quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Ciência é observação


LIBERDADE SEM IDENTIDADE

O Ego é uma prótese mental em cada indivíduo, através da qual a sociedade induz as pessoas a comportamento sistêmicos. O ego contra hegemônico ou crítico é tão sistêmico quanto o dominante. Apenas a consciência está fora do sistema. Apenas através da observação rigorosa de si mesmo e do conjunto das relações em que se está em inserido é possível falar de liberdade.

A liberdade não é a qualidade de seleção do ego individual, mas sim a capacidade de não se identificar com as representações de outras vontades de poder. Sem identidade, as escolhas individuais não são recorrentes e abrem novas possibilidades. A identidade do ego é formada pelas opções condicionadas (gosto disso, sou assim, meu mundo me define) que se fazem passar por liberdade de decidir.

O que chamo de aprendizado é justamente o contrário: a não identidade. A consciência observando sem preferências, as decisões e escolhas sempre feitas no presente, de acordo com cada contexto, sem referências à identidade ou à representação do ser.

O império das instituições sobre o corpo (e dentro dele) não significa que condicionamento estrutural seja absoluto e que a vontade não possa agir de acordo com a consciência. Para Flusser, por exemplo, é a desmecanização do funcionário pela consciência que o liberta do aparelho/dispositivo. Vários fizeram essa mesma travessia entre o estruturalismo e o pós estruturalismo: Bourdieu, Greimas, Foucault – todos retomam a ideia de “sujeito” de modo bem diferente do idealista fenomenológico que combateram. Foucault, na Hermenêutica do Sujeito, diz que o poder pastoral é uma “conduta”; Bourdieu vai adotar a noção de “práticas sociais” e não uma ação social ou algo que remeta a atividade voluntária dos agentes; Greimas deseja elaborar uma gramática das paixões. 

Deleuze (e o budismo em geral) enfatizam o desejo (mais do que a vontade de poder). O consumo, por sua vez, é a transformação dos desejos em prática social de identidade. E a liberdade, no sentido oposto, é a arte de saber desejar sempre novos objetos e sujeitos.  

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