LIBERDADE SEM IDENTIDADE
O
Ego é uma prótese mental em cada indivíduo, através da qual a sociedade induz
as pessoas a comportamento sistêmicos. O ego contra hegemônico ou crítico é tão
sistêmico quanto o dominante. Apenas a consciência está fora do sistema. Apenas
através da observação rigorosa de si mesmo e do conjunto das relações em que se
está em inserido é possível falar de liberdade.
A
liberdade não é a qualidade de seleção do ego individual, mas sim a capacidade
de não se identificar com as representações de outras vontades de poder. Sem
identidade, as escolhas individuais não são recorrentes e abrem novas
possibilidades. A identidade do ego é formada pelas opções condicionadas (gosto
disso, sou assim, meu mundo me define) que se fazem passar por liberdade de
decidir.
O
que chamo de aprendizado é justamente o contrário: a não identidade. A
consciência observando sem preferências, as decisões e escolhas sempre feitas
no presente, de acordo com cada contexto, sem referências à identidade ou à
representação do ser.
O
império das instituições sobre o corpo (e dentro dele) não significa que
condicionamento estrutural seja absoluto e que a vontade não possa agir de
acordo com a consciência. Para Flusser, por exemplo, é a desmecanização do
funcionário pela consciência que o liberta do aparelho/dispositivo. Vários
fizeram essa mesma travessia entre o estruturalismo e o pós estruturalismo: Bourdieu,
Greimas, Foucault – todos retomam a ideia de “sujeito” de modo bem diferente do
idealista fenomenológico que combateram. Foucault, na Hermenêutica do Sujeito,
diz que o poder pastoral é uma “conduta”; Bourdieu vai adotar a noção de “práticas
sociais” e não uma ação social ou algo que remeta a atividade voluntária dos
agentes; Greimas deseja elaborar uma gramática das paixões.
Deleuze (e o budismo em geral) enfatizam o desejo (mais do que a vontade de poder). O consumo, por sua vez, é a transformação dos desejos em prática social de identidade. E a liberdade, no sentido oposto, é a arte de saber desejar sempre novos objetos e sujeitos.
Deleuze (e o budismo em geral) enfatizam o desejo (mais do que a vontade de poder). O consumo, por sua vez, é a transformação dos desejos em prática social de identidade. E a liberdade, no sentido oposto, é a arte de saber desejar sempre novos objetos e sujeitos.
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