O QUE FAZER COM QUE FIZERAM CONOSCO
1.
INTRODUÇÃO
Na Contribuição à crítica da economia política (1977, p. 49-50), Marx,
quando se refere ao conjunto da sociedade, distingue a existência concreta dos
homens de suas formas de consciência social. A existência concreta equivale à infraestrutura
econômica e às ‘forças produtivas resultantes da interface entre o Homem e a Natureza;
e as formas de consciência social, à superestrutura e às relações dos homens
entre si, à luta política e cultural entre as classes sociais. Lá para tantas, Marx
pergunta: “são os homens que fazem a história ou a história que faz os homens?”
E ele mesmo responde que a práxis é a dialética entre a ação humana e o
contexto estrutural, a revolução, quando “os homens tomarem as rédeas da
própria história”.
Segundo essa perspectiva, existiriam
duas correntes polares: o Idealismo (os homens fazem a história) e mecanicismo
determinista (a história faz os homens). O idealista sonha: “Não somos algo que
nos aconteceu. Somos o que escolhemos me tornar”. No entanto, bem entendida a
liberdade de escolha de todos, as pessoas são formadas pelos acontecimentos de
suas vidas. Por outro lado, há também o ponto de vista determinista: “O homem é
uma folha em branco” escrita pela sociedade (Hume e Locke), produto do contexto
social, histórico e geográfico.
Para Marx, infraestrutura e
superestrutura se condicionam mutuamente, mas, que, ‘em última instância’, as
necessidades predominam sobre as formas de consciência. As mudanças sociais,
nessa perspectiva, ocorrem inicialmente na infraestrutura produtiva (entre as
classes e organizações); e, em um segundo momento, na reprodução das condições
de produção: a superestrutura (no presente, no aqui-e-agora).
O pensamento político de Lenin
associa os termos ‘estratégia’ e ‘tática’ à distinção marxista entre o
estrutural e o conjuntural. A estratégia defende mudanças históricas; a tática,
luta pelo imediato, pela sobrevivência. A ortodoxia marxista-leninista é
construída por esse foco duplo estrutural. No livro O Estado e a Revolução (2017), por exemplo, Lenin argumenta
simultaneamente contra a socialdemocracia menchevique, cuja a estratégia se
resumia a chegar a um governo democrático liberal e o anarquismo cuja estratégia
era lutar imediatamente a uma sociedade sem estado. Para ele, os mencheviques
não tinha uma proposta histórica estrutural, só tática imediata; e os
anarquista (depois substituídos pelos trotskistas), ao inverso, não tinham uma
política realista apenas um objetivo final[1].
Gramsci traz de volta o foco para
sociologia e para tema da práxis definido por Marx. Gramsci e o eurocomunismo,
no entanto, defendem uma estratégia de chegar ao poder pela via eleitoral, a
conquistar as instituições da superestrutura primeiro para depois fazer as
mudanças econômicas infra estruturais. Gramsci distingue duas ações sociais: o
agir, atividade consciente individual, superestrutural; e o fazer histórico das
classes, infra estrutural. A práxis seria então a união do agir com o fazer.
Bourdieu (2000) promove uma
reunificação dos contextos e chama de práxis à interação entre as condições
objetivas e os esquemas subjetivos postos em uma única perspectiva. Acredita superar
assim tanto o objetivismo estruturalista (com ênfase no condicionamento social)
como o idealismo fenomenológico (que crê na preponderância dos seus esquemas
subjetivos). A práxis são as práticas sociais, a reprodução em constante
adaptação.
Porém, foi Jean Paul Sartre (2002, p.
15) que, levando a práxis de volta para o pessoal (e para o ‘menos estrutural’),
fez a observação mais relevante para nosso contexto atual: “Não importa o que
fizeram conosco. O que importa é o que fazemos com o que fizeram de nós”. Ou
seja: como nossa consciência pode reverter nosso condicionamento social, como escapar
da identidade cultural em que somos aprisionados pela sociedade, pela
comunidade e pela família.
A liberdade individual (diante da
estrutura imposta pelas vontades de poder coletivas) se torna uma forma de
resistência pessoal: não se entregar ao consumo midiático, não se entregar ao
entretenimento, não se entregar a ilusão ideológica e a ‘imagem invertida’ da
realidade produzida para mascarar as injustiças e desigualdades.
2. CONSCIÊNCIA E CONDICIONAMENTO
O conflito entre determinismo causal
e idealismo continuou. No campo da psicopedagogia, o determinismo se fortaleceu
com o behaviorismo (o adestramento corporal baseado em prêmios e castigos), mas
também ao pensamento crítico de Foucault e Bourdieu – que entendem o ensino
tradicional como disciplina e adestramento do corpo e da mente.
Foucault (2009) apresenta a escola
como uma instituição de confinamento da sociedade disciplinar, e, assim como a
fábrica e o hospital, funciona sob o design modelo da instituição
penitenciária, o panóptico, um regime de visibilidade em que o carcereiro vê
todos os presos isolados. Essa centralidade do poder em relação aos dominados
pode ser vista na imagem do professor falante diante de uma sala com filas de
cadeiras de estudantes passivos. E o objetivo das instituições de confinamento
é adestramento dos corpos em relação aos desejos; é impor rotinas de vida
uniformizadas, produzindo o cotidiano como cultura. A escola é uma instituição
de confinamento e disciplina.
Outra visão crítica importante é a de
Bourdieu (2014a, 2014b). Para ele, a escolar tem uma dupla função: transmitir
capital cultural entre as gerações e reproduzir e ampliar as desigualdades
sociais entre as classes. A escola manifesta uma ‘indiferença às diferenças’ no
processo de transmissão do capital cultural. Todos são tratados como ‘iguais’
embora sejam ‘diferentes’.
Esse enquadramento simbólico de todos
à igualdade é um fator violento de desqualificação da maioria. A uniformização
das diferenças é uma violência simbólica. Ela é uma imposição dos dominantes
diante da submissão voluntária dos dominados. No caso da escola (pública e
gratuita) francesa estudada, Bourdieu argumenta que transmissão primária de
capital cultural é feita dentro da família e que a educação escolar é uma
transmissão secundária que amplia o capital daqueles que os já detém e que
desqualifica a maioria que dele carece. Assim, ele reforça culturalmente uma
desigualdade social já existente, a transmissão de capital cultural através do
entorno familiar produz desigualdade em relação à transmissão secundária do
entorno escolar[2].
Enquanto o determinismo sufoca a
ideia de liberdade individual diante das estruturas coletivas, o idealismo
também ressurge sempre, desta vez na forma de psicopedagogias construtivistas e
do interacionismo simbólico. George Herbert
Mead é o principal expoente da interacionismo simbólico crítico às ideias de
Skinner e ao comportamentalismo pedagógico.
O livro Mente, self e a sociedade
(2021) considera a escola como um
espaço protegido para o desenvolvimento do Self, a partir das interações entre
o Eu e o Outro[3].
O ‘Eu’ é o agente (sujeito do enunciado); o ‘Mim’ é o produto dos
condicionamentos sociais (o sujeito da enunciação); e o Self é o resultado da
relação entre o agente e o sujeito passivo. O aprendizado acontece (dentro e
fora do entorno escolar) quando o indivíduo consegue tomar a si mesmo como
objeto de reflexão das três instâncias simultaneamente: o Eu, o Self e o Outro
generalizado.
A ideia
embutida no interacionismo simbólico é que podemos romper com o condicionamento
(de mim) através da reprogramação das rotinas cognitivas (do Eu) e da
integração progressiva do Outro no Self. Ou seja, é possível romper com o
condicionamento social imposto indiretamente através das interações imediatas.
3.
O QUE É INTERAÇÃO?
Max Weber foi o primeiro a definir
‘Interação Social’ como sendo uma Ação Social mútua e recíproca entre dois (ou
mais) atores ou sujeitos. A interação é dita social não apenas por produzir
significado, mas também por ser uma prática social e se inscrever num contexto
que influencia as ações.
De um ponto de vista epistemológico
mais amplo, o termo foi e é utilizado de diferentes formas em diferentes áreas:
há interação gravitacional, interação nuclear, interação eletromagnética. Devido
seu caráter de reciprocidade mútua-consciente (ou reativa-involuntária), ‘interação’
era o oposto de ‘unidirecional’ ou de ‘causalidade’. Muitos pensadores de
ciências sociais utilizaram o conceito de Interação Social de diferentes
formas: Parsons usou a interação social como cimento do funcionalismo
sistêmico, Habermas a interpretou como ação comunicativa em condicionamento
estrutural econômico e político, Goffman a utilizou como estratégia cognitiva;
mas para todos ela representa uma troca imediata, de curto prazo (Primo, 1999).
Atualmente, em oposição a essa noção genérica
de Interação Social, o termo ‘Relação Social’ aponta para trocas sociais
recorrentes de longo prazo. As ‘relações sociais’ são políticas, religiosas,
culturais, familiares e pessoais. Em sociologia, normalmente, as ‘relações’ são
pensadas com atores coletivos e em contextos que partem da estrutura social
como um todo para entender o detalhe; enquanto outros olhares fazem o sentido
oposto, vendo a sociedade como um conjunto de interações recorrentes e de relações
consolidadas, uma perspectiva “do particular para o geral”. Porém, hoje em dia,
devido a simultaneidade de tempo, há um predomínio do presente sobre a
história. E até sociólogos mais voltados para relações sociais, como Thompson (1998)
se referem aos meios de comunicação como uma ‘interação mediada’ ou ainda
Giddens (2003) que, a partir da lógica das interações em uma leitura
fenomenológica das práticas sociais, descontrói e flexibiliza o conceito de
estrutura social em regras e princípios relativos.
Para responder nossa questão central,
que é o que fazer com que fizeram conosco,
isto é, como interagir com nosso condicionamento de forma ampliar nossa
liberdade, três pensadores são particularmente úteis: Goffman, Vygostsky e
Landowski.
Erving Goffman é um analista das
interações, do que acontece quando duas ou mais pessoas se encontram face a
face. ‘Inter-ação’ é uma relação mútua e recíproca entre o Eu e o Outro (dentro
de mim). Os especialistas (Nizet e Rigaux, 2016) indicam que ele estuda a
interação através de quatro modelos: o teatro, o ritual, o audiovisual e o
jogo. Além do Eu e do Outro, existem também no campo das interações uma audiência,
um público, os olhares que apenas observam a ação dentro do jogo das
interações. E, havendo público, há também o palco e os bastidores; o espaço de
exposição e os locais de recolhimento[4].
Vygotsky e seus seguidores (1988)
também levam em conta o condicionamento do meio externo combinado ao aspecto
cognitivo, através da mediação da escola e do professor e das interações dos
alunos entre si. Suas contribuições são extensas não só para pedagogia, mas
para psicologia como um todo.
Para nós, o ponto mais importante é o
conceito de Zona Proximal de Aprendizado, que consiste em uma janela de tempo
entre um ponto de conhecimento real e um ponto de conhecimento potencial. Posso
observar uma pessoa andar de bicicleta e me sentir capaz de também fazê-lo,
porém, apenas após de algum treino poderei realizar na prática meu pensamento
inicial. Essa janela entre o conhecimento cognitivo primária e o conhecimento
comportamental adquirido é um intervalo de treinamento, em que várias práticas
parciais ou andaimes’ podem ser executados.
E, finalmente, a Semiótica das Interações (Landoski, 2014) – que permite que se associe a perspectiva estrutural à ótica fenomenológica ressaltando os ajustes e os riscos. A teoria sócio semiótica é formada por quatro regimes distintos de interações: a programação (a interação sempre constante e contínua, um algoritmo regular objetivo); a manipulação (a interação inconstante e contínua); a interação de ajuste (constante e descontínua); e o fator imprevisível (o aspecto inconstante e descontínuo).
Landowski considera que os dois regimes de programação e manipulação não existem de forma independente, que estão sempre intricados um no outro, mas os distingue metodologicamente como modos de interpretar, como a combinação de um modelo estrutural determinista como uma abordagem fenomenológica da intencionalidade; do condicionamento social do comportamento corporal com o desenvolvimento da autonomia subjetiva dos atores. E essa duplicidade complementar das perspectivas comportamentais e cognitivas pode ser adaptada ao conceito de Zona Proximal de Vygotsky.
Os regimes de ajustamento e risco
também são indissociáveis. O ajuste mede e compensa a dissonância entre
cognitivo e comportamental; o risco desafia sua superação. E essa duplicidade
complementar dos regimes de ajuste e risco corresponde aos elementos descritos
narrados por Goffman. Além disso, o diagrama de Landowski permite visualizar
que, no lado de cima e de fora, o aleatório é uma ruptura na regularidade; e,
no lado de baixo e de dentro, o ajustamento compensa a Si pelo Outro enquanto a
manipulação adequa o Outro a Si.
Os regimes de interação da sócio
semiótica permitem trabalhar as abordagens de Goffman e Vygotsky integradas,
observando a interpretação imediata como estratégia de investigação, o duplo
caráter cognitivo e comportamental e o conceito de zona proximal como uma
janela de aprendizado, formada por ajustes e riscos diversos. E essas são as
nossas ferramentas de libertação do condicionamento.
4.
CONCLUSÃO
As pessoas não decidem seus futuros. Decidem seus
hábitos e seus hábitos decidem seus futuros. Frederick Mattias Alexander.
A profecia marxista de superação
definitiva do conflito entre o determinismo e o idealismo não vingou. Aliás, a
contradição continuou dentro do próprio marxista com autores mais deterministas
(como Poulantzas e Althusser) e outros mais idealistas (como Gramsci e Sartre).
Na psicopedagogia, o conflito ganhou força, por um lado, com o movimento
behaviorista (e também com autores como Foucault e Bourdieu); e, por outro, com
o movimento cognitivista e o interacionismo simbólico.
A reunificação dos contextos estruturais
em uma perspectiva proposta por Bourdieu também não prosperou, porque as
práticas sociais dos agentes coletivos variam segundo a cultura e os valores
individuais. Bourdieu pensou as práticas sociais engendrada pelo
cooperação/competição dos agentes em torno da disputa de diferentes tipos de
capital (econômico, cultural, simbólico), em diversos campos específicos
simultaneamente. Pode ser uma forma interessante de descrever as mudanças nas
disputas entre agentes coletivos (classes, instituições, grupos sociais), mas
não funciona bem quando o assunto são as mudanças pessoais e interpessoais. E
mesmo pequenas mudanças pessoais – “parar de fumar”, por exemplo – depende muito
mais do ambiente e relações do que da vontade individual.
É como diz a conhecida prece: “Força
de vontade para mudar o que pode ser mudado; humildade para aceitar o que não
pode; e consciência para discernir entre as duas”. O que pode ser mudado, os
40% das sinapses móveis entre os neurônios, é a Personalidade. E os outros 60%, formados pelos circuitos cerebrais
fixos, é a Individualidade[5]
(Silva, 2009), nossa ‘infraestrutura’ genética. A Personalidade é uma ‘superestrutura’
de identidade construída por nossa consciência para atender às expectativas dos
outros[6].
Bibliografia
BOURDIEU. Pierre. PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria
do sistema de ensino. Petrópolis: Vozes, 2014a.
BOURDIEU. Pierre. PASSERON, Jean-Claude. Os herdeiros: os estudantes e a
cultura. Florianópolis: Editora da UFSC, 2014b.
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp, 2000.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2009,
GIDDENS, Anthony. O
Mundo em descontrole – o que a globalização está fazendo de nós. Rio de
Janeiro: Record, 2003.
GOFFMAN, Irving. A Representação do Eu na Vida Cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1985.
GRAMSCI, Antônio. Cadernos
de Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
HABERMAS, Jürgen. Teoria do Agir Comunicativo: Racionalidade da ação e racionalidade
social. Vol. I e II. São Paulo. WMF Martins Fontes, 2012.
LANDOWSKI, Eric. Interações Arriscadas. Tradução de Luiza Helena Oliveira da Silva.
– São Paulo: Estação das Letras e Cores: Centro de Pesquisa Sociossemióticas,
2014.
LENIN, Vladímir Ilitch. O Estado e a revolução: a doutrina do
marxismo sobre o Estado e as tarefas do proletariado na revolução. São Paulo:
Boitempo, 2017
MARX, Karl. MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política.
São Paulo: Martins Fontes, 1977.
MEAD, George Herbert. Mente, self e sociedade. Edição definitiva. Charles, W. Morris.
Morris, notas de Hans Joas e Daniel Huebner. Petrópolis: Vozes, 2021.
NIZET, Jean; RIGAUX, Natalie. A Sociologia de Erving Goffman.
Tradução Ana Cristina Arantes Nasser. Petrópolis: Vozes, 2016. (Coleção
Sociologia: pontos de referência)
PRIMO, A. F. T.; CASSOL, M. B. F.
EXPLORANDO O CONCEITO DE INTERATIVIDADE: DEFINIÇÕES E TAXONOMIAS. Informática na educação: teoria &
prática, Porto Alegre, v. 2, n. 2, 1999. DOI: 10.22456/1982-1654.6286.
Disponível em: <https://seer.ufrgs.br/index.php/InfEducTeoriaPratica/article/view/6286>
Acesso em: 28 de março de 2024.
SARTRE, Jean-Paul. Crítica da razão dialética: precedido por questões de método. Rio
de Janeiro: DP&A, 2002.
SILVA, Flávia Gonçalves da. Subjetividade,
individualidade, personalidade e identidade: concepções a partir da psicologia
histórico-cultural. Psicologia da
Educação, São Paulo, 28, 1º sem. de 2009, pp. 169-195. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/psicoeduca/issue/view/2179>
Acesso em: 28 de março de 2024.
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade – uma teoria social da mídia. Petrópolis:
Vozes, 1998.
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Martin Claret, 2004.
VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A.
N. Linguagem, desenvolvimento e
aprendizagem. São Paulo: Ícone Edusp, 1988.
[1][1]
Outra forma de caracterizar a ortodoxia leninista é dizer que ela é
equidistante às éticas weberianas, se colocando entre a ética da
responsabilidade (em que ação social é orientada por objetivos) e a ética da
convicção (que compreende a ação social orientada por crenças e valores). O
leninismo está sempre à esquerda da responsabilidade e à direita das
convicções.
[2]
A internet e a telefonia móvel também promovem uma renovação ampliada desta
injustiça!
[3]
O objetivo da educação nessa versão é aprender a se colocar no lugar dos outros
- tanto no desenvolvimento pessoal como na perspectiva de evolução humana.
Quando estabelecemos uma relação interpessoal com alguém, temos roteiros
prontos que devem ser seguidos durante o processo. Dependendo da reação do
outro, alteramos o roteiro em função da interação (é o “role-taking”, um
mecanismo de interação não proposital). Além dos outros imediatos da interação,
considera-se também o Outro generalizado, correspondente ao grupo social como
um todo, envolvendo os valores e comportamentos naturalizados na sociedade.
Mead vê três instâncias de identidade: o I (eu), o me (mim) e o self (o si
mesmo).
[4]
O palco é composto por quatro elementos: a) expressões explícitas (comunicação
verbal), b) expressões indiretas (gestos, faces, posturas corporais), c)
objetos (figurino, acessórios) e d) cenário (representando os contextos). Há
dois níveis de representação da interação. O primeiro é o imediato: um
professor e seus alunos – por exemplo. No segundo nível, representa-se o
conjunto dos professores diante da juventude. O segundo nível de representação
é a própria realidade social simbolizada no interior da interação. Outra
distinção chave é entre o palco (a visibilidade púbica) e os bastidores (muitas
vezes comparado ao inconsciente). A dicotomia é vista de forma semelhante ao
par figura/fundo da teoria da imagem da Gestalt. O fundo é tudo o que está fora
de foco. A figura é o foco da percepção.
[5]
Ter filhos, grandes amores, mortes de parentes e outras perdas também podem
provocar pequenas mudanças na Individualidade.
[6]
A função da Personalidade é interpretar a Individualidade e não a esconder ou
reprimir. É como uma vitrine que apresenta ao conteúdo da loja, não adianta
quebra-la ou subtraí-la, é preciso reorganizá-la. Atores e atrizes de teatro
costumam ‘se trabalhar’ escolhendo personagens com aspectos semelhantes aos de
suas personalidades, como uma forma de reinterpretá-los e superá-los, além de
lapidar a própria Individualidade.