Eu já conhecia a tradução de Alfredo
Braga para os de Omar Khayan.
Também já conhecia O
vinho do Místico, a versão
comentada por Paramahansa Yogananda.
Mas, só agora descobri os estudos de
Fernando Pessoa.
O fim do longo, inútil dia ensombra.
A mesma esperança que não deu se escombra,
Prolixa… A vida é um mendigo bêbado
Que estende a mão à sua própria sombra.
Dormimos o
universo. A extensa massa
Da confusão das
cousas nos enlaça.
Sonhos; e a ébria confluência
humana
Vazia ecoa-se de
raça em raça.
Ao gozo segue a dor, e o gozo a esta.
Ora o vinho bebemos porque é festa,
Ora o vinho bebemos porque há dor.
Mas de um e de outro vinho nada resta.
Contém o fruto
inteiro tantos gomos
Quantos são os que nele.
Mudos pomos
A fé em mãos que
nada têm com ela.
Viver é nos tornar
o que já somos.
Vimos de nada e vamos para onde.
Perguntamos, e nada nos responde,
A verdade e a
mentira são irmãs:
O que é que o evidente nos esconde?
Bordei a conclusões
a externa prova.
Minha memória emudeceu
de nova.
Não fui rei, nem
fui paria, nem estive entre,
Corcunda, o fado
não me deu corcova.
Amei ou não amei? Não sei dizer.
Quis ou não quis? Recordo sem saber.
O que foi, e o que fora se se dera,
Na mesma cova estão. Mas que é morrer?
Os doze signos de
seu régio curso
Passou o sol, no
imposto seu percurso.
Sem mágoa morre o
que nasceu sem esperança,
E o resto é amor ou
vinho, ou vão discurso.
Entre gente que é vil, e outra que é serva,
Passam meus dias, como um verme entre erva.
Humilde absurdo exótico dos deuses,
Arrasto-me, mas sinto o deus que observa.
A esperança, como
um fósforo inda aceso,
Deitei, e
entardeceu no chão ileso.
A falha social do
meu destino
Reconheci, como um
mendigo preso.
Cada dia me traz com que esperar
O que dia nenhum poderá dar.
Cada dia me cansa da esperança…
Mas viver é esperar e se cansar.
O prometido nunca
será dado
Porque no prometer
cumpriu-se o fado.
O que se espera, se
a esperança é gosto,
Gostou-se no esperá-lo,
e está acabado.
Quanta nobre vingança contra o fado
Me deu o verso que a dissesse, e o dado
Rolou da mesa abaixo, oculta a conta,
Nem o buscou o jogador cansado.
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