretação, o rato
representa o corpo do neófito; o búfalo-e-a-visão representa a mente; e o
coyote-e-o-olfato representa o coração. O iniciado precisa dominar a mente o
coração para alcançar o espírito, representado pela águia. O sapo é o xamã,
coordenador do processo. Essa interpretação sugere de que se trata de um ritual
de superação de provas e desafios.
Todos estão a falar
Com medo de procurar
Seu sonho realizar
Um dia eu vou me encontrar.
Nas terras
distantes, nas terras distantes;
Nas terras
distantes, nas terras distantes.
Um sapo me entregou
Dois dons de grande valor
Um é de ser saltador
O outro é de dar o que sou
Nas terras
distantes, nas terras distantes;
Nas terras
distantes, nas terras distantes.
Fiz amizade com boi
Meus olhos a ele entreguei
Em troca desse favor
No lombo dele, eu montei
Nas terras
distantes, nas terras distantes;
Nas terras
distantes, nas terras distantes.
Quando do boi desgarrei,
Um cheiro forte encontrei,
Era um lobo-guará
Meu olfato a ele entreguei.
Nas terras
distantes, nas terras distantes;
Nas terras
distantes, nas terras distantes.
Nas terras distantes cheguei,
Meu sonho realizei
As perdas eu superei,
Na Águia me transformei.
E vivo nas
terras distantes, vivo de modo constante
Livre a todo
instante, vivo nas terras distantes.