Do Eu Superior ao Corpo
O
místico Ramana Maharshi (1972) desenvolve uma analogia entre cinema e
percepção, em que se observa o processo cognitivo descendente, do abstrato para
o concreto.
CINEMA
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PERCEPÇÃO
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DIMENSÃO COGNITIVA
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A
luminosidade acessa ou ausente.
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A
consciência
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A
CONSCIÊNCIA
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A lâmpada
no interior do equipamento
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O Eu
superior, self ou esfera luminosa.
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A lente
diante da lâmpada
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A Mente
Coletiva
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A MENTE
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A luz da
lâmpada atravessa lente formando um foco
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A
Consciência se projeta através da mente gerando a atenção e o tempo contínuo.
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O EGO
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A luz que
atravessa a lente e ilumina a tela
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A
Consciência atravessa a Mente e o Ego formando uma Personalidade ou um eu
observador (ou jiva).
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O EU OBSERVADOR
OU A PERSONALIDADE
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A
película, as memórias externas gravadas e enviadas de fora.
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A
imaginação simbólica, o fluxo das imagens narrativas, arquétipos, memórias.
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A
LINGUAGEM SIMBÓLICA
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Os vários
tipos de imagem na tela
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Várias
formas e nomes, que surgem como objetos percebidos à luz do mundo.
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A
REALIDADE HOLOGRÁFICA
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Projetor
de filmes
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Corpo
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REALIDADE
EXTERIOR
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Em um primeiro momento, a Consciência
é a percepção. Representa a luz que projetada sob diferentes objetos. Se
prestarmos atenção ao que vemos, os olhos se iluminam; se buscarmos perceber os
sons, a consciência se focara em nossa capacidade auditiva; e assim por diante.
Nesta analogia, a consciência é a atenção que se desloca segundo nossa
percepção seletiva. Assim, como a luz é produzida por uma lâmpada, a
consciência é produzida por um suporte, de uma esfera luminosa, o Self,
Eu superior ou centelha divina. E este é o segundo momento da comparação de
Mararshi.
O terceiro momento desta analogia
consiste na lente que a luz da lâmpada transpassa na projeção de um filme e a Mente
Coletiva e externa por onde consciência do Self passa ao perceber as
diferentes dimensões (racional, sentimental, sensorial) da realidade. A mente
aqui não é individual, e sim um filtro social, intersubjetivamente construído.
No quarto momento do processo, a
Consciência projeta sua luz através da Mente Coletiva com assertividade,
formando um foco, um centro direcional da consciência imediata chamado de
'atenção'. A criação do Ego, este centro de direcionamento da consciência,
cria também o tempo contínuo, a narrativa do passado e as esperanças futuras.
No quinto passo da analogia de Maharshi
surge a comparação entre a projeção do filme e o "Observador", isto
e, um eu-foco formado para observar o pensamento, a mente e as percepções da
consciência. Este observador é um determinado enquadramento autoconsciente que
criamos para nos tratar na terceira pessoa e existe em várias meditações. Nesse
ponto também se pode localizar a Personalidade – uma vez que apenas uma minoria
observa ao próprio filme, preferindo simplesmente projetá-lo. Portanto,
desenvolver um 'Eu Observador' ou um 'Eu Exibidor' (a Personalidade) vai
depender da consciência em relação ao Ego e à Mente.
No sexto nível da analogia, surge um
elemento externo: a película. E, internamente, os fotogramas do filme projetado
correspondem às variadas formas mentais (arquétipos, memórias, imagens) que
formam o pensamento e a imaginação simbólica. Agora, percebe-se que realidade é
semelhante à projeção das imagens na tela do cinema. A diferença é apenas no
modo de representação: no cinema as imagens são projeções bidimensionais; e a
realidade é holográfica e solida.
Mas, também, tanto no cinema como na
percepção, há as imagens de referências externas (sensoriais, mentais, emocionais);
há imagens produzidas pela memória, outras pela imaginação. O sétimo nível da
percepção, então, é a interpretação seletiva das imagens, em que classificamos
involuntariamente os diferentes itens de nossa percepção.
E finalmente, há o mecanismo responsável pela projeção das imagens, a
máquina ou o corpo. Este mecanismo recebe as imagens automaticamente e não tem
consciência plena de seu significado. Chama-se aqui essa instância de espaço
exterior.
O importante nessa analogia entre cinema e percepção é visualizar o processo cognitivo em seu conjunto em sete etapas sucessivas: a consciência (a luz e o self), a mente coletiva, o ego, o observador/personalidade, a linguagem simbólica, a realidade interior e a realidade exterior.
O importante nessa analogia entre cinema e percepção é visualizar o processo cognitivo em seu conjunto em sete etapas sucessivas: a consciência (a luz e o self), a mente coletiva, o ego, o observador/personalidade, a linguagem simbólica, a realidade interior e a realidade exterior.
MAHARSHI, Ramana. Quem sou Eu? 1972.